segunda-feira, 29 de setembro de 2008

É bem melhor... saudades!


É bem melhor serem dois do que um
Já dizia o Santo livro
Do que viverem perdidos em seus corações
É bem melhor serem dois numa dor
E serem dois num sorriso
É bem melhor serem dois numa linda canção
Na verdade ninguém vive só por viver
Mas vive pra outra pessoa
E se faz um ser completo no instante em que vive no outro
É assim...

A Tempestade é filha do sol
O sol amigo das plantas
As plantas são o abrigo das aves
E as aves são nossa alegria
A juventude é mais bela se está
Emoldurada no velho
E o velho tem mais sentido
Se tem a essencia do novo

Ninguém pode num tempo ser todas as coisas
Nem mesmo ter todas as faces
Até o não se completa no sim
Tomando-se mais sentido
É assim...
João Alexandre

domingo, 28 de setembro de 2008

Pense muito, que é melhor se sofrer junto...

Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos... ali o Senhor ordena a sua benção e a vida para sempre” (Sl 133.1,3).

Quando se está longe de casa, dos seus, assim como eu estou a um mês, é que se pode dar maior valor ao "estar junto", à comunhão que temos uns com os outros, enquanto família, amigos, irmãos, parceiros e parceiras de caminhada. A comunhão está na essência da vida e na essência da criação. Desde o princípio Deus fez essa escolha: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). Dois é sempre melhor que um: na alegria ou na dor, na celebração ou no luto. Já dizia Vinicius de Morais: “Pense muito, que é melhor se sofrer junto que viver feliz sozinho”. Bela poesia, que expressa o valor de uma vida em comum, custe o que custar. "There's no concern when we're wounded together", afirma o cantor Jason Mraz em sua bonita canção "A beautiful mess".

Há algum tempo, preguei um sermão falando sobre ser comprometido com a comunhão. Baseado no banquete (Ceia) para o qual Deus nos convidou em Cristo, como lembrança de seu sacrifício vivo entre e por cada um de nós, eu afirmei: A história que Deus escreve conosco, de modo insistente, perseverante, é uma história de comunhão. Ele deseja se relacionar conosco! Ele partilhou sua própria vida conosco! E como forma de lembrança, Ele nos convida hoje a tomar do vinho, a comer do pão, como plena e misteriosa expressão da vida que Ele nos ofereceu em Jesus. Não são simples migalhas ou simples goles. É o símbolo de TUDO o que Deus nos deu! Podemos viver da graça, expressa no pão e no vinho, e em nosso compromisso renovado de comunhão no Espírito e de amor mútuo.

Ontem recebi um email simples e tocante de um novo, mas já querido irmão de caminhada em Londrina, o Marco Antonio. Nele, além das palavras de conforto, estava a letra de uma bela canção de sua autoria, que ele afirma ter sido baseada em uma das frases por mim ditas naquela pregação, a qual, segundo ele, "bateu e ficou". Fiquei muito feliz em receber essa mensagem, e mais feliz ainda em ler e degustar essa bonita letra, que busca expressar nossa comunhão mística em Deus. Quando li, fiquei pensando: precisamos urgentemente de mais poetas na igreja evangélica brasileira, como o Marco, que consigam unir o sabor de bonitas palavras com o sabor de uma boa, profunda e bíblica teologia. Por isso, tenho a honra de poder compartilhar com vocês essa singela e profunda poesia:
A NOSSA COMUNHÃO
(Marco Antonio Rosa)

NÃO É SOMENTE MEU,
E ASSIM PERTENCE A TI
O AMOR QUE ELE ME DEU
E AGORA VIVE EM MIM.

EU QUERO REPARTIR
O QUE EU RECEBI:
DE GRAÇA ELE DEU,
DE GRAÇA EU SOU TEU.

VEM DO TEU ESPÍRITO A NOSSA COMUNHÃO,
SOMOS UM SÓ PÃO, UM SÓ CORPO,
UM SÓ CORPO NA ALEGRIA E NA DOR,
NA MESMA ESPERANÇA, NO MESMO AMOR.

