domingo, 31 de agosto de 2008

100... Jesus, não dá!

Gostaria de fazer desse centésimo post uma comemoração. Primeiramente dou graças a Deus por essa magnífica dádiva que é a de escrever. É uma comemoração porque Deus usa, muitas vezes, formas muito limitadas aos nossos olhos para abençoar a nós mesmos, e até mesmo para abençoar o outro. Esse blog tem sido canal de benção pra minha vida, porque aqui posso publicar sem censuras meus pensamentos, e sem medo de ser julgado, embora não possa dizer com toda segurança que não queira agradar a ninguém com aquilo que escrevo. É óbvio que desejo. Mas essa é uma forma um pouco mais livre de exercer a arte de escrever, sem editores e editoras te jugulando o tempo todo, sem agendas pra cumprir, sem convenções a respeitar. A única convenção aqui respeitada é a convenção da liberdade. Mas tem sido um canal de benção também a algumas pessoas, que têm me escrito, e outras quem sabe, anônimas, mas que de alguma forma por aqui passaram e de alguma forma foram impactadas.

Mas também desejo que esse post seja uma confissão de fé. Sou crente no Senhor Jesus Cristo, e posso dizer, como Caio Fábio disse certa vez no título de um de seus muitos livros, que seguir a Jesus é o mais fascinante projeto de vida. Fascinante porque é um projeto de Deus pra cada um de nós. E os projetos de Deus são fascinantes, porque são tão imprevisíveis quanto Jesus o era. Jesus não tinha uma respostinha pronta pra tudo. A resposta surgia na sabedoria do minuto, do vivido, da experiência, do contexto, da pessoa. O projeto de Jesus era viver intensamente sua opção ideológica. E a ideologia de Jesus era a ideologia de Deus: a reconciliação total do ser humano e da criação consigo mesmo, o que significa optar pela vida, com todas as implicações que isso requer. Ele optou pela vida entregando-se a morte. Paradoxal? Com certeza. Mas a vida, com os sabores e dissabores que lhe são inerentes, não é um paradoxo? E Deus, não poderia ser visto como Aquele que habita e intervém no meio desses paradoxos todos? Que muitos não concordem, aceitem ou creiam no jeito divino de resolver as coisas, isso é possível. O que não é possível é ficar indiferente a tão magnífica e incomparável prova de amor. É por isso que essa confissão de fé é incompatível com a religião, pois a religião é o refúgio dos indiferentes, dos cínicos, daqueles de aparência angelical, mas de interior corrompido.

Minha confissão é muitos simples, pois parte do simples reconhecimento de que sem Jesus, não dá. É uma confissão como a de Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna; ou a partir das palavras do próprio Jesus: Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Alguns confiam em carros, outros em dinheiro, poder, posição, conforto, segurança, em si mesmos, etc. Você pode confiar no que você quiser ou não confiar em nada. Nem a confiança relativa, nem a desconfiança são algo para Deus. Porque a fé é dom. Podemos acreditar ou não acreditar. Mas o crédito de quem acredita em Jesus, vive por ele e para ele, deve ser dado a Deus, que nos deu a dádiva da vida eterna, se Nele crermos e pela graça dele vivermos. A Ele seja a glória!

Jonathan
Ilustração: Cristo, de Rembrant

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Conversas sobre a Graça (II)

2. Você não tem que fazer nada pra ser salvo. Até aí OK. mas vc não deve viver como quem tem que fazer alguma coisa, pra não cair no risco de se achar salvo e levar a vida do jeito que quiser?

R: Essa é a discussão de Tiago, e um pouco a e Paulo. Tiago já havia dito que a fé sem obras é morta; com as minhas obras te mostrarei a minha fé, é isso que ele diz. Muitos espíritas inclusive se valem disso para basear seu apreço pelas boas obras, como se Tiago estivesse excluindo a operosidade da graça ao dizer o que disse. Não! Ele simplesmente está dizendo que com aquilo que faço posso demonstrar com mais legitimidade aquilo que creio, de um modo diferente daqueles que dizem “creio” com a boca, mas que têm uma vida bem diferente. Paulo também coloca seu bedelho na questão, quando diz que fomos salvos ou justificados não pelas boas obras, mas para as boas obras. Isso atesta o que Tiago disse. Boas obras são conseqüência e não razão de nossa salvação em Cristo. Manning não está negando o valor delas, mas apenas colocando-as em seu devido lugar, abaixo da graça!

3. Superar nossas fraquezas não é bom? O esforço pra isso é sempre inútil? Então pq oramos por isso? É Deus que vai fazer isso na minha vida sem que eu precise ter qq tipo de disciplina?

R: O esforço para superar nossas fraquezas só é inútil quando o fazemos na perspectiva de que podemos superá-las sozinhos. As disciplinas como oração, leitura da Palavra, jejum, etc, são essenciais, porque nos mantém ligados na vontade de Deus, revelada em sua Palavra. Contudo, também são inúteis, se pensarmos que Deus precisa delas pra fazer o trabalho dele. Se a oração é um jeito que eu dou pra que Deus me atenda mais rápido, então estou lascado. Precisamos aprender que a oração é a própria vida vivida na dependência de Deus; todos os sussurros, gritos de tristeza, brados de alegria, choros, risos, lamentos, agradecimentos, pedidos, se transformam em oração sem que necessitemos de algum ritual santo de purificação diária; isso porque, através de tudo isso e muito mais, é o espírito quem ora em nós, e conduz nossas orações até Deus. A oração deve ser o fruto do prazer que tenho na graça de Deus, e não o canal por intermédio do qual busco mais graça. Sugiro que leia essa meditação: http://escreveretransgredir.blogspot.com/2008/05/espiritualidade-da-honestidade.html
Sobre as fraquezas, também sugiro que releia o texto de Paulo (2Co 12.1-10).
Jonathan

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Conversas sobre a Graça (I)

Minha amiga Patrícia e eu temos trocado emails sobre o livro "O Evangelho Maltrapilho", que li há um tempo atrás e ela está lendo agora. Vou publicar aqui algumas das questões que ela tem me feito e as replicas por mim dirigidas.

1. Ele não concorda com frases de efeito do tipo: quer dinheiro, vá trabalhar! Nessa vida nada é de graça. (...) Me incomoda um pouco a idéia de que mesmo se eu for bem ao contrário do que Deus quer, ainda assim ele vai me tratar do mesmo jeito. Eu vejo ele desapontado. Eu nunca vou ser como Deus quer que eu seja. Eu sempre vou ser um desapontamento, mas não posso viver sendo assim, só porque Deus já sabe que eu não consigo ser outra coisa mesmo.

R: Eu também não concordo. Aliás, detesto essa tendência que ele vincula à espiritualidade norte-americana do “self-made man”. Não somos “self-made” e não podemos agir como se fôssemos. Tudo o que temos e o que somos devemos a Deus. Concordo que no fundo temos de correr atrás do prejuízo senão estamos fritos, do ponto de vista de quem está no mundo. Porém, nós vivemos sob a tensão de estar no mundo sem a ele pertencer. O que isso significa? Significa que, por mais difícil que isso seja para quem está envolvido com tantas coisas (como em seu trabalho, por ex), devemos nos orientar pelo conselho de Deus e não do mundo. E o conselho dele, nesse caso, é para que descansemos nele (Mt 6.25-34) e trabalhemos nessa direção. Precisamos aprender a largar o controle remoto de vez em quando e deixar que Deus nos conduza pelos seus canais.

Isso é dificílimo, não nego. E é por isso que a graça é complicada, porque ela nos tira do controle da situação. Seria tão mais fácil viver debaixo da lei. Teríamos tão mais possibilidade de saber em que grau do termômetro da benção de Deus estamos, e o que precisamos fazer pra “chegar lá”. Mas a graça é a voz de Jesus dizendo: “está consumado”. Tudo o que poderia ser feito eu já fiz. Seu papel e o meu papel, desta feita, é viver debaixo dessa graça. Nem trabalhar tão pouco de tal modo que barateie essa graça, nem trabalhar tanto, se esforçar tanto para agradar e estar no topo da “cadeia espiritual”, que acabe por anular essa graça (Gl 5.1-12). Concordo que Deus se desaponta com nosso pecado. Mas nem por se desapontar ele deixa de nos amar. O que não significa que, por nos amar, ele aprove tudo o que fazemos. Mas o único remédio para que voltemos a nos levantar quantas vezes for preciso é a dependência da graça, e não uma ajudinha que possamos dar a Deus. Precisamos parar de querer fazer o trabalho dele.

Jonathan

sábado, 23 de agosto de 2008

Alma Sobrevivente

Como sobreviver aos inevitáveis desencantamentos que a vida em uma comunidade de pecadores (igreja) pode ocasionar? É possível reencontrar o caminho da graça em meio às duras marcas que o cristianismo institucional vem deixando na vida de muitas pessoas?

O livro Alma Sobrevivente (2004), de Philip Yancey, tenta responder a essas e outras difíceis perguntas, embora sua intenção principal não seja a de dar respostas prontas em fórmulas ou pacotes fechados. Aliás, essa não parece ser uma característica desse famoso jornalista e escritor norte-americano, que produziu diversas obras de grande aceitação perante o grande público cristão, tais como Maravilhosa Graça, O Jesus que eu nunca conheci e Decepcionados com Deus. Além disso, o autor é editor independente da famosa revista Christianity Today. Caminhando na “contramão” de muitos escritores best-sellers de sua cultura, vinculados a uma linha evangélica mais pragmática e fundamentalista, Yancey adota, não somente nesse livro como também nas várias obras que já escreveu, uma linha de pensamento bíblico-teológico mais crítica e honesta, aberta ao diálogo com outras áreas do saber, empática com a humanidade e ampla no que concerne à percepção da relação entre o cristão e o mundo que o rodeia.

Essa obra é subdividida em treze capítulos. Em cada um deles, Yancey fala sobre uma personalidade – entre elas, escritores, professores, militantes, pastores; cristãos ou não-cristãos, de diferentes nacionalidades – que, como uma espécie de mentor, mudou os rumos de sua caminhada de alguma forma, possibilitando com que sua fé sobrevivesse aos abusos pelos quais passou durante sua infância e juventude na igreja. Aliás, o subtítulo no original traduz melhor, a meu ver, a intenção geral do livro: how my faith survived the church (“como minha fé sobreviveu à igreja”).
Uma palavra dita por Yancey resume e sinaliza a relevância de sua obra, além de me desafiar pessoalmente como cristão e escritor: “Quando comecei a escrever abertamente sobre minha fé, concluí que só tinha uma coisa a oferecer: sinceridade. Já tinha ouvido suficiente propaganda vinda da Igreja. Preferi ater-me à posição de um peregrino, não de um propagandista, descrevendo a vida com Deus da maneira como ela realmente acontece, não como deveria acontecer” (p. 280).

O ponto comum entre os personagens desse livro não reside somente na influência que tiveram sobre seu autor, mas, no fato de que ele procura, em todos os casos, fazer menção ou contar histórias que remetem não apenas aos grandes feitos como também às falhas e deficiências de seus “heróis”. Foram pessoas “cheias de vida” precisamente porque não negaram as contradições de seu ser nem a sua humanidade. Quantas falsas expectativas não cairiam por terra e quantas previsíveis decepções não seriam mitigadas se a igreja toda aprendesse a tão óbvia, porém árdua lição de se enxergar como um organismo vivo que se assenta sobre bases organizacionais humanas e, por isso, imperfeitas?

Nesse sentido, faltam-nos igrejas-gente, líderes-gente, que se vejam e seja vistos como tais e não como messias ou super-heróis da fé. Falta cair um dos últimos elos que nos mantém ligados ao anti-Cristo: a auto-suficiência; e resta cairmos outra vez e sempre nas garras da Graça, a primeira e última ponta de esperança de uma relação renovada com o Senhor e da existência de uma igreja que vive e proclama integralmente as boas novas do evangelho.

Jonathan

sábado, 16 de agosto de 2008

Você crê que Deus te ama?

Trecho de uma preleção de Brennan Manning, autor de O Evangelho Matrapilho, livro que li e recomendo, especialmente pra quem está cansado de religião ou que jamais tenha conhecido a graça de Deus, ou que tenha conhecido apenas a versão paraguaia da graça, vendável ou comercializável por qualquer vendilhão dos templos modernos.

