segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Com a palavra do Perdão

forgiveness 2

Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores
(Mateus 6.12).

Quando falamos em perdão, falamos de um ato comum, sobretudo, àqueles que vivem e estão na fé, mas incomum à natureza humana. Isto, pois “perdão”, na definição de Miroslav Volf, significa dar aos transgressores a dádiva de não usar sua transgressão contra eles.

Assim, na relação entre natureza e graça, perdão é graça, que visa redimir a natureza de si mesma. Na natureza, por sua vez, fala mais alto a justiça própria, merecida e paga.

Por que é tão difícil perdoar? Pode haver muitas respostas, de acordo com inúmeras maneiras e experiências. A raiz, para mim, está no fato de que perdoar implica, na maioria das vezes, em ferir o orgulho. O inimigo mortal do perdão, portanto, não é o não-perdão, mas o orgulho. Feri-lo é ferir a si mesmo. Não há como perdoar sem aprender a conviver com a ferida da ofensa não paga, da não restituição – palavra em moda, especialmente nos círculos da prosperidade. E o orgulho interfere não somente no ato de perdoar, mas também de receber perdão. O orgulho nos faz preferir conviver com a agrura do gelo e do castigo que com o constrangimento gerado pelo perdão.

Então é isso: perdão não tem nada a ver com merecimento ou com justiça, mas com gratidão. É a gratidão que nos conduz ao “assim como” do perdão de Jesus no Sermão do Monte. Trata-se de uma realidade inseparável do perdão: ser alcançado pelo perdão divino nos conduz a disponibilidade para perdoar. E todos têm débitos, não é mesmo?

Cristo não está, dessa forma, condicionando o perdão de Deus ao nosso perdão – isso não faz o menor sentido! Ele está aprofundando a discussão: para que você entenda, absorva e cresça no perdão divino, é preciso aceitar-se como aceito e também aprender a aceitar o outro. Deus perdoa gratuitamente aquele que reconhece que precisa do, e recebe o, perdão tanto quanto vive como perdoado-perdoador.

Voltaire, por exemplo, define “tolerância” como “o apanágio da humanidade”, isto é, a sua característica própria, afinal todos cometem delitos e deveriam, partindo desta premissa, perdoar e tolerar o outro em relação aos seus. O perdão também advém daí: do reconhecimento de si mesmo como tão transgressor quanto o outro (logo, sua transgressão não me pode ser estranha), e de que fomos alcançados pela graça do perdão.

O “assim como”, portanto, não é tanto um imperativo ético, do ponto de vista do dever, quanto o é da gratidão. E a graça do perdão não é imperativa, nem justa. Como diz Volf, “o perdão corta a corda de equivalência entre a ofensa e a maneira como tratamos o ofensor”. O perdão é, assim, uma vívida expressão da loucura divina. É coisa para gente louca e não para gente conseqüente.

Jonathan