EU TE DOU MEU PÃO
PARA TE VER FELIZ,
E TE DOU DE BEBER
DA FONTE DESSE AMOR

QUE NOS FAZ CANTAR
A UMA DOCE VOZ
O AMOR DO NOSSO DEUS
QUE AGORA VIVE EM NÓS.

Jonathan

sábado, 27 de setembro de 2008

Semanal de Amsterdam (IV): uma cidade secular e privatista

Não me parece mais nenhuma novidade falar em secularização e secularismo no mundo de hoje. Trata-se de um processo que se iniciou nos anos 60, e que hoje pode ser visto como irreversível. Só para colocar os “pingos nos is”, secularização é um movimento de libertação do mundo das tutelas da religião (metafísica) e das cosmovisões fechadas. Harvey Cox, que escreveu o polêmico “A cidade secular” (1965), afirma que o processo de secularização, ao invés de ser destrutivo à espiritualidade cristã, está em profundo acordo com ela. “É conseqüência legítima do impacto da fé bíblica sobre a história”. Isto, pois, segundo ele, o objetivo de Deus é o de “humanizar a história”. Por outro lado, por secularismo, se pode entender como uma tendência de transformar certos aspectos da vida em absolutos, assumindo o lugar de Deus (ex. o consumo, o indivíduo). Desse modo, conseqüência natural é afirmar que consumismo e privatismo são duas das marcas de um mundo cada vez mais secularista. (Mais sobre o assunto em: http://escreveretransgredir.blogspot.com/2008/03/sexo-alpha-dog-e-cidade-secular.html).
Esse processo tem desafiado as igrejas em Amsterdam. Falar em secularismo nessa cidade é quase um pleonasmo. Antes de minha viagem para cá, Cibele, minha esposa, ouviu de uma pessoa que havia estado aqui a seguinte impressão: “É uma cidade sem Deus”. Assim, vim disposto a observar isso. Logo, considero que: Em primeiro lugar, do ponto de vista teológico, não há cidade sem Deus. Há, sim, e esse parece ser o caso de Amsterdam, cidades em que o nome de Deus não é tão falado ou nem um pouco falado – como nos acostumamos a ver no Brasil, em cada esquina. Falar de Deus aqui certamente é uma coisa estranha. E Cox já havia sugerido, em 1965, colocar a palavra “Deus” de lado, em favor de outra designação que nos confronta na cidade secular, como “o Ser”, eu diria. Não sei se essa é a saída, mas é fato que os discursos e métodos de antes já não convencem e nem caem mais bem aos ouvidos dos secularizados. A mensagem não muda, é claro, o que deve mudar são as formas de proclamação e vivência dessa mensagem.
Em segundo lugar, isso não significa que os holandeses em Amsterdam não sejam um “povo religioso”. Pelo contrário, eles são muito religiosos. O grande lance é que a religião, mais do que nunca, tem se tornado um assunto privado. Tanto, que é difícil e truncada a relação da igreja com a sociedade. Minha impressão é que a igreja nesse país não se mete muito nos assuntos de interesse público, da sociedade civil. Há interesse e esforços missionários? Com certeza, mas esses esbarram ou têm de enfrentar essa resistência da cultura de que religião é assunto privado e não se mistura com público. Em 2004, após quase 40 anos de diálogo, houve uma unificação entre três igrejas: Igreja Reformada da Holanda, a Evangelical Luterana, e a Reformada Holandesa. Dessa fusão, surgiu a Igreja Protestante da Holanda (Protestantse Kerk). É uma igreja grande, tem 2 milhões de membros, só perdendo para a Igreja Católica. Mas, fato alarmante é que a cada ano essa igreja tem perdido 60 mil membros, e muitos deles saem para engrossar a fila cada vez maior dos chamados “sem-religião”. Esse é um ponto em comum com o Brasil, por exemplo, onde a religião que mais cresce é a dos “sem-religião”, chegando hoje a ter 10% da população.
O reino do privatismo e do secularismo substitui, portanto, o reino do coletivo (num sentido estrito) e da religião (em assuntos que tocam a vida pública). Onde está Deus nisso tudo? Como o Evangelho ainda pode ser relevante em um contexto como esse? Como deve se portar o cristão que deseja fazer diferença, como sal e luz do mundo, nessa cultura? Perguntas que gostaria de deixar no ar para reflexão, para meus amigos e amigas do caminho... Nesse sentido, concordo com Lya Luft: "pensar é trangredir"! E que a igreja não esconda mais seus talentos quando o assunto for pensar o mundo, e a si mesma em sua prática e vida no mundo.
Que o Deus da graça nos ilumine na procura por respostas...
Jonathan
(Foto: The Damsquare)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O Jovem caminha em dois extremos

