quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Muito mais que meras....

Lá vamos nós outra vez brincar com as palavras! É isso que a gente mais fez e faz no dia-a-dia da academia: puxar e esticar as palavras, de modo a adequar nossa linguagem e usá-la para estudar e expor a linguagem da Palavra Divina. A isso podemos chamar Teologia: essa habilidade de fazer festa com as palavras, porém desenvolvendo uma profunda reverência e temor à Palavra. Mas, pra mim, falar de teologia é falar de vida, então falemos um pouco da vida.
Cada um de nós tem histórias pra contar sobre nossas vivências, sejam elas engraçadas e alegres ou sejam tristes; para fazer rir ou fazer chorar, e quem sabe os dois ao mesmo tempo. Afinal, é disso que é feita a vida, de vales e montanhas (alguns discordarão), de muita cor ou de contrastes cinzentos. E quando todos estes momentos se misturam, então, que maravilha! Pronta está a matéria-prima da teologia, e é aí que a gente entra, nisso está a beleza da coisa, em não querer separar o que Deus, tantas vezes, uniu.
Não podemos simplesmente suprimir esses momentos, pois teologia não se faz apenas em sala de aula, nos gabinetes pastorais ou nas bibliotecas, mas acontece nas biografias de cada um, nos diversos lugares em que elas se constroem, na cozinha, no supermercado, no quarto escuro, nos parques de diversão, nas favelas, nos edifícios, nas aglomerações cotidianas, nas conversas particulares, nas brigas e desavenças, nos abraços apertados, nos sorrisos e nas lágrimas, nos cafés da manhã, nos becos da vida e, como não dizer, na igreja – que pode ser tudo isso, que é tudo isso. Não se teologiza a partir do passado; no instante do vivido é que a teologia começa, e então chegada é a hora de se entregar mais e mais nos seus caminhos, pois, onde quer que existam rastros das pegadas Divinas, nos lugares e situações mais inusitadas, formar-se-ão passagens para nós, teólogos e teólogas.
E a estes (as), uma última palavra de motivação e encorajamento: não se conformem jamais. Mantenham essa santa inquietação e rebeldia, que não nos permite desenvolver nossos ministérios numa acomodação quieta e morna. Se permitirmos, hoje, uma vez mais, sermos afetados por Deus, então seremos guiados na estrada de suas, sempre novas, loucuras! E que privilégio fazer parte da trama de um Deus tão Sábio, mas que se fez louco para não deixar-nos perdidos nas doidices desse mundo e para ensinar-nos a verdadeira sabedoria. Ele escolheu os loucos.
Portanto, sejamos loucos, sejamos sábios, pela Graça de Deus, como nas palavras do sábio-louco teólogo J. Urteaga: “A vida é um jogo em que sempre ganham os enamorados... não há nada de inútil na vida. As contrariedades, os obstáculos, esses conhecimentos que, pelo sentir geral dos homens, trariam consigo um sinal – na luta pela vida, podemos convertê-los em sinais (da cruz +), traçando fortemente a vertical do nosso desejo”.

Jonathan

3 comentários:

Robinson J. De Souza (Roberas) disse...

Palavras que ao serem esboçadas pela reflexão da nossa solitária caminhada(você sabe pq, não é mesmo?!), se faz práxis e sentido de vida para aqueles que necessitam do sentido lato da palavra, o Cristo Verbo.

abraço...
Continue transgredindo

Carlos Xavier disse...

Muito legal seus textos, nem dá pra comentar todos.
Este veio calar meu coração no dia de hoje, marcado pela incerdulidade e desânimo por me achar tão inconformado com algumas "ordens".
Me faz bem pensar e sentir a teologia de maneira tão inclusiva como vc coloca. Tão diversa e porque não dizer desorganizada no seu sentido da dinâmica criativa.
"Mais que meras palavras" é uma resposta a religiosidade fundamentalista, comentada por vc em posts anteriores.
Fico apaixonado em pensar e sentir o amor de Deus pela vida, pelo ser humano e seus dilemas.
Fazer teologia a partir da vida, ouvindo o coração, o mundo, dá muito tesão.
Fazer das palavras, e da Palavra, fonte de vida e inspiração, é o que há de mais precioso, exceto a prática do amor.
Valeu bichão, vai pensando em lançar uma coletânia do blog, vai ser um lance legal.
Abraço
PC

Jonathan Menezes disse...

Obrigado, Roberas e Carlão, pelos comentários e a contribuição de vocês. Não pode existir mais esse negócio de leitura teológica sem uma leitura crítica do cotidiano. Por isso leio o blog de vocês, hehehe...
Abraços!