sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Algumas máximas do Natal

Onde está a verdadeira magia do natal? Que história nós contaremos aos nossos filhos? No que devemos crer? O que devemos proclamar, e com que “espírito”?
1.
Natal é Deus intervindo na história de nossas vidas para transformar impossibilidade em possibilidade – SALVAÇÃO.
2.
Natal é tempo de “ações de graças”, mas precisamos lembrar que TUDO o que poderíamos receber por essas ações, já foi dado por Cristo – GRAÇA.
3.
Natal é tempo de voltar à manjedoura e relembrar em que condição o Senhor nos resgatou, e na qual Ele deseja que permaneçamos – HUMILDADE.
4.
A boa nova do natal é que Deus está criando e confirmando vida em contextos de impossibilidade, e atentando para o que ninguém atenta – MISERICÓRDIA.
5.
A boa nova do Natal é o extraordinário de Deus alcançando aquilo que é mais ordinário; é a encarnação do menino Deus segundo a humana condição – COMPAIXÃO.
6.
A nova vida que Deus cria em você e em mim, só pode ser plantada pelo Espírito. A boa nova do natal é que Somente o Espírito pode nos engravidar de Jesus, de sua salvação e liberdade – NOVO NASCIMENTO.

Acertadamente Eugene Peterson disse que “a salvação significa Deus fazendo por nós o que não podemos fazer por nós mesmos”. O que podemos fazer é apenas adorar. É o que Maria fez em seu cântico: não deu explicações lógicas e sistemáticas sobre a salvação em Deus, e sim testemunho de Deus, que em sua misericórdia alcançou sua serva, e adoração a Ele, pois Ele é a razão de ser do NATAL, e nada mais...

Nesse natal, peça para o Espírito renovar em seu coração esse reconhecimento; é tempo de celebrar o nome do Senhor pela sua fidelidade, pois Ele nunca nos deixa sozinhos na caminhada... Ele é o Emanuel, Deus de perto, Deus conosco!

Feliz natal!

Jonathan

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Quando a vida vira pura vaidade

Uma das questões do livro de Eclesiastes é: quando não estimamos a vida de modo devido, ela vira pura vaidade! “A criação”, disse Paulo, “está sujeita à vaidade” (Rm 8.20). “Estar sujeito” é igual a estar cativo, submisso, obediente a uma lei contra a qual não se pode lutar (no sentido de extinguir). Como diria o ditado, tirado de Eclesiastes: “Pau que nasce torto nunca se endireita” (Ec 1.15). Isto é, não há quem, bom ou mau, justo ou injusto, em maior ou menor escala, não esteja sujeito à vaidade.

Debruçamo-nos em experimentar a vida. Salomão se debruçou na experiência tanto de saber, quanto de sentir. Foi o maioral em Jerusalém em sabedoria, riqueza e experiências (Ec 1.18; 2.9; 1Rs 10.23); desejou a sabedoria desde o princípio (1Rs 3.9); aplicou-se em conhecer e saber, e uma das conclusões a que chegou foi: “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade” e é “correr atrás do vento”. A expressão “tudo é vaidade” aqui pode significar algumas coisas: o que é efêmero, transitório, fútil, enigmático, sem sentido.

E uma razão para esse “desespero”, mesmo em relação à sabedoria, foi dada: quem pensa sofre! “Pois quanto maior a sabedoria, maior o sofrimento; e quanto maior o conhecimento, maior o desgosto” (Ec 1.18). O filósofo Miguel de Unamuno parece se alinhar com essa perspectiva, ao afirmar: “A consciência é uma doença”. A benção da consciência é poder saber em que solo está pisando; a maldição é a incapacidade de mudar de solo apenas pelo “poder de saber”. Eis o paradoxo da sabedoria: o saber é superior à ignorância; mas quem sabe, além de sofrer mais, ainda é nivelado por baixo, pelas contingências da vida, com quem não está nem aí para o saber.

