domingo, 26 de outubro de 2008

Semanal de Amsterdam (VIII): Deus é bom em todo o tempo!

Esse semanal será o mais curto de todos. Só escrevo para dizer que essa simples confissão de fé me arrebatou mais uma vez essa última semana. E tudo simplesmente porque parei para pensar como Deus tem sido bom comigo nesse último ano. Quantas portas ele tem aberto sem que eu mesmo peça e nem imagine, ou mesmo quantos presentes Ele me deu sem que eu mesmo pedisse. A frase de Simone Weil me “caiu como luva”: Não recebemos os grandes presentes da vida correndo atrás deles, mas esperando por eles.

Estar nessa cidade, vivenciando tudo o que tenho vivenciado, e relatado aos poucos aqui, certamente é um desses grandes e inesperados presentes. Uma das marcas que certamente ficarão em minha vida é poder me relacionar com pessoas de praticamente todo o mundo representadas num grupo de apenas 13, que é a turma do Bridging Gaps. É prazeroso ver que tem gente boa de Deus em todo lugar, além de experienciar a diversidade de um modo tão rico, seja por meio dos mal-entendidos (que acontecem direto, é muito comum a pessoa falar A e você ouvir ou entender B, e vice-versa) como também do comum entendimento de que somos iguais em Cristo: não há judeu, nem grego, nem homem, nem mulher, negro ou branco, escravo ou livre, e assim por diante (Gl 3.28).

Ao mesmo tempo, fiquei pensando em como minha constatação de que Deus é tão bom muitas vezes está condicionada pelas circunstâncias de vida. Tipo: Deus me presenteou com um carro, e isso significa que Ele é muito bom. Mas, e para aquele a quem Ele não presenteou, será que a afirmativa é a mesma? Quando tenho um emprego maravilhoso, onde faço e que gosto e ainda recebo muito bem, digo: “puxa como Deus é bom!”. Mas, e se eu estiver desempregado e passando por dificuldades, terá Deus ocultado sua bondade? Nossa percepção da bondade de Deus é dualista e focalizada em nós mesmos. Ano passado, quando vivenciei experiências de sofrimento e angustia, será que meu coração tinha a mesma disposição para dizer: Deus é bom em todo o tempo?

Estou repetindo o óbvio, porque o óbvio é, paradoxalmente, o mais difícil de ser vivido. É óbvio que Deus me ama, e é óbvio que Ele é bom em todo tempo, mas será igualmente fácil repetir de modo prático essas sentenças no troca-troca de situações de vida, em especial, da vida cristã? Poderemos dizer como Paulo: Pois eu estou bem certo, de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura, serão capazes de nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor? (Rm 8.38-39). Que o Senhor nos ajude para que nossas confissões acerca de seu amor e bondade sejam cada vez mais desafetadas pelo tempo, as circunstâncias e as marcas deixadas por algumas delas.
Ps. Não sei quando será o próximo semanal. Estou indo pra Londres, Roma, Paris. Depois volto a Amsterdam. Se conseguir escrever algo de lá, postarei aqui. Senão, até a volta amigos!

Jonathan
Foto: Trem em movimento

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Adestramento evangélico

Você tem certeza de sua salvação? Bem, se você é evangélico e não tem, então é melhor começar a ter, pois na igreja evangélica brasileira, em geral, quem não tem esse tipo de “certeza” está fadado a ter sérios problemas. O primeiro problema é ser aceito como membro de uma igreja. Em muitas delas, para estar apto a se tornar membro, a pessoa tem de se sujeitar a uma bateria de “exames” de admissão, sendo que em algumas, isso começa com o que agora chamam de “Encontro com Deus”, que consiste em alguns dias de refúgio para ter um encontro mais do que especial com o Divino – e, é claro, para isso é preciso se apartar da convivência com os outros! – o que em muitos casos implica em conversão, outros em re-conversão (ou re-batismo). Isso mesmo, independente dos anteriores encontros que supostamente a pessoa tenha tido com Deus, para se tornar membro da Igreja X ela precisa passar pelo crivo da “verdadeira conversão” a Jesus, na visão daquela comunidade. Mas é claro que ninguém colocaria isso assim dessa forma. Há outras formas mais politicamente corretas de se colocar, tipo (o mais comum): “É um processo que a pessoa passa para se integrar à visão da nossa igreja”.

