quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um canto de vitória e esperança (II)

O que nos motiva e nos move a continuar cantando?

Assim como nós, o apóstolo Paulo também faz perguntas: Que diremos diante destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Não nos dará Deus, de graça, todas as coisas? Quem nos fará acusação?Quem nos condenará? Quem nos separará do amor de Cristo? (Rm 8.31-39).

Por trás de cada uma dessas perguntas, há uma afirmação: de que Deus está ao redor e no interior da vida, provendo, cuidando, libertando, agindo soberanamente, sendo Deus! Em Jesus Ele nos deu a maior prova de amor de todas, não poupando seu próprio Filho. E, em outras palavras, o que Paulo está dizendo aqui é que nada do que diz respeito a este mundo e a esta vida pode eliminar ou nos privar dos efeitos deste ato de amor de Deus!

Embora a declaração de que somos mais que vencedores tenha se tornado um clichê usado pelos dois primeiros grupos, a) os do canto triunfalista, e b) os do canto de negação, ela está mais associada com os do terceiro grupo, c) da afirmação e aceitação jubilosa.

Será que Paulo está aqui negando que existem condenação ou separação? Ou que tribulação, fome, nudez, perigo, espada, perseguição, angústia e morte têm poder sobre nós? No meu entendimento, não! Porque, se esse é o canto de Cristo, é o canto daquele que venceu a morte, porque antes passou por ela; é o canto daquele que nos deu a esperança da ressurreição e da vitória, mas não rejeitou o caminho da cruz e do fracasso. Ou seja, nós podemos ou vamos passar, ou já temos passado por isso tudo (vide o v. 36, em que se diz: "Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro").

O que nos move ou motiva a continuar cantando ao passar, é que nenhuma delas tem poder suficiente para nos apartar do amor de Cristo! Nenhuma! Nada! Assim...

O cântico do amor é o que aumenta nossa fé e nos dá esperança!

Sempre acreditei, contra todas as falsas expectativas e os falsos sentimentos, que o AMOR é a mais sublime e necessária de todas as virtudes, marca da imagem de Deus em nós...

Não porque seja um sentimento, mas porque é e se traduz em ação! Ação que nunca julga se é justo ou injusto pagar, com a própria vida se preciso for, para que outros vivam. Por isso o amor é permeado pela dor e a incompreensão. Que razão, por mais inteligente que seja, consegue compreender o amor?

Jesus foi essa pessoa... Permeado de incompreensão, de dor, de amor – e por isso da maior alegria! A alegria que nada pode arrancar, pois não depende das circunstâncias. Por seu exemplo podemos hoje dizer, crer, esperançar: a morte não é o fim, é o começo! Nada pode nem poderá nos separar do seu amor!

Jonathan

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um canto de vitória e esperança (I)

Como entoar um cântico de vitória e esperança em meio às adversidades?

É fácil cantar cânticos de vitória quando se é vitorioso; de alegria, quando se está alegre, e de esperança, quando as coisas que esperávamos acontecer, aconteceram. Só que o mais louco e contraditório da vida cristã, vida na fé, é que por tantas vezes, e pelas mais variadas razões, somos incentivados a cantar, apesar das circunstâncias. Mas, como podemos ser honestos com a vida, com as pessoas, com Deus e com nossos próprios sentimentos diante das perdas, e ainda assim, cantar?

Temos conhecido algumas formas de se fazer isso no cristianismo atual:

(1) Uma delas, diz respeito a “cantar vitória”, porque assim fazendo, “chamamos” a vitória para o nosso lado. Esse é o canto triunfalista. Talvez um dos mais populares hoje em dia...

(2) Outra, é o que podemos chamar de canto de negação. É o canto que nega a realidade, pois nos afasta dela. É o canto que nos dá doses de ilusão, de que tudo está sob controle e vai ficar bem, mesmo que nada esteja bem e, por certo tempo, nem vá ficar bem...

(3) O terceiro canto é o canto de afirmação e aceitação jubilosa. Aqui, reconhece-se a realidade, lamenta-se por ela, contudo, a realidade, por mais dura que possa ser, não pode paralisar o canto. Porque o canto, não nega nem está apartado da realidade...

A terceira forma de ser e cantar é a que mais me parece condizer com os muitos exemplos das Escrituras. E aqui quero ilustrar com dois poetas. Ninguém melhor do que eles para nos falar nessas horas... Eugene Peterson disse que os poetas são “pastores de palavras”, pois eles lidam com respeito e reverência tanto as palavras, quanto a realidade que elas representam.

1º exemplo: o rei-poeta Davi. É um daqueles que nos lembra a integridade que devemos ter. Nossos cânticos devem ser expressão do que vivemos. Davi cantava o que vivia.

Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus? Minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, pois me perguntam o tempo todo: "Onde está o seu Deus?". Quando me lembro destas coisas choro angustiado. Pois eu costumava ir com a multidão, conduzindo a procissão à casa de Deus, com cantos de alegria e de ação de graças entre a multidão que festejava. Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus (Salmo 42.1-6).

2º exemplo: o profeta-poeta Habacuque. A situação do profeta e do povo era de escuridão. Mas seu canto é uma das mais bonitas expressões de afirmação e aceitação jubilosa.

Mesmo não florescendo a figueira, e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no SENHOR e me alegrarei no Deus da minha salvação. O SENHOR, o Soberano, é a minha força; ele faz os meus pés como os do cervo; faz-me andar em lugares altos (Habacuque 3.17-19).

Sinto que nós precisamos de um canto de afirmação: da vida, apesar da morte; da esperança, apesar do desmoronamento de expectativas; de alegria, em meio a tristezas; de vitória, não obstante as perdas.

(Continua...)

Jonathan