Então ele resolve mergulhar na futilidade: “Vamos lá, experimentar o prazer que a vida tem oferecer (Ec 2.1). Se a sabedoria não me possibilita estar no controle, me deixo ser levado. Ed René Kivitz lembrou bem da música do Cazuza, em seu O livro mais mal-humorado da Bíblia: “Vida louca vida, vida breve, já que eu não posso te levar quero que você me leve”. Assim ele se entrega a si mesmo: “Nunca disse não a mim mesmo; não me privei de nenhum impulso; disse sim ao prazer desenfreado” (2.10).

Um projeto egoísta e auto-suficiente se evidencia nas expressões “resolvi”, “decidi”, “juntei”, “lancei-me”, “comprei”, “engrandeci-me”, ao longo do relato do pregador. Ou seja, lançou-se no projeto da serpente... Até se deparar com o paradoxo do hedonismo: quanto maior a entrega ao prazer puro e simples, instantâneo, menos satisfação real e menor sentido há de se ter.

E diante dos dois paradoxos, ele dirá: eu “aborreço”, “desprezo”, “odeio” a vida (2.17). E quem não diria, diante da percepção de que ela não entrega exatamente aquilo que promete? Como o cristão pode viver no labirinto? Como pode enfrentar os paradoxos e a vaidade da vida? Primeiro, aprendendo a aceitar a nossa falta de controle sobre a vida. É mais honesto dizer “Eu não sei”. Segundo, aprendendo a valorizar o momento. Cada momento da vida pode ser único, cada experiência, singular. Terceiro, aprendendo que o prazer é bom, mas não ilimitado. Se passar do ponto, deixa de ser prazer e passa a ser dor, vaidade. Quarto, aprendendo que a felicidade não existe fora de Deus. “Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas”.

Essas contribuições, todas, estão em Eclesiastes. E soa tão inacabadas, quanto esse mesmo livro. E aí está a graça, daí o seu fascínio tremendo: deixar com que as perguntas falem tão alto que as respostas não possam ser simplistas, ou simplesmente não apareçam de cara, pois assim é a nossa vida debaixo do sol, não?

Jonathan

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Neste natal você precisa engravidar!

Maria... achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mateus 1.18).

Do ponto de vista secular, natal é uma festa religiosa como qualquer outra, onde se comemora o advento, a vinda do “menino Deus”. Mas por que celebrar a vinda de Deus se, durante todo o ano, tocamos nossas vidas como se ele não existisse? O que, de fato, as pessoas estão celebrando? Celebração por celebração existem tantas outras – aniversário, dia das mães, dos pais, das crianças, das mulheres, etc. Assim, o que faz – ou deveria fazer – do natal uma celebração tão especial?
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Para mim, o natal traz uma notícia especial: a de que, queiramos ou não, acreditemos ou não, não estamos sozinhos nesse mundo. Foi-nos enviado o Emanuel, que significa “Deus conosco”. O barco da história não está à deriva. Deus está nele com a gente. A salvação está hoje-já-aqui-presente. Deus, como diz uma canção, “não vive longe lá no céu sem se importar comigo”. Ele se encarnou para viver em e com a humanidade.
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Foi Jesus mesmo quem disse: “O reino está entre vocês”. Não de maneira estrondosa, como os grandes e pomposos reinados humanos, mas silenciosa e revolucionária. As visibilidades e sinais do reino são pessoas que levam a sério o chamado de Jesus e encharcam suas vidas e a de outras pessoas com amor, paz, justiça, solidariedade, equidade, liberdade, compaixão, enfim, a lista é grande. Então, por que ainda persiste esse sentimento todo fim de ano de que a mensagem do natal “cai no vazio”? Vazio que tem sua maior expressão quem sabe no consumismo, um dos deuses deste século. Porque, em muitas pessoas, mesmo as mais religiosas, Jesus ainda não nasceu. Pode ter nascido na história, mas ainda não no ser das pessoas. E o que é preciso acontecer antes do nascimento? Todos sabem que é a gravidez.
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Maria foi engravidada pelo Espírito de Deus. Tem gente que ainda conta a história da cegonha para seus filhos, e acho que, para muita gente de religião, “Jesus” veio pela cegonha, ou seja, não nasceu de fato, foi encomendado, é um “Cristo genérico”, parafraseando Eugene Peterson, ou um Jesus “Genésio”. Para que Jesus nasça em nós e para que o natal tenha sentido, precisamos nos deixar ser engravidados pelo Espírito. Somente ele pode nos engravidar de Jesus, do Deus conosco operando em nós aqui e agora. O sacerdote (padre, pastor, xamã, guru, pai de santo, etc.) não é capaz, nem a religião, nem as boas obras, nenhuma criatura, nenhum rito, culto, sacrifício, nada. A nova vida que Deus cria em você e em mim, só pode ser plantada pelo Espírito. A boa nova do natal é que Somente o Espírito pode nos engravidar de Jesus, de sua salvação e liberdade.
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Por isso, deixe o Espírito te engravidar da vida plena: de liberdade, de sonhos, de projetos de vida que sejam um convite para que o “Deus conosco” esteja em todos eles, no próximo ano e para o resto de sua vida. Pense nisso, e abra de uma vez por todas sua vida para que o espírito de Deus te engravide de Jesus!