Depois do encontro, a pessoa passa por uma classe pré-batismal – casais que vivem juntos, mas não casados legalmente nem chegam a esse estágio, pois são considerados inaptos logo de cara – quando ela será introduzida à “doutrina” a qual passará a professar e, obviamente, será submetida à outra bateria de provas até que chegue ao batismo. Em meio a toda essa “burocracia espiritual” (alguns diriam “lavagem cerebral”), o novo crente – ou “novo” pelo menos para a Igreja X – certamente se deparará com a tão crucial pergunta: “Você tem certeza de sua salvação?”. E, evidentemente, a resposta de todo mundo é sempre “sim”. Mas minha duvida capital aqui é: e se a resposta fosse “não”, ou “não estou muito certo ainda”? Tal pessoa, assim, não estaria apta a se juntar a Igreja X? E se não, por que não? Quero dizer, que diferença faz na economia da salvação (pela graça) se sempre tenho certeza ou não? E, afinal de contas, o que significa “ter certeza”?

Bem, alguém a essa altura pode estar se perguntando: será que esse cara não sabe que a fé é “a certeza das coisas que não se vê”? Sim, eu responderia. Mas que certeza é essa, cara-pálida? Seria assim uma certeza que não admite incertezas ou dúvidas, do tipo: “tudo bem, creio na salvação, mas ajuda-me na minha falta de fé”? Tipo, às vezes penso que certas perguntas não passam de retórica barata, pois elas têm um único endereço, caixa postal, fora da qual nada é admissível e tudo está errado. Mas, ora essa, se às vezes lamento, se tenho dúvidas, se nem sempre estou tão certo, ou quem sabe convicto, mas abalado, e de alguma forma tento expressar isso, é porque (1) sou humano e (2) porque sou honesto para admitir tudo isso.

Isso significa que não tenho fé? Não. Significa que a minha fé está se fortalecendo por meio das crises. Implica que não sou um “verdadeiro salvo”? Não – afinal, qual de nós seria capaz de separar salvos de não salvos? Esse negócio de verdadeiro salvo, puro evangélico ou 100% cristão é idiotice! Esqueça isso, e se afaste desse tipo de demência espiritualista, para o bem da sua alma. Implica, eu creio, que, embora já tenha sido salvo, continuo sendo salvo de meus muitos desvios e descaminhos, e reconduzido, tal qual o pródigo, à casa do Pai pela graça de Cristo, que nunca me é sonegada, mesmo quando minha resposta for: “não tenho muita certeza”, mas sinceramente quero ter. Pois, se alguém já está plenamente certo e seguro de tudo, para que precisa de graça? O caminho para a honestidade com Deus – contra toda forma e “adestramento” – é reconhecer que não somos, estamos sendo, que não nos tornamos, mas estamos nos tornando, dia após dia, em meio a avanços e reveses, na fornalha da transformação de Deus, que não está interessado na resposta pronta de lábios adestrados, e sim em tudo o que somos com tudo que isso implica.

Jonathan
(No trem, de Groningen à caminho de Amsterdam)

domingo, 19 de outubro de 2008

Semanal de Amsterdam (VII): Sementes de esperança

Os leitores desse blog certamente sabem de minha grande apreciação pela vida e obra de Henri Nouwen. Senão, basta reler alguns posts antigos para perceber o quão fundamental em minha caminhada foi e tem sido os escritos e o exemplo desse padre holandês. Pois bem, por estar morando em sua pátria de origem, não poderia deixar de procurar vestígios aqui sobre ele. Encontrei seu irmão, Laurent Nouwen, que foi muito simpático e me convidou para uma palestra que aconteceu em Utrecht, cidade próxima a Amsterdam, no dia de ontem, como continuidade a um série de palestras que a Henri Nouwen Society aqui na Holanda tem promovido. O tema, obviamente, foi espiritualidade, e a convidada da vez, para minha surpresa, foi uma brasileira, a teóloga Ivone Gebara, que trabalha com os pobres dos pobres em Recife há muitos anos. Apesar de suas dificuldades com o inglês, Ivone foi muito feliz em sua palestra, e bastante insistente em dizer repetidas vezes que espiritualidade não é somente isso ou aquilo; é isso, aquilo e muito mais (ela usou muito a expressão “more than that”).