Há mais ou menos 1 ano atrás, concedi uma entrevista ao Jornal "Comtexto" da UNOPAR, falando sobre a questão da sexualidade na igreja. Foi uma experiência interessante e que gerou um debate caloroso. Gostaria de publicar aqui uma de minhas respostas na ocasião às muitas críticas, positivas e negativas, que recebi pelo que opiniei ali.

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Quando fui convidado para dar essa entrevista, logo pensei: "Se não disser aquilo que os evangélicos estão acostumados a ouvir e que os manteriam bem acomodados em suas posições e estados mentais anteriores, certamente serei execrado". Mas, por outro lado, indaguei: "E se não for honesto o suficiente diante de Deus e das pessoas, e corajoso para dizer aquilo que penso e acredito estar de acordo com a Palavra, sem medo de ser julgado, esterei agindo contra minha consciência". Bem, assumi os riscos, e estou "pagando" por tê-los assumido, como ficou bem claro por boa parte das opiniões até aqui colocadas. Quero dizer que respeito todas e acolho as críticas de bom grado, e tento compreender mesmo aquelas que fazem juízos de valor premeditados, como os de que eu "morri na unção", de que "pratiquei sexo antes do casamento" e falei tudo isso só pra "justificar meu pecado", de que é "desculpa pra pecar teologicamente", de que sou "falso profeta", herege e "dei lugar ao Diabo", de que "esse sangue" será cobrado de mim (qual sangue?), de que preciso me santificar, de que expressei minha falta de conhecimento e "falta de vontade", etc. Pois bem, respeitando a todos, quero apenas colocar algumas coisas:
1º.Minha ênfase nas respostas não estiveram no sexo antes ou depois do casamento. Isso foi uma escolha de quem publicou a matéria, em enfatizar isso na minha fala. Meus pontos principais sempre foram o sexo com amor e com responsabilidade. Repito o que disse no final, para quem não prestou a atenção: "A grosso modo, ele apenas está dizendo que o casamento é o melhor lugar para se viver essas experiências, provando nada mais, nada menos que conhecia bem nossa natureza humana, nossas necessidades e limitações".
2º.Continuo reafirmando: o que muitos líderes dizem ser bíblico e de Deus não é nem bíblico e nem divino, mas absolutas perversões da Palavra. Muitas das opiniões expostas aqui continuam presas a uma "teologia moral de causa e efeito" (como diz Caio Fabio), cujos pressupostos são fundados num escravismo legal e não na Graça muito menos numa leitura sensata das Escrituras. Não creio que falar de graça e da liberdade em Cristo, cf. Paulo, seja necessariamente um caminho para justificar a libertinagem, e não afirmei e nem defendi a libertinagem aqui. Se alguém, porventura, entendeu assim, lamento; ou se quer ser libertino por causa do que disse, lamento mais ainda, porque não me entendeu. Como expliquei, e repito: "Devemos ser livres e maduros o suficiente para escolher o melhor caminho". Mas já estou chegando a conclusão que liberdade e maturidade é coisa pra poucos, pouquíssimos. A maioria ainda prefere a escravidão do Egito que os 40 anos no deserto. Fazer o quê?
3º.Quanto aos juízos de valor, de que sou isso ou aquilo, questionando minha integridade em Deus, sugiro que os "irmaõs e irmãs" releiam Mateus 7 e Mateus 23. Ah, de preferência, releiam todos os Evangelhos e tentem observar melhor a conduta e os ensinamentos de Jesus, que certamente serão uma melhor defesa do que qualquer coisa que poderia argumentar aqui a meu favor. Sinceramente, acho que é perda de tempo. Só Deus tem a chave e o acesso aos corações e segredos dos homens. O que passar disso é enfado da carne, engodo espiritual de quem sofre de uma das piores neuroses de nosso tempo: a "neurose de santidade". Só clamo pela misericórdia de Deus sobre mim, pecador!
4º. Por fim, reconheço que as afirmações que faço nessa matéria são um pouco arrojadas para um espaço tão curto, e careceriam de um tempo e uma instância maiores a fim de que fossem melhor debatidas ou, quiçá, compreendidas, até para diminuir os julgamentos. Mas, como disse, as afirmei de boa e sã consciência em Deus, mesmo prevendo as implicações. As interpretações e desdobramentos disso estão fora de meu controle. Como diz Tiago, cada um se ocupe em refrear sua própria língua. Outra vez digo: respeito as opiniões aqui expostas e até os ataques. Isso faz parte da vida de quem escolhe opinar e lançar idéias livremente, e correr o risco de ser bem, mal ou até de não ser compreendido e até execrado. Aceito esse fardo. É também o meu fardo.
Jonathan