Grande beijo e um feliz natal!

Jonathan

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ecumenismo, diálogo e celebração das diferenças

É certo, para fins cognitivos e práticos, que encontro e diálogo não existem para negociar questões fundamentais de fé, mas serve para potencializá-las. Aquele que tem segurança a respeito de sua própria identidade não tem de ter medo do diálogo. Dessa forma, o ecumenismo – do grego oikomene, toda terra habitada – brota da consciência de que todos os cristãos possuem uma militância em comum: o reino de Deus.

O reino é a causa que reúne os diferentes; quem vive nele e por ele, tem a percepção de que a oikos (casa) do outro é também a sua, e pode se tornar um melhor lugar para todos se aprendermos na prática o simples (e complexo ao mesmo tempo) ensinamento de Jesus: ame seu próximo como a si mesmo.

O fim maior do ecumenismo consiste em edificar e validar o testemunho cristão no mundo. Como observou certa vez um teólogo luterano, se atentássemos à unidade nas coisas essenciais, à liberdade nas não-essenciais, e o amor em todas as coisas, nossas relações talvez não estivessem na melhor situação possível, mas com certeza estariam numa melhor situação. E, acrescento: a igreja não cairia no descrédito em que, infelizmente, tem caído nos últimos tempos perante a sociedade civil.

Uma das barreiras ao ecumenismo é esse nosso apego descabido às coisas e às instituições, deixando as pessoas em segundo plano. Na bíblia vemos um Deus irado contra as instituições (cujos propósitos são deslocados) e que ama sobremaneira o ser humano. Por outro lado, temos invertido esse princípio: amamos as instituições e odiamos os homens. A instituição deve existir em função do humano e não o contrário.

Ser ecumênico é ser totalmente apaixonado por tudo o que toca o humano, à medida que se é tomado por uma paixão pelo Senhor. Quem conhece a Deus precisa, necessariamente, reconhecê-Lo no outro. Não há dissociação: nossas relações humanas são um reflexo mais que real de nosso relacionamento com Deus. Quem diz que ama a Deus e não ama a igreja e as pessoas, automaticamente anula essa suposta declaração de amor.

Este é um dos princípios do ecumenismo, do diálogo, e da celebração das diferenças: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus, ame também a seu irmão” (1Jo 4.19-21).

Jonathan

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Dúvida - por Henri Nouwen

Antes de bebermos do cálice, devemos segurá-lo [...]

Segurar o cálice da vida significa olhar, de modo crítico, a vida que estamos vivendo. Isso exige grande coragem. Quando olhamos para nós mesmos, podemos nos sentir atemorizados com o que vemos. Podem surgir perguntas para as quais não temos respostas. Podem aparecer dúvidas sobre o que estávamos certos de conhecer. Pode brotar o medo de lugares inesperados.