Duas palavras a respeito: a) Às vezes pensamos que certas concepções são privilégio de um grupo e, se observarmos bem, logo perceberemos que isso não é verdade. Há muitas pessoas que pensam e agem de formas muito parecidas, mas utilizando linguagens diferentes. Assim é com a questão da “espiritualidade integral”, conceito diluído em exemplos ricos de vida expressos na fala de Ivone; b) nesse sentido, a espiritualidade não se resume a um cantinho separado da vida o qual dedicamos a Deus, mas é a própria vida vivida integralmente na perspectiva de Deus. Logo, espiritual não é somente algo relacionado à disciplinas espirituais (como oração, jejum, etc.), pode ser também uma conversa sincera, uma corrida no parque, um dia duro de trabalho, e assim por diante. Deus não nos ama e nem nos enxerga em compartimentos, tampouco nos criou para isso. É sinal de esperança ver que pessoas como Ivone partilham desse mesmo sentimento e têm espalhado a vida de Deus por aí, espontâneamente.

Hoje visitamos alguns trabalhos de diaconia na cidade de Amsterdam, a maioria deles relacionados com acolhimento, hospitalidade e reintegração de pessoas marginalizadas (desabrigados, imigrantes ilegais, drogaditos). Trabalhos como o do Exército da Salvação (Salvation Army). Visitamos uma das casas para os “Homeless”, que é como chamam em inglês as pessoas desabrigadas. Me impressionou ver na fala de uma jovem que trabalha no local tanta maturidade e sensibilidade ao dizer que “essas pessoas são pessoas como nós”, logo o ato de compaixão é mais que um “dever cristão”, é o ato de me enxergar no outro e perceber que nada do que é humano me pode ser estranho. Mesmo numa sociedade opulenta (endinheirada, materialmente abastada) como a sociedade holandesa, existem os sem-tetos, os sem-visto, os marginalizados, que o governo faz um grande esforço pra manter longe dos olhos turísticos, mas que estão por aí. Me tocou também ouvir de um pastor da igreja Victory Outreach Amsterdam, dedicada a alcoólicos e drogaditos em processo de reabilitação, que “aqui tratamos as pessoas como pessoas”. Sentença simples, mas muito significativa numa sociedade que tende a identificar o “outro” por sua condição ou posição na socidade – o negro, o latino, a mulher muçulmana, o asiático, o imigrante, etc, em detrimento do “puro” holandês.

Por fim, me impressiounou a honesta confissão de Erika, da equipe da “The world one house” - um lugar de encontro e ajuda de pessoas sem documento válido para permanência legal na Holanda. Ela disse que as pessoas na sociedade holandesa são materialmente equipadas para não precisar de mais nada além de si mesmas. Logo, figuram entre os homeless, os “Godless” (os sem-Deus), que cresceram num lar religioso certamente, mas que não vêm nenhuma conexão entre a vida que levam e a necessidade de servir ou de viver pra Deus, ou de seguir a religião de seus pais. A rejeição dos jovens de Amsterdam em relação a Deus é pior que a de Londrina, minha hometown, por ser considerada a cidade mais secular da Europa, mas diria que não estamos muito longe de tal realidade. Fico me perguntando o que podem ser sementes de esperança em contextos como esse? O que fazer para que as novas gerações possam se aproximar do evangelho? Como reconstruir as pontes de contato, perdidas no processo maciço de secularização e na lacuna existente entre gerações? Perguntas que a Igreja na Holanda precisa tentar responder de forma prática e rápida. E creio que as mesmas questões, em diferentes proporções, também sejam válidas para a Igreja em Londrina e nas grandes cidades do Brasil.
Jonathan

Foto: Com Laurent Nouwen e Ivone Gebara em Utrecht

sábado, 18 de outubro de 2008

Honesto com Deus

Rob Bell é um pastor norte-americano, líder da Mars Hill Church. Um controverso e ao mesmo tempo muito bem aceito comunicador da Palavra nos dias de hoje entre os norte-americanos, por sua versatilidade metafórica e criatividade com a qual fala sobre Deus e sobre o ser humano. Também porque a maioria de suas mensagens têm uma veia existencialista, e que procura atingir não apenas o intelecto, mas também o coração das pessoas. Foi uma grata descoberta pra mim nos últimos tempos, em meio a tanta baboseira que leio e escuto quando o assunto é fé, especialmente entre os evangélicos.

Nessa mensagem ele toca num dos temas para mim muito caros que é o da honestidade. Fala sobre ser honesto com Deus e sobre a oração como a própria vida. Honestidade, nesse sentido, é a irmã-gêmea da lucidez e de uma vida com Deus e com as pessoas mais saudável e livre. Gostei demais de uma das partes do vídeo, quando ele fala que Deus pode lidar com nossas confissões mais honestas, por isso não precisamos temer falar qualquer coisa pra Ele com medo de que "Ele possa não aguentar".

