terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Como será o amanhã?

Como será o amanhã?[1] Responda quem puder. “Como vai ser o meu destino?”. Assim João Sérgio inicia sua canção “O Amanhã”, com uma pergunta que é a pergunta de todos nós. Quem é que, por mais desencanado da vida que seja, já não parou para se perguntar sobre como será o seu futuro? Será feliz? A mensagem zodiacal diz que sim, que eu serei “muito feliz”. Eu respeito quem gosta de horóscopo, aliás, respeito o ser humano e as suas crenças. Mas, algum dia vocês já viram o horóscopo predizer desgraça? No máximo é alguma advertência do tipo: as vibrações do sol e de júpiter indicam que haverá algumas nuvens negativas, mas não desanime etc. O interessante é que sempre há uma mensagem de otimismo. Nos negócios sempre “bombando”, no amor muita sorte e felicidade! Um cenário sempre melhor se vislumbra...

Isso é parte de ser humano. Queremos e desejamos sempre o melhor pra nós mesmos e para quem gostamos, não é mesmo? Fins de ano: “Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”. Mas, eu pergunto: e a vida? Será que a vida sai sempre como nós projetamos, idealizamos, sonhamos? É aí que mora o X da questão... Há muita imprevisibilidade, mistério e incertezas na vida; por mais que tentemos controlá-la a todo instante, com os punhos cerrados, somos surpreendidos pela verdade de que sempre há algo que nos escapa pelos vãos dos dedos. E, quando nos damos conta, já estamos presos nas cadeias desse “vírus” que atinge 10 em cada 10 pessoas de nosso tempo: a ansiedade.

Psicólogos definem a ansiedade como sendo “um sentimento de apreensão desagradável, vago, acompanhado de sensações físicas como vazio (ou frio) no estômago (ou na espinha), opressão no peito, palpitações, transpiração, dor de cabeça, ou falta de ar, dentre várias outras”.[2] Certa vez Jesus disse algo a respeito: “Não andeis ansiosos com a sua própria vida”. Em outra tradução, está escrito: “Não se preocupem com a sua própria vida”. Mas, como assim? Perdemos alguma coisa ou é isso mesmo? O que mais eu tenho feito na minha vida, é me preocupar: com quem vou me casar? Como vou sustentar minha família? Será que serei bem-sucedido? Será que ganharei bem? E, antes disso, será que haverá um lugar pra mim no mercado de trabalho? Muitos passam quatro, cinco, seis anos na universidade, pra quê? Pra se preparar para o futuro, em busca de um futuro melhor. Outros, como diria Zygmunt Bauman, usam esse tempo na universidade como “abrigo temporário numa sociedade afligida pelo desemprego estrutural”.

Mas Jesus ainda continua indo contra a maré e pergunta: “Não é a vida mais importante...?”. Vocês, meus amigos, Têm muito mais valor que todas essas coisas. “Quem de vocês”, perguntou ele, “por mais que se preocupe (que esteja ansioso), pode acrescentar uma hora que seja à sua vida”? Eu diria que se a nossa capacidade de planejar e realizar pudesse conter a imensidão das nossas ansiedades, acho que acrescentaríamos mais de 1000 anos às nossas vidas. Gastamos grande parte dos nossos esforços na vida, nos livrando dos “demônios” do passado e tentando controlar como será o amanhã.

Jesus, em contrapartida, tem uma resposta para a pergunta da música. Ele diz: “Não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal”. Seria tão bom se aprendêssemos a viver um dia de cada vez, vocês não acham? Não acredito que Jesus esteja dizendo que devemos cruzar os braços, esquecer tudo e deixar a vida nos levar, como diz a música cantada pelo Zeca Pagodinho. O que ele sugere é que invertamos nossas prioridades. Concentremos nossas atenções naquilo que importa. Em outras palavras ele está dizendo: Ame a Deus, seu reino, sua justiça, ame a vida, e siga em frente! Não podemos deixar que nossa ansiedade quanto ao que será o amanhã, nos escravize. Porque, no fim das contas, não temos resposta e nem jeito pra essa pergunta.

O que será o amanhã? Há quem acredite, como na música, que o seu destino será como Deus quiser. Já outros, preferem acreditar em si mesmos e que podem, sim, por si mesmos, mudar seu futuro, sem a ajuda divina... Eu, particularmente, creio que o meu e o seu destino só será como Deus quiser se a gente quiser que assim seja; à medida que você entrega: os teus planos, o teu futuro nas mãos de Deus e vive a vida, com todos os percalços e angústias a ela inerentes, aprendendo a celebrar sempre! Cada momento... Cada dia... Citando outra vez Bauman, “preparar-se para a vida deve significar, primeiro e sobretudo, cultivar a capacidade de conviver em paz com a incerteza e a ambivalência”. A fé é uma certeza, mas uma certeza que só germina na incerteza de caminhos belos e imprevisíveis, ou de caminhos imprevisíveis e por isso belos.

Jonathan

Notas
[1] Mensagem proferida em missa ecumênica de formatura da turma 56 de Medicina da UEL , em 23.01.2009, na Igreja Nossa Senhora da Auxiliadora em Londrina.
[2] http://www.psicosite.com.br/tra/ans/ansiedade.htm.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Amizade - por Eugene Peterson

1.
A coisa mais importante que uma pessoa pode fazer por outra é verificar o que existe de mais profundo no outro; despender tempo, e ter discernimento para ver o que há no interior do outro, quem a pessoa realmente é, e, então, reafirmar isso pelo reconhecimento e encorajamento.
2.
Cada um de nós já se relacionou com centenas de pessoas que nunca nos olharam além de nossas aparências. Já nos relacionamos com centenas de pessoas que, ao olhar para nós, começam a calcular a nossa utilidade, o que poderão obter de nós. Temos conhecido centenas de pessoas que, mal nos vêem, fazem de nós um rápido julgamento, classificando-nos então em determinada categoria, para que não tenham que se relacionar conosco como pessoas. Tratam-nos sempre como se fôssemos menos do que somos, e, se nos relacionarmos constantemente com essas pessoas, nos tornaremos realmente menores!
3.
Então, um homem ou uma mulher que não busca alguém para usar entra em nossa vida; ele, ou ela, é suficientemente paciente para descobrir o que se passa realmente dentro de nós, e é seguro o bastante para não explorar nossas fraquezas ou atacar nossas forças; e reconhece nosso direito à vida interior e a dificuldade que temos para viver inteiramente as nossas convicções íntimas. E então apóia a facilita o que há no fundo do nosso coração. Ele, ou ela, é um amigo.
Eugene H. Peterson
Trechos do livro “Transpondo muralhas” (Habacuc, 2004, p. 81)

domingo, 25 de janeiro de 2009

Repercussão de "A Cabana"

O livro "A Cabana" está tendo uma repercussão incrível, maior do que eu imaginava. Muitas pessoas têm lido esse livro e falado muito bem dele. Em breve, tudo indica que sim, teremos um longa-metragem baseado em seu enredo. Hoje encontrei no blog de Thiago Mandanha, uma entrevista com William P. Young, autor da obra. Nessa entrevista, ele fala sobre como surgiu a idéia do livro e como essa idéia sempre esteve ligada com sua vida familiar e os dramas e dores pessoais que, por anos a fio, enfrentou e carregou dentro de si.

O que mais me chamou a atenção na entrevista, foi o fato de Young ter se colocado como uma pessoa que sempre foi muito religiosa, e que por muito tempo escolheu se esconder atrás da religião. Penso que essa é uma tentação de muita gente, inclusive a minha própria: a de utilizar "Deus" e a religião como um artifício e muleta que nos ajuda a nos manter longe, mas bem longe de nossas deficiências, dores, da vida real. Quando leio "A Cabana", estendendo um pouco aqui meu comentário, tenho exatamente essa sensação, de que o autor fala com conhecimento de causa, ou seja, como alguém que viveu e se criou nas entranhas da religião, e sabe bem quais podem ser suas armadilhas, ilusões.

Gosto quando ele fala que há muitas dores nesse mundo, muitas delas, eu diria, são feridas expostas, para todo mundo ver, ainda que muitos as ignorem, outras, são mais profundas, enraizadas, imperceptíveis, e, por isso, mais cortantes e nocivas, especialmente quando fazemos de tudo para não encará-las, saber que elas existem, que são reais, estão ali, talvez jamais nos deixem, mas que, de qualquer forma, precisariam ser tratadas, de modo que pudéssemos crescer, aprender com elas, tornando-nos pessoas mais humanas, mais completas, mais maduras e mais solidárias com a condição humana em geral, a condição de nosso próximo. Todos, embora sejamos tão diferentes, somos irmãos e irmãs na dor. Sonho, pelo menos para mim, e assim faço coro com tantos outros como William Young, Brennan Manning e Henri Nouwen, que possamos encontrar a felicidade na medida em que abraçamos a vida "como ela é".

Segue a entrevista de Young. Destaque para a boa tradução e pela legenda, disponibilizadas pelo autor do blog "Tomei a pílula vermelha" (veja nos "links que recomendo").

Jonathan

sábado, 24 de janeiro de 2009

Não os tires do mundo...

Precisamos saber como aproveitar essa abertura das pessoas do mundo pós-moderno às experiências místicas para propagar por palavras e obras a verdadeira mística cristã, que não se encontra na negação de nossa humanidade ou na busca de um mundo ilusório da transcendência, ou de uma antecipação do céu aqui na terra, mas que se funda em um enigma real e objetivo na história: o mistério da encarnação de Cristo. A proposta do filho encarnado é de ressurreição e vida, mas também de libertação da matéria, de gente de carne e osso, que sofreu e sofre as mazelas e limitações dessa existência.

Algumas pessoas na igreja costumam ensinar, fazendo alusão à relação do cristão com o mundo que o cerca, que joio e trigo não se misturam, mas devem ser “separados” um do outro, a fim de que não se confundam. A pergunta é: quando é que eles se confundem? Obviamente quando o trigo não produz frutos. Produzindo frutos, o trigo naturalmente se diferencia do joio.

Como disse Caio Fábio, "As armas dos trigos não são como as dos joios. Os joios vão na força do estelionato, das mascaras, das aparências, das imagens, do poder de controlar, e, sobretudo, da mãe de todos esses males, que é a hipocrisia. O negócio do joio é parecer e aparecer. Mas não é... O trigo, porém,precisa combater dando muito fruto, e, para tanto, não tendo medo de morrer; pois, se não morrer, fica ele só, mas se morrer, aí sim, produz muito fruto. Se os seres trigo da terra decidissem viver sem covardia, mas com poder, amor, e moderação — nenhum poder no planeta seria mais forte do que esse".

Ora, joio é erva daninha e a presença de ervas daninhas no campo é normal. Vejam que na parábola do joio (Mt 13:24-30), Jesus passa a rever o modo de testemunhar a vinda do Reino de Deus e o julgamento final. Ali, temos a descrição de cada personagem e seu significado preliminar, posteriormente revelado por Jesus (v. 36-43): o homem (Jesus), o campo (mundo), o dono do campo (Deus Pai[1]), a boa semente (filhos do Reino), o inimigo (Diabo), o joio (filhos do maligno), e a colheita (fim desta era).

Desde a entrada do mal na existência, o campo tornou-se habitação natural do joio. O joio só se sabe como tal não por causa da boa semente plantada no campo, mas por causa de seus frutos (trigo). O joio só aparece onde há trigo, assim como o trigo só cresce porque está no meio do joio. O joio tem raízes fortes e, ao arrancá-lo, corre-se o risco de arrancar junto com ele o trigo, por isso o dono do campo ordenou aos servos que não o arrancassem (v. 29). “É impossível eliminar o mal sem o dano do bem. No reino é preciso tolerar a presença do bom e do mal, como Deus tolera a criação (Mt 5:45), respeitando a liberdade dos homens” (Mateos e Camacho).

Conclui-se que um isolamento só pode ser prejudicial para ambas as partes. O fruto que nos diferencia do mal do mundo (mas não nos separa), na verdade, é o amor, que é o elemento reconciliador subversivo do Reino de Deus. Amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O Reino de Deus amplia nossos horizontes de esperança e nos vocaciona para a vivencia já, hoje, da “liberdade da glória dos filhos de Deus”, redimindo-nos e aos nossos semelhantes do cativeiro da corrupção do pecado (Cf. Rm 8:21). E isso só se dá quando nos abrimos para o outro sem esconder nossa própria humanidade, oferecendo-nos como somos, em amor, como instrumentos de propagação de justiça, equidade, solidariedade e paz, ou seja, das marcas visíveis, ativas e concretas do reino, que não estão confinadas à circunscrição da igreja.

Nossa missão, desse modo, não consiste na “eclesiastização do mundo”, parafraseando Jürgen Moltmann, mas em fazer desse mesmo mundo, através de pequenas, mas revolucionárias, ações, um lugar cada vez mais parecido com o reino de Deus, como uma futuridade-presente e transformadora.

Nota

[1] Na interpretação da parábola, Jesus não faz essa identificação, que na verdade está implícita na idéia dos servos do dono do campo remetendo-se a ele (v. 27).

Jonathan

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Paixão pela liberdade

1.
O amor de Deus (ágape) – que se constitui em uma só realidade com o amor ao próximo, o qual Paulo coloca como limite de nossa liberdade – coaduna, sim, com a dor e o sofrimento, porque implica em renúncia, não em egoísmo, e em auto-doação, não apenas em auto-realização. Esse amor nos faz altruístas e nos deixa vulneráveis. Sua verdadeira realização e felicidade estão em oferecer-se, assim, imperfeito, como ser livre ao seu semelhante para servi-lo, sem esperar nada em troca, recordando as palavras do Senhor Jesus: “Mais bem-aventurado é dar do que receber” (Cf. At 20:35).
2.
Na lógica de Jesus, todos os demais atos humanos se nulificam diante do amor de um ser em relação a outro. O amor é a suma da lei e nele está a expressão concreta da graça. Por sua vez, “a graça é a presença de Deus em nós e no mundo, na pessoa e no Cosmo, presença essa, que tange nosso íntimo ser e nos confere, por nascença, uma inclinação para o outro e, nele, para Deus” (Feiner e Loehrer).
3.
O amor é essa demonstração da graça de Deus, que acontece quando esqueço um pouco de mim mesmo e passo a pensar no próximo; uma vontade que se, e somente se, torna natural (expressão da liberdade) quando passa a ser suscitada por essa graça. Dessarte, a verdadeira existência, na concepção de José Miguez Bonino, é aquela na qual o ser humano, livre e repleto de alegria, em relação às barreiras e limitações convencionais, além do que demanda ou exige a lei, inclusive muito além do que ela permite, solidariza-se com a necessidade do próximo e responde a tal necessidade.

"Amar é viver na direção do próximo pagando o preço correspondente pela identificação total e sem reticências com sua necessidade. Amar é submeter-se ao propósito criador de Deus manifesto nas diferentes ordens da vida humana – é servir ao próximo de maneira concreta na família, na ordem econômica, na ordem política. Amar é impregnar a totalidade das relações com a totalidade dos homens da disposição concreta ao serviço e entrega que Deus manifesta. Amar é ingressar nas relações e exigências éticas da cultura na qual nos encontramos com a livre determinação do novo homem em Cristo e repensar e reviver essas relações e exigências na forma nova que corresponde a esse novo homem".

(José Miguez Bonino. Ama e faze o que quiseres, p. 105)


Jonathan

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vocação para a liberdade

Perdemos o sentido da palavra liberdade – que há muito tem deixado de ser vocação – porque não compreendemos o valor do amor e do serviço à luz da experiência de Cristo. Não se trata, nesse ponto, de repudiar os atos de caridade e bondade existentes no mundo, nas organizações, ideologias e nos belos discursos sobre a necessidade de liberdade do ser humano e nas muitas iniciativas que caminham nesse sentido, mas de analisar criticamente em que medida esse amor e essa liberdade de que as pessoas, no presente, falam com tanto orgulho e entusiasmo, se assemelham com os ensinamentos e a prática de Jesus.

Temo que a liberdade ainda não tenha ultrapassado o nível do discurso em nossos tão conturbados dias. É um mero “acordo intelectual”, parafraseando Caio Fábio. Pode até existir como abstração da mente, mas ainda não entrou nas vísceras do ser humano. Os homens e mulheres de nosso tempo se contentam em apenas ter liberdade (em sentido estrito), e não em ser liberdade, partindo do pressuposto de que ela existe, na perspectiva de que Deus a criou, como vocação. Aceitar essa vocação, conforme observa Comblin (1996, p. 69), “é responder positivamente ao amor de Deus, dispor-se a ser capaz de ser amado e de amar. Esta resposta ao amor de Deus, que é a aceitação da vocação para a liberdade, é o que são Paulo chama a ‘fé’, e são João o ‘amor’, ou os evangelhos sinóticos a ‘conversão”.

Porém, os seres-do-hoje confundem amor com auto-realização, liberdade com egocentrismo e serviço com oportunismo. Valores como o altruísmo, por exemplo, são associados à falta de liberdade e não à conquista e/ou o exercício dessa. Nesse ínterim, ela deixou de ser chamamento, processo, conquista, ousadia, utopia e inventividade, passando a se resumir à tirania dos desejos, propiciação autocentrada, curtição efêmera, falta de compromisso, de engajamento, de ideais ou de santa inquietação com o hoje e com as vicissitudes do amanhã.

A vida cristã perde sua centelha revolucionária quando deixamos de acreditar e lutar pela liberdade, uma liberdade que não tem nada a ver com a mera satisfação imediatista de vontades, mas sim, com a esperança de ser livre na relação de amor com outros seres livres ou em busca dessa liberdade. Entretanto, é possível confundir a liberdade com o seu oposto, conforme lembra Paulo: “Que essa liberdade, porém, não se torne desculpa para vocês viverem satisfazendo os instintos egoístas. Pelo contrário, coloquem-se a serviço uns dos outros através do amor” (Gl 5:13).

Jonathan

domingo, 18 de janeiro de 2009

Comece o ano com "A Cabana"

Como você trataria a Deus se você tivesse acabado de perder uma filha, e da forma mais trágica possível: estupro e assassinato? Talvez nossa reação a uma tragédia como essas não seria diferente da de Mack, principal personagem desse fascinante, instigante e envolvente romance de William P. Young, “A Cabana” (Sextante, 2008). Aposto que a minha ou a sua reação estaria condicionada por nossas circunstâncias de vida, se de tristeza ou de alegria, de pranto ou riso, de vitória ou de derrota, de sucesso ou de fracasso, de ganho ou de perda. Esses duplos se misturam na dança da existência, e Deus, quer o reconheçamos, quer não, está no meio disso tudo.

Confesso que se olhasse para a capa do livro e para o fato de ter sido o primeiro lugar na lista dos mais vendidos do New York Times, não teria nem me interessado pela obra. O fato de ser um best-seller, mais depõe contra do que a favor de uma obra, de acordo com minha forma genérica de apreciação. Mas como foi uma indicação de um amigo, resolvi comprar e ler. E que grande aventura foi, para mim, a leitura dessa obra. Primeiro, pela maneira tocante e talentosa como o autor consegue escrever o enredo desse livro, prendendo sua atenção desde as primeiras páginas até as últimas. Segundo, por conseguir unir de forma tão competente o enredo e a reflexão, a ficção e a realidade, situações do cotidiano e a teologia, e por fazer perguntas que todos gostaríamos de fazer a Deus numa situação como a de Mack, mas que nem sempre temos coragem de fazer. Perguntas honestas a um Deus honesto.

Com essa fórmula eficaz, Young procura chamar atenção de seus leitores para uma imagem não-convencional de Deus; um Deus que não impede o sofrimento, mas sofre junto; um Deus que não está lá, em cima, distante, mas um Deus eterno-aqui-presente; um Deus que, em Jesus, “arregaçou as mangas” e “entrou no meio da bagunça”. Um Deus que se identificou com a humanidade, ao passo que se pode ver não Deus-na-humanidade, mas a humanidade-em-Deus: “Quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos” (p. 89). Um Deus criador que, por amor, escolheu se limitar e perder, para honrar e facilitar o relacionamento com suas criaturas. Um Deus que não interfere deliberadamente nas escolhas e na liberdade de suas criaturas, mas que respeita o estágio em que cada um de nós se encontra, pois “a liberdade é um processo de crescimento” (p. 85); ao mesmo tempo em que já foi conquistada – “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gl 5.1) – ainda continua sendo conquistada à medida que aceitamos nossa “vocação para a liberdade”, o chamado de vivenciá-la pela graça, passo a passo, todos os dias. Como diz “Jesus”, em uma de suas ricas conversas com Mack:
“A religião usa a lei para ganhar força e controlar as pessoas de que precisa para sobreviver. Eu, ao contrário, dou a capacidade de reagir e sua reação é estar livre para amar e servir em todas as situações. Por isso, cada momento é diferente, único e maravilhoso. Como sou sua capacidade de reagir livremente, tenho de estar presente em vocês. Se eu simplesmente lhes desse uma responsabilidade, não teria de estar com vocês. A responsabilidade seria uma tarefa a realizar, uma obrigação a cumprir, algo para vencer ou fracassar”.
(William P. Young. A Cabana. Sextante: 2008, p. 191).
Tenho recomendado essa obra para quem posso. Recomendo a vocês, leitoras e leitores desse blog. Que tal começar o ano com “A Cabana”? Desejo que essa história possa enriquecer sua caminhada, ao lado das histórias de Jesus e da Bíblia.

Jonathan

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Deus é liberdade? (Final)

Quando Moisés foi chamado e enviado por Deus para conduzir à libertação os filhos de Israel, sua dúvida era o que dizer caso fosse inquirido sobre o nome do Deus de seus pais, que o enviou e vocacionou para tal tarefa. Deus, por sua vez, respondeu: “Eu Sou o que Sou” (Êx 3:14). Ou seja, Deus só pode ser liberdade, em essência, porque Ele É. Não há nenhum outro nome que possa designar o ser de Deus melhor do que o “Eu Sou”. Quem É é, e não precisa de nada ou ninguém para determinar ou legitimar isso senão a si próprio, como no caso do Deus revelado pelas Escrituras, sua ação libertadora na criação e sua natureza ímpar, o amor. Para C. S. Lewis a liberdade de Deus consiste no fato de que nenhuma coisa, além dEle mesmo, produz os seus atos e “nenhum obstáculo externo o impede – que a sua própria bondade é a raiz de que todos eles brotam e sua própria onipotência o ar em que todos florescem”.

A Bíblia toda oferece um apanhado de argumentos e atestados que confirmam essa propriedade peculiar intrínseca a Deus. “Todos os caminhos de Deus são amor”, afirma o salmista (Sl 25:10), ou, literalmente, “Deus é amor”, conforme João (1Jo 4:8). Quem não ama não conhece a Deus nem tampouco a liberdade para a qual ele nos criou. Aliado a isso, um terceiro destaque que gostaria de dar é que quem não conhece a Cristo não conhece a Deus.
O próprio Jesus foi quem disse: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14:9). Isso significa que Cristo e o Pai são um só Deus, formando a comunhão trinitária com o Espírito Santo. O que quero dizer é que a identidade e o caráter de liberdade e amor do Deus “Eu Sou” foram materializados na pessoa de Cristo. O ensino de Jesus atesta isso: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30); “Antes que Abraão existisse, Eu Sou”. Cristo é o Alfa e o Ômega, de tal maneira que se apropria (não usurpa) da identidade de Deus revelada a Moisés. Assim, somente através do Filho do Seu amor podemos ser de fato livres: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8:36). O Filho de Deus foi aquele que, no desejo de conquistar a liberdade, denunciou os fariseus, sacerdotes, escribas e Herodes.

José Comblin afirma que essas ações não são propriamente ações de cunho político, mas são ações messiânicas. “Jesus queria ser livre e por isso rejeita a submissão às categorias de quem tinha usurpado o poder em Israel. Queria também que seus discípulos e todo o povo de Israel se emancipassem dessa falsa direção”. A sua liberdade estava a serviço do próximo, como bem relata o autor:
Doentes, leprosos e todas as pessoas cuja condição dava testemunho do estado de escravo. Eram todos escravos de algo. Jesus quis estar a serviço deles e dar-lhes o que estava a seu alcance para ajudá-los. Assim fazendo, entrou em conflito com as autoridades judaicas que não compartilhavam a sua compaixão. Ele vinha para salvar as ovelhas abandonadas. Jesus sabia que sua vida, os seus atos, os seus comportamentos, as críticas recebidas e as perseguições inevitáveis seriam normativas para os discípulos, seriam o caminho a ser seguido.

(José Comblin, Vocação para a liberdade, p. 40).
O cerne da compreensão da liberdade de Deus, portanto, está, parafraseando Comblin, em sua fraqueza voluntária: a liberdade de Deus reprime o poder, torna-o fraco para que apareça a força humana; sofre muito com a dor de seu Filho Amado, mais ainda com a rebelião e a dor da humanidade, tudo isso por seu infinito amor, para que o menor dos menores também pudesse experimentar dessa liberdade em seu relacionamento com o Criador e com as demais criaturas. Faço minhas as palavras de Jürgen Moltmann, de que “continua um sinal cristão da esperança para os desesperados o fato de que a ressurreição para a liberdade de Deus, se expressou no filho de Nazaré, homem abandonado, oprimido e crucificado”.

Jonathan

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Deus é liberdade? (II)

1.
Ainda hoje é corrente entre as pessoas a idéia de um Deus barganhável, como inclusive pode-se notar em uma das primeiras cenas do filme “O Todo-Poderoso”, em que Bruce, personagem de Jim Carrey, afirma que Deus é “um menino malvado e brincalhão” e poderia dar um “jeito nas coisas” se quisesse, num simples estalar de dedos. Afinal, quem não quer um Deus “gênio da lâmpada”, passível de ser objeto de manipulação em nossas mãos e oferecer respostas ou soluções imediatas aos nossos problemas, desde os menores aos mais complicados? Entretanto, essas barganhas protagonizadas pelos seres humanos são uma negação sutil e esdrúxula de sua razão de ser e da natureza do Deus Criador.
2.
Segundo o teólogo Karl Barth, com a proposição: “Deus é o Criador!”, que se reporta à história do Gênesis, estamos diante de uma esfinge que tem duplo conteúdo: trata da Liberdade de Deus (ou “Santidade”) sobre e contra o mundo, e de seu Relacionamento (ou “Amor”) com o mundo. Apesar de ter todo o poder e primazia sobre a criação, Deus age em liberdade e em amor. Deus não simplesmente governa o mundo, mas se relaciona com ele, de modo que qualquer ingerência do Criador sobre a existência criada respeita, se assim podemos chamar, duas “leis”: a lei da liberdade (Dele e da criação) e a lei do amor (na e pela criação).
3.
Não consigo pensar em outro motivo para que as pessoas atribuam liberdade a Ser de Deus senão pela visão monista que venho delineando de que Ele é o Todo-Poderoso, intocável, Deus que pode fazer o possível e impossível aos olhos humanos. Essa é a versão espiritualizada das construções humanas, que insistem em colocá-lo numa caixinha de fósforo e limitá-lo àquela circunscrição, no sentido do entendimento de quem Ele é e de sua natureza, mas não do que Ele pode fazer. Livre, para essas pessoas, é quem domina sobre outros e, em nenhuma hipótese, pode ser sujeitado a nada. Ser livre, conforme tal acepção, é ter poder e autonomia suficientes para realizar o que bem entender, sem ter que levar em conta as proporções que tais atos podem assumir na vida de outros.
4.
Nossa concepção hermética (fechada) de quem é Deus, limita-nos à compreensão da natureza de sua liberdade. Ora, se ser livre equivale a ter o supremo controle e a nada se submeter, logo, Deus não é liberdade, ainda que, nesse sentido, só Ele poderia ser, e segue-se que Deus é inimigo da liberdade humana, se é que tal liberdade existe, nestes termos. Afinal, se esquecêssemos, mesmo que por um instante, das nomenclaturas e representações emblemáticas sobre a Divindade erigidas historicamente (nomes e imagens de Deus), bem como a idéia comum de que Ele é onipotente, em essência, o que sobraria a respeito do que a Palavra diz sobre quem o Senhor é, como se revela e em que consiste a sentença: Deus é liberdade?

(Continua)

Jonathan

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Deus é liberdade? (I)

1.
Quando partimos do pressuposto básico de que existe um Deus, criador do universo e de todos os elementos que subjazem a esse, a idéia primária é de que Ele é Todo-Poderoso. Não só pela possível ocorrência do sobrenatural na criação, mas, sobretudo, porque a grandeza e a diversidade existentes nela exprimem uma “origem” igualmente grandiosa, conforme expõe Paulo: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1:20).
2.
Paulo não só está dizendo que os atributos de Deus, bem como seu eterno poder, são perfeitamente reconhecíveis por intermédio do que foi criado (e, por isso, visto), mas também que, por meio das coisas criadas, sabemos que Ele é Deus. O apóstolo ainda afirma, num momento anterior, que o que de Deus é dado conhecer aos homens, já foi manifesto entre os tais, isto é, concreto, objetivo, imanente – porque Deus, afirma o texto, lhes manifestou.
3.
Faço menção à referida passagem para argüir que não há como pensar no Deus criador de tudo isso que nos rodeia abstendo-nos da idéia de que Ele é Todo-Poderoso e Soberano. Todavia, partimos de um pressuposto equivocado quando aferimos que “soberania” é apenas poder para fazer ou deixar de fazer “grandes” e “perfeitas” coisas no universo. Corremos o risco de voltar ao caminho da metafísica[1] para conhecer Deus.
4.
Por muitos séculos, desde a Idade Média, a filosofia escolástica, que incidiu tanto sobre a teologia católica como protestante, preconizou os conceitos da filosofia grega (Aristotélica), condicionando a idéia de Deus a metáforas filosóficas racionalizantes. Postulou-se Deus como o onisciente, imutável, Todo-Poderoso, auto-suficiente, elaborando conceitos de causa e efeito que o reduziram ao patamar de uma “substância”: racional, científica, demonstrada e indiscutível.
O Deus de Aristóteles, conforme observa José Comblin, “era o fornecedor de energia ao mundo inteiro, era o ponto de partida de todos os movimentos. Por conseguinte, era membro e parte do universo”. Dessarte, “o Deus da Bíblia foi, pouco a pouco, recoberto pelo Deus da metafísica” (Comblin, Vocação para a liberdade, p. 61, 62).
5.
Essa é uma perspectiva que não somente reduz Deus a uma categoria do pensamento humano, considerando apenas aquilo que Ele faz e não o que Ele é, como também inibe a percepção de um Deus que é vital e, por isso, sintético (no seu agir sensível); que se revelou objetivamente na história e atua concretamente na vida da criação, não como uma expressão subjetivista, mas libertadora da matéria. Deus é vida e não um conceito ou objeto. “Assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo” (Jo 5:26). Comblin ressalta que “liberdade é a capacidade de fazer surgir vida, dom de vida. Por isso Deus é liberdade perfeita, porque produz vida perfeita: o Filho e o Espírito Santo, igual a ele”.

(Continua)

Jonathan

Nota
[1] Ramo da filosofia que investiga os princípios fundamentais da realidade que estariam “além” (por isso, meta) do âmbito da ciência, isto é, do campo físico, empírico. O nome procede de um volume de ensaios de Aristóteles posteriormente denominado pelos compiladores de “Depois da Física” (meta ta physika).

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Comunidade e liberdade

Ora, se não existe lugar para a libertação genuína fora da relação ser-criado-livre e Livre-Ser-Criador, o mesmo não haverá senão entre seres-criados-livres em relação mútua e interdependente. Em outras palavras, o ser humano precisa dos relacionamentos para vivenciar inteiramente a experiência de liberdade. Precisa de comunidade, pois em comunidade a liberdade pessoal é aperfeiçoada. O livre encontro com o Criador, por sua vez, depende do livre encontro com a comunidade da fé. A isso podemos chamar de dialética da liberdade cristã, cujo cerne está na ênfase joanina sobre a liberdade. Lembrando do que disse Martinho Lutero, “um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém”, mas que, ao mesmo tempo, “é servidor de todas as coisas e sujeito a todos”.

De acordo com José Comblin, a captação mais precisa da liberdade não se realiza por um ato único, isolado dos demais, individualista. Segundo ele:

A liberdade somente existe numa grande diversidade de “liberdades” e cada uma é objeto de longas, repetidas, cansativas operações de conquista: liberdade das forças de dominação da natureza física do inconsciente, liberdade das forças políticas e econômicas múltiplas que procedem de uma história complexa e de relações mútuas entre indivíduos e grupos (...) Nossa liberdade existe nas liberdades conquistadas entre essas múltiplas relações com os outros seres humanos e com o conjunto do mundo material.
(José Comblin. "Cristãos rumo ao século XXI", p. 70,71).

Portanto, o ato singular e genuíno de liberdade está no encontro com outras liberdades – de Deus e do próximo – conforme a relação de mútua dependência e de liberdade que há entre as três pessoas da Trindade: Pai, Filho e Espírito, refletindo a união eterna do Deus da comunhão. Não sou livre para me acomodar com os enganos do conformismo e do conforto individualista, de achar que liberdade é para fazer o que quero e como quero, mas para abdicar da zona de conforto e encontrar-me com o outro, pois, encontrando o outro, estarei indo ao encontro de mim mesmo e em direção ao Espírito do Deus que nos criou.
Jonathan

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Liberdade não domina, liberta

1.
A liberdade cristã , parafraseando de John Stott, consiste na libertação pessoal de meu tolo e diminuto ego, a fim de viver responsavelmente em amor a Deus e aos outros.
2.
Liberdade não é, por assim dizer, afastamento nem tampouco dominação. Na acepção de Jürgen Moltmann, “quem entende a liberdade como dominação, na verdade só conhece a si mesmo e sua propriedade". É uma grande incoerência chamar de liberdade o que, para outros, é só opressão: a liberdade-riqueza que torna outras pessoas pobres; o livre exercício de um poder que apenas escraviza os seus “súditos” – homens, mulheres e crianças. A liberdade, por sua vez, só acontece quando reconhecemos os outros e por eles somos reconhecidos. Essa é a liberdade como comunhão. Segundo Moltmann, “sou verdadeiramente livre quando abro a minha vida aos outros e com eles compartilho, e quando os outros abrem a sua vida para mim e compartilham comigo”.
3.
A liberdade como dominação é a liberdade que pretensamente se “conquista”, seja por meio da disputa e do embate aberto com o outro, ou por intermédio da fuga para dentro de si mesmo (egocentrismo). Mas liberdade, num sentido mais profundo, não é conquista, mas é recebida como dom de Deus. Assim como há somente um único Deus, o qual nos concede o dom da liberdade, logo há também uma única via de liberdade, que é a que procede desse Deus. Existem possibilidades de interpretação, tematização e compreensão dessa liberdade, por meio de diversas fontes. Contudo, ela se une com aquele que a gerou.
4.
Também não existe liberdade genuína para o ser humano fora da relação com Deus. Se a liberdade humana não está centrada em Deus, perde seu foco e sua essência, passando a ser propiciação autocentrada, isto é, o “eu” é quem comanda a liberdade de si e para fora de si mesmo. E, ao invés de liberdade, tem-se uma das piores formas de dominação, orientada para o ego: a libertinagem. João Batista Libânio afirma que “vive mais profundamente a liberdade cristã um ateu que orienta sua vida para a comunhão com os irmãos, sacramento da união com Deus, mesmo sem disso ter consciência reflexa, que um cristão que vive a liberdade na solidão do egoísmo, rompendo a comunhão com os irmãos e com Deus”.
Jonathan

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Liberdade ou segurança?

Como vivenciar uma sem ter de sacrificar a outra? Como se ter uma sem o prejuízo da outra? O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos autores que mais tenho lido nessas férias, demonstra essa preocupação em seu livro "Comunidade: a busca por segurança no mundo atual" (2000). Ali ele afirma que liberdade e segurança, ambas igualmente urgentes e indispensáveis, são diíceis de se conciliar sem atrito. Assim, concebe-se o curso da história como "pêndular". Facilmente se vai do pêndulo entre uma liberdade sem segurança ou o de uma segurança sem liberdade.
2.
Destaco a seguintes palavras de Bauman:

"A promoção da segurança sempre requer o sacrifício da liberdade, enquanto esta só pode ser ampliada à custa da segurança. mas segurança sem liberdade equivale a escravidão...; e a liberdade sem segurança equivale a estar perdido e abandonado (...). Essa circunstância provoca nos filósofos uma dor de cabeça sem cura conhecida. Ela também torna a vida em comum um conflito sem fim, pois a segurança sacrificada em nome da liberdade tende a ser a segurança dos outros; e a liberdade sacrificada em nome da segurança dos outros; e a liberdade sacrificada em nome da segurança tende ser a liberdade dos outros".

3.
Uma resposta de matriz cristã, encontraria sua resolução nessas últimas sentenças de Bauman: Ambas, liberdade e segurança, são "sacrificáveis" pelos outros. Se a escolha pela liberdade resulta em sacrifício da segurança (dos outros), logo, o cristão sacrifica a sua "liberdade pessoal" em nome dessa vida pelo outro - que, em si, nos remete ao verdadeiro significado da liberdade do tipo cristã. Se minha segurança fere a liberdade dos outros, ou o inverso, sacrificarei minha segurança para que o outro seja mais livre. Parece que a visão cristã sempre conduz a uma auto-sacrificação do eu em nome dos outros.
Ainda quero continuar nesse assunto...

Jonathan