Somos tentados a dizer: “Importa simplesmente viver. Todas as explicações só tornam as coisas mais difíceis”. Todavia, por intuição, sabemos que, se não olharmos a vida de modo crítico, perderemos nossa visão e nossa direção. Quando bebermos do cálice sem primeiro segurá-lo, podemos simplesmente nos embriagar e ser levados a vagar por aí sem rumo.

Segurar o cálice da vida é uma difícil disciplina. Somos pessoas sedentas que desejam começar a beber imediatamente. Contudo, precisamos conter nosso impulso, tomar o cálice com as duas mãos e perguntar para nós mesmos: “O que me á dado para beber? Qual é o meu cálice? É prudente bebê-lo? É realmente este o meu quinhão? Isso me trará saúde”.

Sempre acreditei que um dos principais objetivos do ministério consiste em colocar ao alcance dos outros as nossas lutas de fé, tornar compreensível para os outros as nossas dúvidas, e confessar, com sinceridade, “eu também não sei as respostas. Sou um simples catalisador; sou apenas alguém que quer expressar o que você já sabe, mas que poderá aprender melhor se for traduzido por palavras”.

Henri Nouwen
(Extraído de: BITUN, Ricardo. Henri Nouwen de A a Z. São Paulo: Vida Acadêmica, p. 174).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Conversa sobre a salvação

Certa vez, um menino chegou a seu pai puxando a seguinte conversa:

“Pai, meus coleguinhas da igreja e eu estamos muito preocupados”. “Por que, filho?”, perguntou o pai. “Ah pai, é que a professora da escola dominical passou um filme pra nós, que falava do fim do mundo, da volta de Jesus, e de todo mundo que não vai pro céu por ter sido ruim aqui na terra e não ter feito o que Deus manda. Me diz, pai: o que eu devo fazer pra conseguir essa tal de salvação?”.

O pai, impressionado, mas com paciência, respondeu: “Nada filho”. “Como assim nada, pai?”, indagou o filho curioso. “Isso mesmo filho, aquilo que você e eu poderíamos fazer, Jesus já fez por nós, e disse ‘pronto, está acabado”. No que o filho rebateu: “E pra gente não restou nada?”. “Restou sim”, disse o pai: “Nossa parte é a de nos arrepender de nossos pecados e crer que o que Jesus fez é suficiente como remédio pra curar a gente”.

“Hummmm... Mas e como posso ter certeza de que sou salvo?”, foi mais além o menino. “Bem filho, a bíblia ensina que essa certeza também provém da fé. Você até não sabe de todos os detalhes, mas crê, e o Espírito Santo confirma no seu coração essa certeza”.

Houve silêncio por alguns instantes, até que o filho falou baixinho: “Paiê...”. E o pai respondeu já com certo incômodo: “Fala filho!”. “Não é por nada não, mas sendo assim, acho Jesus meio egoísta”. E o pai, espantado, perguntou: “Por que egoísta filho?”. “Ah, porque ele fez a parte dele, a de Deus e a nossa, e de quebra ainda não deixa nada pra gente poder fazer... que chato!”.

Essa conversa me faz pensar que, para alguns, a graça é um tédio mesmo. Porque ela tira de nós todo o controle. A Deus pertence não somente o querer, como também o realizar. E aquilo que a gente realiza, realiza por gratidão, amor e obediência a Ele. Não podemos mais inverter os termos: nossas “boas ações” existem por causa da nossa comunhão com Deus, e não a comunhão com Deus existe por causa das nossas “boas ações”. Acertadamente Eugene Peterson disse que “a salvação significa Deus fazendo por nós o que não podemos fazer por nós mesmos”. É Deus intervindo na história de nossas vidas, transformando impossibilidade em possibilidade; é o extraordinário Divino alcançando o mais ordinário; é o Eterno criando e confirmando vida onde já não mais existia. O que podemos fazer é servir e adorar gratuitamente. "Minha alma engrandece ao Senhor, meu espírito se alegra em Deus, meu salvador". A Ele a Glória pra sempre!

Jonathan