Deixo-os com o vídeo - tô começando a gostar disso, mas prometo não exagerar - e com um trecho da referida obra de Manning:

"Sim, o Deus gracioso encarnado em Jesus nos ama. A graça é a expressão ativa deste amor. O cristão vive pela graça como filho do Abba, rejeitando por completo o Deus que pega as pessoas de surpresa ao menor sinal de fraqueza - o Deus incapaz de sorrir diante de nossos erros desajeitados, o Deus que não aceita um lugar em nossas festividades humanas, o Deus que diz 'você vai pagar por isso', o Deus incapaz de compreender que crianças sempre se sujam e são distraídas, o Deus eternamente bisbilhotando à caça de pecadores. Ao mesmo tempo, o filho do Pai rejeita o Deus de cores pastéis que promete que nunca vai chover no nosso desfile... O filho de Deus sabe que a vida tocada pela graça chama-o para viver numa montanha fria e exposta ao vento, não nas palavras aplainadas de uma religião sensata e de meio-termo". (O Evangelho Maltrapilho, p. 38-39).

Jonathan

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O Valor Divino do Humano (II)

Nós os protestantes (falo a quem cabe essa alcunha) somos herdeiros de uma tradição, desde Agostinho, que teve a tendência de diminuir e desprezar o humano que há em nós. Somos os seres mais diminutos e indignos da criação, diria o Santo. Somos, portanto, herdeiros de um dualismo platônico agostinianizado, que detém apenas o “espiritual”, desprezando o que é material, terreno, humano. E isso fez e tem feito um estrago tremendo em nossa espiritualidade, que busca uma santidade desencarnada, baseada em esforços humanos – é claro que aqui já tem um “dedo” arminiano, mas isso já é outra história, e bem polêmica.

O esforço de Urteaga é o de mostrar que santidade e humanidade não são inimigos mortais. Pelo contrário, o santo deste mundo não é o de faceta angelical, que se esquiva, que não se contamina, mas é aquele que assume todas as implicações de sua humanidade, tanto as boas como as ruins, e vive pela graça e somente por ela é salvo, e ela o encoraja e o fortalece para a vida, principalmente em meio às fraquezas. “O santo deste mundo é a plena realização de nossa verdadeira natureza, o perfeito cumprimento da eterna idéia que Deus tem do homem: é o cooperador de Deus na obra do mundo” (p. 36).

Minha recomendação final é o conselho de Urteaga aos seus leitores, a título de uma chapuletada: “Se, de fato, queres ser como os outros e limitar-te ao pouco que fazes, fecha este livro, e fecha sobretudo o livro que contém a doutrina para a grande rebelião dos cristãos: o Evangelho” (p. 50).

Jonathan

O Valor Divino do Humano (I)

No dia de minha formatura em teologia, há três anos atrás, ganhei essa preciosa obra de Jesus Urteaga. Foi um dos livros mais revolucionários que já li. Na contracapa do livro, há as seguintes indicações: “O VALOR DIVINO DO HUMANO é um saber teológico sem diletantismos, uma fúria radiosa de esperança, uma segurança sem orgulho, uma vitalidade sem fronteiras...”. A idéia básica foi mostrar a imagem (bíblica) de um Deus mais humano e de um ser humano também mais humano, porque divino. Urteaga assim descreve sua humilde e intrigante pretensão: “Só te quero ajudar a reparar na importância capital do ‘fator homem’ no santo, no cristão” (p. 11).

Ele começa com uma conclamação brilhante: “Abra os olhos e verás a Deus chorando”. E uma de suas frases finais é também bastante provocativa, como todo o livro o é: “A posição dos indiferentes, não posso nem quero compreendê-la. Eles serão os vomitados de Deus” (p. 207). Nunca consegui imaginar Deus como um ser indiferente, como a teologia tomista a muitos de nós fizera pensar, apontando-nos a imagem de Deus como o “Primeiro motor imóvel imutável”.

Essa imagem não condiz com o Deus que se compadece e chora ao ver a realidade em que tantas vezes o ser humano se encontrou e se encontra: “Certamente, vi a aflição do meu povo que está no Egito, e ouvi o seu clamor... Conheço-lhe o sofrimento” (Êx 3.3). Ora, esse não é o mesmo Deus que em Cristo chorou, se compadeceu, sofreu até a morte, como também se alegrou e compartilhou sua vida com seus consangüíneos humanos? Cristo certamente foi o ser que de modo mais excelente nos mostrou o valor divino que há no humano.

Jonathan

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Adoração e Graça (II)

Quem seria digno de abrir o livro? Ou o quê poderia fazê-lo? Seriam o incenso, votos, sacrifícios, palavras, orações e súplicas de anjos ou de homens? Nada disso. A resposta vem dos lábios de um Leão, o da Tribo de Judá, que venceu, transpondo barreiras até então instransponíveis, tornando possível o que a nós seria impossível.

Ao lado da imagem do Leão triunfante está a do Cordeiro, que foi abatido e morto. Fracasso e vitória estão misturados. A vergonha da morte na cruz tornou-se emblema de salvação; da fraqueza extrema de um Deus moído, foi gerada a força de vida, ressurreição e vitória, não somente desse mesmo Deus, mas de toda a humanidade que Nele crê. O único que era digno fez-se indigno e ignomínia, a fim de que os indignos pudessem experimentar a dignidade então perdida.

Quem é digno? O cordeiro que foi morto, mas venceu e, portanto, é o único capaz de abrir o livro. Não há mais motivos para o choro amargo da impossibilidade e indignidade. Um novo e vivo caminho foi aberto pela GRAÇA. Somente por ela Deus pode se agradar. Somente através dela a adoração se faz possível. A graça é a matéria-prima da adoração. Não há adoração sem graça. Através da graça, tudo se fez e se faz novo: novo o ser, nova a vida, novo o cântico, nova a adoração! Livres pela graça, livres para viver, em adoração.

Jonathan

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Adoração e Graça (I)

A adoração é um ato de reverência e devoção total a Deus. Significa que Ele está sobre mim, é poderoso e digno de ser louvado e adorado. Da maneira como concebemos a adoração dá-se a entender que se trata de uma “elevação” do imanente ao transcendente, dos seres humanos ao seu Deus. Pressupõe-se que temos todos os ingredientes para que haja uma adoração genuína: corações devotos, cânticos espirituais, os anjos, um trono, o Rei.

Contudo, o que garante que os votos, louvores, lágrimas, rituais, gestos e palavras “subirão” como aroma agradável ao Senhor? Parte-se muitas vezes do princípio de que adoramos a deus para agradá-lo. E a pergunta é: temos a capacidade inata ou intrínseca de agradá-lo?

A visão de João em Apocalipse mostra que havia todos os elementos para a adoração: um trono e Aquele que nele se assenta, anjos, vinte e quatro anciãos, as figuras do Leão e do Cordeiro, as orações dos santos, saltério, harpas, um coral celestial; ou seja, o eterno vazando o temporal. Que mais poderia faltar?

João, porém, se via angustiado diante daquilo tudo, e chorava muito. Faltava algo, só não sabia o quê. Uma incompletude pairava no ar. O livro que estava nas mãos daquele que se assentava no trono estava selado e ninguém fora capaz de abri-lo. João se sente impotente, indigno, pequeno. A sensação parece ser a de que tudo estava perdido. Nada poderia mudar o fato: o livro estava selado. A adoração cessou por um instante.

Continua...
Jonathan

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Vasos de barro

Eis que como barro nas mãos do oleiro, assim sois vós na minha mão” (Jr.19:6).

Deus pode fazer com minha vida aquilo que ele bem quiser. Que verdade extraordinariamente assustadora! Na realidade, tudo o que existe e acontece que possa ameaçar a autonomia humana, isto é, o controle sobre minha própria vida, torna-se automaticamente motivo de repulsa num primeiro momento. Por exemplo: o amor tira-me parcialmente do domínio, visto que me deixa vulnerável, sujeito a um gozo singular e, ao mesmo tempo, a todo tipo de retaliação. “Amar é, antes de tudo, ficar vulnerável”, afirmou C.S. Lewis. Mas o amor é, de certo modo, uma escolha; eu posso, se quiser, retrair-me em um movimento de rejeição às suas manifestações.

Deus é capaz de me tirar do controle total de minha vida, e dele, todavia, eu não posso escapar. Deus pode ser uma escolha pessoal e relativa no que diz respeito à fé de cada um (o que é perfeitamente questionável, já que a fé é também um dom, conforme a Palavra), mas não o é de maneira alguma em relação à vida, visto ser ele mesmo o Senhor da vida, quem oferece e também a toma de volta. Como posso estar alheio à presença e ação de um Deus tão surpreendente? Sim, como “vasos de barro” nas mãos do Oleiro, que facilmente se desmancha quando imperfeito e se refaz com uma beleza estonteante, assumindo contornos renovados e firmes, assim se com-forma a minha vida nas mãos de Deus.