domingo, 21 de setembro de 2008

Semanal de Amsterdam (III): os holandeses, a moral cristã e o Reino da Liberdade

Antes de vir pra Amsterdam, ouvi muitas coisas sobre a liberalidade dos holandeses. Coisas do tipo: “Ah, você sabia que lá o uso de drogas é legalizado?”; “Cuidado, porque lá o sexo é liberado numa das praças públicas”. A sensação era de que eu estava indo para a própria Sodoma pós-moderna... Uma terra onde nada é de ninguém e tudo é de todo mundo. Bem, preconceitos à parte, as coisas não funcionam bem assim. Os holandeses são muito organizados e têm muitas regras; aliás, têm regras pra tudo, até para o governo da liberalidade em assuntos como sexo e drogas. Mas, parece que isso aqui não é uma “grande coisa”, a não ser para os turistas que vêm pra cá e se impressionam com as facilidades e curiosidades da vida nessa cidade. Vida que, aliás, é bem diferenciada, considerando o grande centro de Amsterdam, e Amstelveen, onde estou morando, uma espécie de cidade satélite que fica grudada em Amsterdam. Aqui é um lugar de parques bonitos, visuais naturais interessantes, um lugar para morar. Já o centro, bem, é o coração da cidade e onde a maioria das coisas acontece...

Imagine que você vive num dos poucos lugares do mundo onde se tem plantação de bananas. Para você, que vive ali, é uma coisa comum. Você pode se dar ao luxo até de estar enjoado de banana. Mas, para os de fora, que não têm bananas livremente em sua terra, a não ser as “importadas” ou “clandestinas”, é uma enorme novidade e atração. Eu diria que, para os holandeses, é mais ou menos assim: essas questões não são tão extraordinárias. Elas simplesmente são assim como são. Você não vê nenhum alarde acerca disso. Ninguém vai te agarrar na rua e chamar pro parque pra fazer sexo, ou te oferecer drogas deliberadamente. Aliás, se há uma palavra que os holandeses gostam é discrição; eles são muito discretos. Eu diria que quem vem pra cá tem um cardápio de opções das mais múltiplas possíveis para experimentar. Mas, cada um experimenta a cidade como quer. Por isso falo dos preconceitos; não há somente o imperativo do sexo e o imperativo das drogas aqui! Só há pra quem escolhe experimentar esse lado da cidade. Mas esse é somente um lado da moeda.

Um colega africano, que aqui conheci, perguntou a minha opinião sobre o que eu achava melhor, referindo-se a essas duas questões (prostituição e drogas): um país, como o Brasil, no qual existem leis contrárias a essas questões, mas que não reduzem na prática (vide os grandes esquemas de prostituição e tráfico de drogas que prosperam cada vez mais), ou um país onde ambos são autorizados por lei? Bem, já me deparei com essas questões anteriormente, mas, minha opinião sincera foi e é pela segunda opção, embora não sei se num país como o Brasil qualquer das duas inibiria o crime. Mas, é uma coisa óbvia! Tudo o que é proibido tem um gosto diferente e aguça mais o desejo pela transgressão e subversão das regras e normas. Como diz uma canção chamada "Dirty Little Secret": “I want, I need the fruit of your pine, it tastes so bitter sweet cause I know it's not mine”.

As coisas são assim: quanto mais se proíbe, menos se coíbe! E quando paro pra pensar na moral cristã, tal como os brasileiros a concebem, vejo tão pouco nexo e lógica. Há algum nexo falar sobre uma mensagem sobre um reino de liberdade e graça, quando o que conseguimos, na prática, é só uma liberdade de cabresto e migalhas de graça, que está muito mais pra “des-graça”? As pessoas vêm em Jesus um rei libertador, mas, quando são convidadas a viver nesse reino de liberdade, onde cada um, à luz da Palavra e na dependência do Espírito, é árbitro de sua própria vida e consciência, elas recuam; é um peso muito grande ter de decidir por si próprias. Assim, preferem retornar ao Egito e viver sob as controladoras e seguras ordens de Faraó. Pérfida contradição!

Eu ainda fico com a palavra do apóstolo Paulo: “Foi para a liberdade que Cristo vos libertou! Permanecei, pois, firmes, e não vos submetais de novo ao jugo da escravidão!” (Gálatas 5.1).

Até a próxima!

Jonathan
(Foto: The Museumplain )

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Divinização pastoral X demonização do crente

(...) Um dos objetivos do pastor deveria ser o de gerar filhos na fé bem nutridos, maduros, que pudessem caminhar com as próprias pernas, sem necessitar de cabresto ou leitinho “espiritual” na boca; de tal modo que, num futuro não muito longínquo, pudessem debater com seu pastor de igual pra igual, sem hierarquia, não só sobre bíblia e teologia como sobre a vida de modo geral. É o mestre sendo alcançado e até superado pelo discípulo. Quimérico? No mundo de hoje, sim, infelizmente.

São armadilhas do sistema eclesiástico, como observa Eugene Peterson: “Enquanto que a comunidade míngua, a ansiedade por liderar cresce, mas é comum essa liderança destruir a comunidade, reduzindo as pessoas às funções que desempenham. Quanto mais “eficientes” nossos líderes se tornam, menos vida em comunidade nós temos”. (O pastor desnecessário, p. 189).

Logo, esse crente moderno sofre de inanição espiritual, tornando-se cada vez mais oco, cujo fim do abismo ainda está longe de ser encontrado. Por ser um tolo e ignorante do projeto de Deus para a sua vida, ele permite que um outro exerça o controle sobre sua vida ao ponto de cegar o seu entendimento. Perde a autocrítica e, como num passe de mágica, deixa de existir. Não pode rebelar-se contra os ensinos do pastor-deus. Tem medo de ser castigado e de perder as bênçãos. Finalmente, não aceitando a dignidade ofertada por Cristo, apanha com as mãos cheias aquilo que o Cristo rejeitou da serpente quando foi tentado no deserto, quem sabe focado na “restituição” prometida, riqueza e prosperidade material – aberrações dessa época (...).

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Trechos do artigo que escrevi com Antonio Carlos Barro: "A divinização pastoral versus a demonização do crente". Para ler o texto todo clique aqui.

Jonathan

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Semanal de Amsterdam (II): Através dos olhos do outro

Leia João 4.1-30

Não há fronteiras que o Evangelho não possa cruzar (There's no boundaries that the gospel cannot cross). Esse é um de meus insights nessa bonita história do encontro entre Jesus e a mulher samaritana no poço de Jacó, e que se aplica bem aos encontros que tenho tido aqui em Amsterdam, através do programa “Bridging Gaps” – que tem a idéia de construir pontes entre hiatos, de preencher lacunas. Na história, havia um grande hiato entre Jesus e aquela mulher, que começa pelo fato de que ele era homem e ela mulher (não havia diálogo entre homens e mulheres, situação que ainda persiste em muitos países, como Mianmar); em segundo lugar, ele era judeu, ela samaritana, e todos sabemos sobre as diferenças históricas e religiosas entre judeus e samaritanos naquele tempo. Mas Jesus, não levando em conta qualquer tipo de fronteira que pudesse haver entre eles, inicia um diálogo com aquela mulher, e da forma mais inusitada possível: pedindo-lhe água, visto que estava sedento.

E fico imaginando: que forma bonita de se começar um relacionamento, mostrando sua vulnerabilidade. Em nosso mundo belicoso somos induzidos a sempre andar armados até os dentes. Armados de respostas prontas, de piadas jocosas prontas, de palavras pontiagudas, de gestos hostis, de olhares de desaprovação, etc. Essa história de que “a primeira impressão é a que fica” nem sempre funciona nos relacionamentos, pois se fosse a primeira impressão que temos dos outros e que os outros têm da gente a permanecer, aí sim, nem encontros, nem reencontros seriam possíveis, e nossos relacionamentos estariam fadados ao insucesso, mais do que agora estão. Isto, pois, a primeira impressão muitas vezes é péssima. Falo por mim. Quantas pessoas, depois de me conhecerem melhor, não disseram: “puxa, você é tão diferente do que eu imaginei ao te ver pela primeira vez”. Pois é, culpa delas (eu posso pensar). Mas que nada, a culpa também é minha, que não faço muito esforço pra que seja diferente.

Como disse no primeiro “semanal”, estou no período de impacto nessa nova cultura. E a grande tentação do momento é a de detestar tudo o que de costume holandês me vem pela frente. Ah, como tudo em casa é melhor que nessa terra estranha, com uma comida ruim e gente esquisita! Mas daí penso: eu também sou esquisito pra eles, estrangeiro em terra alheia. Que grande fronteira existe entre nós! E quem será capaz de cruzá-la? Jesus me convida nesse texto a deixar à mostra minha vulnerabilidade, para que ambos, o meu ‘próximo’ e eu, sejamos desarmados de nossos preconceitos e tendências e reaproximados pelo amor. Definitivamente, estou numa cultura muito individualista! E minha tendência é responder com mais individualismo. Se eles não se importam, porque devo me importar? Who cares? I don’t care. So let me move on with my life! Mas Jesus age de um modo totalmente diferente, inesperado, ele se importa e demonstra isso.

Há muito mais a compartilhar sobre esse texto e também sobre meus sentimentos aqui. Já falei muita besteira sobre os holandeses nesse dias (e acho que ainda vou falar algumas). Todavia, preciso parar um pouco e olhar para meus próprios preconceitos, e as fronteiras que eu mesmo preciso cruzar, pelo poder do Evangelho. Enquanto isso, vou preenchendo as lacunas com as histórias daqui... As histórias que vou re-aprendendo através de Jesus, e através dos olhos do outro (through the eyes of another)!

Que a paz esteja com todos!
Jonathan

sábado, 6 de setembro de 2008

Tudo sempre passará? Nem tudo...

Deste aos meus dias o comprimento de um palmo; a duração da minha vida é nada diante de ti. De fato, o homem não passa de um sopro” (Salmo 39.5).

Enquanto lia esse texto de Davi nos Salmos, lembrava-me de uma parte da canção “Como uma onda”, acho que do Lulu Santos, que diz: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa tudo sempre passará”. Sim, “tudo”, em certo sentido, passa. A vida passa, os anos passam, nossos sentimentos são como onda, assim como também nossas experiências e situações de vida podem variar tanto quanto “uma onda no mar”. E tudo não apenas passa, mas passa muito rápido na vida. A vida, aos nossos olhos, pode ser muito longa ou muito curta, depende do quanto a pessoa tenha vivido. Há alguns que vivem até os 100. Outros vivem até meados dos 40, ou morrem ainda nos primeiros dias de vida. Esse obviamente é nosso padrão de medir o tempo de vida, se é curto, médio ou longo.

Para Deus a contagem é significativamente diferente. A Palavra diz que, para Ele, um dia é como mil anos e mil anos são como um dia, tanto faz, não tem diferença. O eterno atravessa a temporalidade, de modo que todos os padrões daquilo que é temporal são como cisco diante do eterno. A vida passa rápido também aos nossos olhos, podem apostar. E boa parte daquilo que definimos como agenda e prioridade em nossas vidas, aqui ficarão. Mas nos ocupamos tanto com tais coisas e damos tanta importância a elas que acabam se tornam a razão de nosso existir. E nosso existir, efêmero, se ocupa, portanto, de coisas efêmeras. Mas, então, o que pode não ser efêmero no meio dessa existência efêmera? Aquilo que permanece, que não passa, que chega e fica, é o que não é efêmero.

Mas se minha vida é efêmera e curta como um palmo, não passa de um sopro, o que exatamente pode ficar? Aquilo que tem influencia da habitação do eterno em nós e que, na perspectiva de que com Deus viveremos eternamente e que parte dessa vida eterna já pode ser vivenciada parcialmente aqui, podemos experimentar desde já. O amor de Deus é eterno, por isso todos temos o eterno a nossa disposição. Se tivermos a compreensão de que nossa vida não passa de sopro, e que em Deus temos tudo o que necessitamos, não ficaremos paralisados para sempre sem nos ocupar com as tarefas daqui, mas, sim, faremos as tarefas daqui sem que elas nos tomem mais do que o necessário. Tudo passa, mas a Palavra de Deus permanece, é vida. O que é semeado em boa terra fica, cria raízes e dá muito fruto...

Jonathan

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Semanal de Amsterdam (I): Tempo de desafios!

Estou impactado pelo contato com outra cultura, tão diferente da minha: a língua e as línguas, a comida, a rotina, o ambiente, o clima, etc. Essa semana tem sido de adaptação aqui, e de muitos desafios também. Hoje vi uma frase, da vice do candidato John McCaine à presidência dos EUA, que me marcou muito, pois dizia que "até mesmo as maiores alegrias trazem consigo grandes desafios". Isso se encaixa perfeitamente a como estou sentido nessa semana, tremendamente desafiado em muitas coisas: desafiado por cumprir bem minhas obrigações, as daqui e as que ficaram do mestrado que estou fazendo na UEL, nos prazos estipulados; desafiado por aprender a viver contente em toda e qualquer situação (nunca uma situação de aparente alegria traz apenas alegrias, assim penso); desafiado a aprender muito e aproveitar ao máximo essa experiência que Deus tem me dado aqui na Europa, e, ao mesmo tempo, desafiado a aprender a viver longe da minha esposa, minha casa, minha família, minha igreja, meus colegas, irmãos, amigos.

Falando neles, dou graças a Deus por poder ter amigos, amigos que têm me ajudado e suportado nesse período de transição - desde os últimos dias em Londrina, até essa primeira semana aqui - que me escrevem e-mails, que me procuram de vez em quando pra conversar, saber como estou, jogar conversa dentro (e não fora). Que grande dádiva é a amizade. É o mais singelo de todos os amores, diria C. S. Lewis. É leve como pena, quando aprendemos que amigos não são para se exercer pressão, controle ou pra ter ciúmes, mas pra destilar nosso cuidado, compreensão, ombro nas horas mais inusitadas, e também pra partilhar de sonhos e idéias comuns, e, não em igual proporção, mas todo mundo precisa de vez em quando, de pataquadas e idiotices comuns – eu que o diga.

Quero utilizar esse espaço pra não perder o contato, e pra continuar fazendo fluir minhas idéias e palavras, agora encharcadas por um novo momento, novas experiências, e um tempo sabático do meu cotidiano comum, sendo ligeiramente ocupado por outras tantas coisas, mas também de um bom tempo livre pra descobrir muitas coisas lindas, e quem sabe redescobrir outras.

Grande beijo a todos os que acompanham esse blog!

Jonathan
Foto: Amsterdamse Bos Park