Já escrevi demais, como sempre. Assistam, vale a pena.

Até mais!

Jonathan

domingo, 12 de outubro de 2008

Semanal de Amsterdam (VI): Os leitores ordinários

1.
Começo dizendo que esse título ("leitores ordinários") não é uma ofensa aos leitores desse blog. É a melhor tradução que encontrei para a expressão em inglês “ordinary readers”, que designa os leitores comuns, simples, da Bíblia. Depois de seis semanas, meu repertório sobre Amsterdam está acabando. Talvez precise sair e ver mais coisas, o que certamente acontecerá. De qualquer forma, a cada semana é um prazer sentar aqui e “conversar” um pouquinho com vocês sobre o que tem se passado comigo aqui. E esse foi um dos conceitos, como diz meu irmão de caminhada Marco Antônio, que “bateu e ficou”. Já retorno a ele e quero explicar por que. Antes, quero falar um pouco do sentimento e da “posição” de teólogo.
2.
Uma das conseqüências primárias de se tornar parte do mundo da teologia é começar a fazer distinções, que na maioria das vezes têm a ver com capacidades ou habilidades (ou a ausência de ambas) para realizar essa ou aquela tarefa. Refiro-me ao campo eclesiástico, e a diferenciação entre sacerdotes e leigos e as muitas capilaridades que envolvem esses dois grupos. Entre eles (e muitas vezes “acima”) está o teólogo ou a teologia. O teólogo, dentro dessa categorização, é aquele douto no ramo da teologia, que nem sempre é um sacerdote, mas dificilmente gostaria de ser lotado entre os simples leigos. Isso me faz lembrar a clássica pirâmide social medieval: no topo estão os oratores (clero), em seguida vêm os belatores (nobreza), e por fim aparecem os laboratores (os servos). Somos, assim, herdeiros dessa estrutura piramidal que valoriza e exalta a hierarquia. Quem não respeita a hierarquia num país como o Brasil, por exemplo, pode estar fadado a ouvir a famosa expressão: “Você sabe com quem está falando?”, que quer deixar bem claro os “lugares” ocupados por cada um.
3.
É claro que o mundo tem avançado em direção à subversão desse modelo, inclusive o mundo eclesiástico. Mas avanço ou retrocesso são palavras relativas ao contexto. Nos anos 70 a teologia da libertação, inspirada pela reforma no Vaticano II, veio com uma proposta “diferente” através de sua teologia e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que procurava abolir esse abismo entre sacerdotes, teólogos e leigos. Logo, numa CEB todos são leigos e todos são sacerdotes (no sentido bíblico), ao mesmo tempo em que todos são teólogos. Certamente essa foi uma expressão prática e um avanço rumo a uma maior igualdade. Mas a pergunta que não quer calar é: como nós, teólogos, lidamos de fato com as “exegeses” espontâneas dos “ordinary readers”? Em outras palavras, como um exegeta, que pretende revelar através de técnicas acadêmicas os sentidos de um texto, pode lidar com interpretações de leitores para os quais a Bíblia não é um objeto de estudo profundo, mas apenas o “kerigma”, a revelação e proclamação da Palavra Divina?
4.
Uma das posturas acadêmicas contemporâneas (a literária) tem postulado que os sentidos não são dados, mas são construídos. Logo, pode haver tantos sentidos quanto são os leitores. Aqueles teólogos que se vêm como “árbitros do significado” rebaterão contra essa postura e contra a multiplicidade dos significados que brota das muitas leituras da Bíblia, a maioria delas procedida por leitores comuns, que constroem suas interpretações espontaneamente. Mas quem foi que outorgou a nós teólogos o direito de arbitrar sobre verdadeiros ou falsos significados? Quem nos colocou no posto de paladinos da verdade absoluta? Essa experiência de “leitura intercultural” aqui em Amsterdam tem reforçado minha visão de que não há interpretação inválida, há apenas interpretações diferentes e que precisam ser respeitadas em sua singularidade, quer concordemos com elas ou não. E isso reforça ainda a percepção de que todos precisamos ser teólogos, à medida que aceitamos seriamente esse duplo desafio de viver e pensar a nossa experiência de fé à luz da revelação de Deus, que se expressa não apenas no verbo, mas em sua contínua encarnação. Isso deve nos desafiar ainda a repensar a maneira como muitas vezes discernimos nosso lugar no Reino de Deus e aceitamos nosso chamado.
5.
O texto de 1Coríntios 1.26-31 nos convida a olhar e repensar isso. Ei-lo na tradução “The Message” (Eugene Peterson): “Take a good look, friends, at who you were when you got called into this life. I don't see many of "the brightest and the best" among you, not many influential, not many from high-society families. Isn't it obvious that God deliberately chose men and women that the culture overlooks and exploits and abuses, chose these "nobodies" to expose the hollow pretensions of the "somebodies"? That makes it quite clear that none of you can get by with blowing your own horn before God. Everything that we have—right thinking and right living, a clean slate and a fresh start—comes from God by way of Jesus Christ. That's why we have the saying, "If you're going to blow a horn, blow a trumpet for God”.
No amor e temor de Cristo.

Jonathan

Foto: "Púlpito" (Igreja San Nicolás, Amsterdam)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

João 4: Interpretações espontâneas (II)

Essa foi a forma como meu grupo contou a história de João 4: através de um poema que escrevi. Não tenho muita vocação para poemas, muito menos em inglês, e nem sei se isso pode ser visto como um poema - os poetas que me perdoem. Entretanto, até que a turma gostou... Compartilho com vocês abaixo!
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1.
A traveler came on tired and thirsty from his long journey. In his hands there was a mission to complete, and he decided to go through that foreign land. Although all the barriers existents between his people and the others whom he was going among. There was a big and revolutionary message to spread, which was much more strong
2.
So the thirsty man went to the fountain, desiring to find some water. A woman also appears, and what more can be expected of this encounter? He, the strange, starts a conversation showing his vulnerability. And what an awkward request, she realizes: what made him thinks that this would be my responsibility?
3.
Oh, there was much more than thirsty behind that first demand. He asked for the natural first, to offer the supernatural then. The matter was not just supply a necessity, not even it’s quarter. That request was more to say that in the very deep heart of the life matters, exists a everlasting and living water
4.
She was a bit confused, and he asked to her: call your husband! And then came on a striking revelation: there were five husbands before, and she was living with another man in an other situation. Something started to seem quite special in that strange person in front of her. He was more than a simple man; who knows if he was not a prophet then?
5.
A prophet, here? I have to make this worthwhile now, she reflected. What does can be more unexpected? A religious theme was picked up, and then a question was born. Which is the right way to worship: in our traditional mountain or in the temple of the Lord?
Another revelation arose: in worship there is no right place or wrong! No matter, who you are, or the people that you are belong. God is Spirit, Truth, Life! In Him we can be one and be together, and that’s all that really matters.
6.
Living water, worshiping in Spirit and Truth. All that conversation remained the Messiah, the God’s Chooser One who was supposed to come. If this was really truth, if is really him The One, she thought, now I know that we are not more alone. What might to say? What more to be expected? The city crowd now knows, through the myriads of her expressed feelings and doubts, what the Jesus’ Gospel wanted to show.
7.
The God’s Words never comes back empty and are never lost! There are no boundaries, no even one, which the Gospel cannot cross!

Jonathan

João 4: Interpretações espontâneas (I)



Vídeo produzido por um dos grupos de estudantes em nossa apresentação final da classe "Intercultural Bible Reading and hermeneutics", ministrada pelo prof Hans de Wit, na Vrije Universiteit Amsterdam. Gostei demais!!!

Jonathan

domingo, 5 de outubro de 2008

Semanal de Amsterdam (V): relances e espaços de liberdade

Now the Lord is the Spirit, and where the Spirit of the Lord is, there is freedom” (2 Corinthians 3.17).

