sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Paixão pela liberdade

1.
O amor de Deus (ágape) – que se constitui em uma só realidade com o amor ao próximo, o qual Paulo coloca como limite de nossa liberdade – coaduna, sim, com a dor e o sofrimento, porque implica em renúncia, não em egoísmo, e em auto-doação, não apenas em auto-realização. Esse amor nos faz altruístas e nos deixa vulneráveis. Sua verdadeira realização e felicidade estão em oferecer-se, assim, imperfeito, como ser livre ao seu semelhante para servi-lo, sem esperar nada em troca, recordando as palavras do Senhor Jesus: “Mais bem-aventurado é dar do que receber” (Cf. At 20:35).
2.
Na lógica de Jesus, todos os demais atos humanos se nulificam diante do amor de um ser em relação a outro. O amor é a suma da lei e nele está a expressão concreta da graça. Por sua vez, “a graça é a presença de Deus em nós e no mundo, na pessoa e no Cosmo, presença essa, que tange nosso íntimo ser e nos confere, por nascença, uma inclinação para o outro e, nele, para Deus” (Feiner e Loehrer).
3.
O amor é essa demonstração da graça de Deus, que acontece quando esqueço um pouco de mim mesmo e passo a pensar no próximo; uma vontade que se, e somente se, torna natural (expressão da liberdade) quando passa a ser suscitada por essa graça. Dessarte, a verdadeira existência, na concepção de José Miguez Bonino, é aquela na qual o ser humano, livre e repleto de alegria, em relação às barreiras e limitações convencionais, além do que demanda ou exige a lei, inclusive muito além do que ela permite, solidariza-se com a necessidade do próximo e responde a tal necessidade.

"Amar é viver na direção do próximo pagando o preço correspondente pela identificação total e sem reticências com sua necessidade. Amar é submeter-se ao propósito criador de Deus manifesto nas diferentes ordens da vida humana – é servir ao próximo de maneira concreta na família, na ordem econômica, na ordem política. Amar é impregnar a totalidade das relações com a totalidade dos homens da disposição concreta ao serviço e entrega que Deus manifesta. Amar é ingressar nas relações e exigências éticas da cultura na qual nos encontramos com a livre determinação do novo homem em Cristo e repensar e reviver essas relações e exigências na forma nova que corresponde a esse novo homem".

(José Miguez Bonino. Ama e faze o que quiseres, p. 105)


Jonathan

Nenhum comentário: