terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Deus é liberdade? (II)

1.
Ainda hoje é corrente entre as pessoas a idéia de um Deus barganhável, como inclusive pode-se notar em uma das primeiras cenas do filme “O Todo-Poderoso”, em que Bruce, personagem de Jim Carrey, afirma que Deus é “um menino malvado e brincalhão” e poderia dar um “jeito nas coisas” se quisesse, num simples estalar de dedos. Afinal, quem não quer um Deus “gênio da lâmpada”, passível de ser objeto de manipulação em nossas mãos e oferecer respostas ou soluções imediatas aos nossos problemas, desde os menores aos mais complicados? Entretanto, essas barganhas protagonizadas pelos seres humanos são uma negação sutil e esdrúxula de sua razão de ser e da natureza do Deus Criador.
2.
Segundo o teólogo Karl Barth, com a proposição: “Deus é o Criador!”, que se reporta à história do Gênesis, estamos diante de uma esfinge que tem duplo conteúdo: trata da Liberdade de Deus (ou “Santidade”) sobre e contra o mundo, e de seu Relacionamento (ou “Amor”) com o mundo. Apesar de ter todo o poder e primazia sobre a criação, Deus age em liberdade e em amor. Deus não simplesmente governa o mundo, mas se relaciona com ele, de modo que qualquer ingerência do Criador sobre a existência criada respeita, se assim podemos chamar, duas “leis”: a lei da liberdade (Dele e da criação) e a lei do amor (na e pela criação).
3.
Não consigo pensar em outro motivo para que as pessoas atribuam liberdade a Ser de Deus senão pela visão monista que venho delineando de que Ele é o Todo-Poderoso, intocável, Deus que pode fazer o possível e impossível aos olhos humanos. Essa é a versão espiritualizada das construções humanas, que insistem em colocá-lo numa caixinha de fósforo e limitá-lo àquela circunscrição, no sentido do entendimento de quem Ele é e de sua natureza, mas não do que Ele pode fazer. Livre, para essas pessoas, é quem domina sobre outros e, em nenhuma hipótese, pode ser sujeitado a nada. Ser livre, conforme tal acepção, é ter poder e autonomia suficientes para realizar o que bem entender, sem ter que levar em conta as proporções que tais atos podem assumir na vida de outros.
4.
Nossa concepção hermética (fechada) de quem é Deus, limita-nos à compreensão da natureza de sua liberdade. Ora, se ser livre equivale a ter o supremo controle e a nada se submeter, logo, Deus não é liberdade, ainda que, nesse sentido, só Ele poderia ser, e segue-se que Deus é inimigo da liberdade humana, se é que tal liberdade existe, nestes termos. Afinal, se esquecêssemos, mesmo que por um instante, das nomenclaturas e representações emblemáticas sobre a Divindade erigidas historicamente (nomes e imagens de Deus), bem como a idéia comum de que Ele é onipotente, em essência, o que sobraria a respeito do que a Palavra diz sobre quem o Senhor é, como se revela e em que consiste a sentença: Deus é liberdade?

(Continua)

Jonathan

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