Esta talvez seja uma das metáforas mais felizes e inteligentes da Bíblia, porque relembra o fator proveniente da criação, qual seja o de que viemos do “pó”. E se Deus pôde, como em um sopro, transformar pó em vida, tal como o oleiro criativamente dá forma a seus belos vasos, quanto mais capaz seria de fazer a vida retornar ao pó. Afinal, destruir é sempre mais simples que criar, que recriar ou reformar. Desse modo, podemos ser “tudo” ou “nada” nas mãos de Deus. Ao reconhecer minha miséria e inoperância diante da glória Divina, porém, como vaso de barro nas mãos do oleiro, a realidade da minha vida, de pó se transforma em riqueza e esplendor, para honra e glória do Oleiro. A vulnerabilidade é um instrumento poderoso nas mãos de Deus. Nossa vulnerabilidade, em Deus, é nossa força.

Jonathan

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

É tempo de fazer diferença!

"Exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo"
(Filipenses 1:27)

Londrina clama por ajuda e justiça. Essa ajuda não está apenas nas mãos do poder político. Está nas mãos de cada cidadão. Está nas mãos dos cristãos que entendem que o evangelho é pessoal, mas com inserção na vida pública. É tempo de fazer diferença. Para fazer diferença é necessário reverter um processo muito comum na vida das pessoas em relação à política. Esse processo tem cinco fases:

Ficamos (1) indignados com as coisas erradas e injustas, como a corrupção e a falta de valores éticos. Em seguida nos deparamos com a nossa (2) incapacidade de fazer algo. Nos sentimos fracos, sem voz, longe da esfera das decisões que determinam os rumos da cidade. Nesse momento surge a (3) indiferença que é o sentimento de "tanto faz como tanto fez", ou seja, "eu não posso fazer nada mesmo". A irmã gêmea da indiferença é a (4) insensibilidade. Nos tornamos apáticos. Perder a sensibilidade é perder o coração e o sentimento. Resultado: surge a (5) inatividade que é a morte da ação. É o estágio final no qual a pessoa desiste do mundo ao seu redor, vive para si mesma, num processo de distanciamento e isolamento social. É justamente conhecendo esse ciclo, cuja estação final é a inatividade, que certos líderes políticos tomam proveito do distanciamento das pessoas da vida pública para governarem em causa própria, a partir dos seus interesses e agendas pessoais.

Se o apóstolo Paulo vivesse em Londrina, certamente chamaria toda a Igreja de Cristo da nossa cidade para uma palestra com o seguinte tema: "exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo". Deixar a cidade ao seu próprio destino, sem a influência do evangelho de Cristo, é o mesmo que dizer: "cada um por si e Deus por todos". É tempo de romper esse ciclo de morte da cidadania! Nossa indignação deve ser acompanhada de ação! Paulo nos convoca a exercer a cidadania. Precisamos de cristãos nessa cidade que mostrem que o são pela sua prática e não apenas pela sua confissão. A omissão também é uma ação, mas ela ocorre de maneira apática.

É com o espírito e desejo de exercer a essa cidadania que um grupo de pastores e líderes, abaixo assinados, mobilizou-se para apoiar e contribuir para que o nosso irmão em Cristo, Maurício Barros, possa ser um vereador na Câmara de Londrina. Não apoiamos um partido político e sim à sua pessoa pois o conhecemos bem e é importante que você também o conheça.

Maurício Barros é uma pessoa simples e comum, com um grande coração. Até o dia de hoje ele tem se mostrado um homem de Deus, cheio de desejo de ser um cidadão dos Céus na terra. Seu amor a Deus e Londrina o leva a trabalhar em favor das pessoas que necessitam de auxílio. Ele tem um grande diferencial: não diz que se for eleito vai fazer; ele já faz sem ser eleito. Esse é o caráter de um verdadeiro cristão: faz as coisas porque ama, faz porque quer fazer diferença.

Junte-se a nós nessa empreitada! Queremos participar desse processo. Não se trata de apenas eleger uma pessoa. Trata-se de acompanhá-lo, de pensar projetos juntos, cobrar quando necessário e estender a mão sempre. Não se trata apenas de um homem, mas sim de uma cidade – a nossa Londrina!

Por amor a Cristo e por amor a Londrina!

=======================================================
Carta produzida pelos pastores Jorge Barro, Marcos Orison e Antonio Carlos Barro, em protesto contra a realidade política em Londrina, e pedindo apoio à candidatura de Maurício Barros para vereador, um dos homens públicos mais éticos e honrados que conheço.

Jonathan