Não é estranho a ninguém que relativamente acompanhe aquilo que escrevo ver mais uma reflexão sobre a liberdade e suas múltiplas facetas. Todavia, quero que vocês estejam certos (as) de que nessa semana não fui eu quem foi atrás desse tema, mas ele é que outra vez “caiu no meu colo”. E tudo aconteceu na última sexta-feira (03), na aula “Text and Context” ministrada pelo Prof. Hans de Wit. Foi um dia especial, pois recebemos um grupo de professores e estudantes de teologia de Cuba, na intenção de que eles compartilhassem um pouco de seu contexto e o que significa fazer teologia lá, ao mesmo tempo em que pudéssemos responsivamente aos relatos levantar um debate, com perguntas e também comentários referentes ao contexto dos alunos do “Bridging Gaps”.
De cara posso dizer que foi a melhor classe “ever”, desde que cheguei aqui em Amsterdam. Em primeiro lugar, pelo clima de fraternidade e empatia que se estabeleceu entre nós e “nuestros hermanos” de Cuba, desde os primeiros minutos, quando um dos professores começou seu tocante relato sobre a situação política e social de Cuba, desde a transição de poderes entre os irmãos Fidel e Raul Castro, até as formas de pensar teologia decorrente ou em diálogo com seu contexto. Havia grande expectativa por parte da população quanto às possíveis mudanças que essa transição poderia acarretar. Porém, muitas das mudanças até aqui não passaram de simulacro. Raul assumiu o poder, mas Fidel ainda exerce grande influência nas tomadas de decisão políticas e tem encontrado formas sutis de exercer seu “poder simbólico”, como expondo suas opiniões em jornais e periódicos semanalmente ou até diariamente. Fidel é mais que um líder em Cuba; ele já se tornou um ícone popular, figura incrustada no imaginário da cultura daquele país, e ali figurará ainda por muito tempo...
Em segundo lugar, pelo aparecimento do tema da liberdade nas muitas falas e diálogos. Liberdade é sempre um conceito relativo e muito complicado no contexto de Cuba, por exemplo. A teologia da libertação assumiu esse tema nos anos 60 para declarar seu engajamento com as lutas sociais na América Latina, em especial com a causa dos pobres, associando isso à liberdade do Evangelho. Porém, em Cuba esse discurso seria encarado como algo “fora do lugar”. Teoricamente, desde a revolução cubana dos anos 50, não há mais pobreza – no sentido de grandes desigualdades sociais – e a libertação já foi instaurada. Mas é claro, não ser pobre em Cuba significa ter as condições mínimas de sobrevivência – alimentação, trabalho e um salário, que no Brasil seria visto como “salário de fome”. Assim, o que é afinal a liberdade para essa gente cubana? Um irmão disse: “Em Jesus Cristo me sinto livre. Por outro lado, em Cuba os líderes dizem: ‘você pode pensar e fazer o que quiser, desde que seus pensamentos e atos não atrapalhem nem contradigam a ordem estabelecida”. E citou a famosa frase dita por Fidel: “Dentro da revolução tudo; fora da revolução nada”.
Entretanto, o conceito de liberdade não é somente relativo em Cuba, mas em qualquer contexto. Já comentei um pouco em outros semanais sobre a tão celebrada liberdade da qual gozam os holandeses. E esse foi um tema também levantado no debate de sexta: como pode um povo que se julga tão livre, como o povo holandês, ser tão cheio de regras, como a de instalar câmeras de “segurança” por todos os lados (ruas, trens, bondes, ônibus, supermercados, etc.)? O “Grande Irmão” de George Orwell (1984) está por todos os lados aqui em Amsterdam, com seus enormes olhos, instaurando uma “liberdade vigiada”, por assim dizer. Zygmunt Bauman diria que não é possível se ter as duas, liberdade e segurança, ao mesmo tempo, sem que uma não acarretasse algum prejuízo a outra. Não existe nenhuma liberdade humana sem problemas, sem roturas, sem limitações. E é por isso que esse encontro foi tão marcante para mim. Primeiro, porque mais uma vez denunciou as fissuras da liberdade humana e a relatividade desse conceito; segundo, pois também oportunizou um espaço livre, onde tantas nacionalidades diferentes se reuniram a uma e na presença do Espírito para debater seus contextos e experiências à luz da fé, e também compartilhar de “sonhos de liberdade”, tão possíveis no Senhor.
Uma cubana disse: “Gostaria que as mudanças viessem de nós mesmos, e não de fora”. Outro disse: “Eu sonho que a igreja venha levantar sua voz intrepidamente contra essas características do sistema que são anti-Deus”. E por fim, outro irmão rogou: “Que a igreja possa criar espaços de liberdade como esse, onde se possa criticar e propor soluções abertamente sem medo de repressão”. Sonhos... Sonhos que fazem sentido tanto às mulheres de Mianmar, a quem são vetados muitos direitos humanos básicos em seu país, como ao povo de Cuba e a tantos outros. Como diria Jürgen Moltmann, a liberdade é paixão criadora pelo possível. E que continuemos criando e recriando possibilidades, na paixão pelo Evangelho e pelo poder do Espírito.
Um beijo e até a próxima.
Jonathan
Foto: (Bridging Gaps e os visitantes de Cuba, na Free University)