segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Vasos de barro

Eis que como barro nas mãos do oleiro, assim sois vós na minha mão” (Jr.19:6).

Deus pode fazer com minha vida aquilo que ele bem quiser. Que verdade extraordinariamente assustadora! Na realidade, tudo o que existe e acontece que possa ameaçar a autonomia humana, isto é, o controle sobre minha própria vida, torna-se automaticamente motivo de repulsa num primeiro momento. Por exemplo: o amor tira-me parcialmente do domínio, visto que me deixa vulnerável, sujeito a um gozo singular e, ao mesmo tempo, a todo tipo de retaliação. “Amar é, antes de tudo, ficar vulnerável”, afirmou C.S. Lewis. Mas o amor é, de certo modo, uma escolha; eu posso, se quiser, retrair-me em um movimento de rejeição às suas manifestações.

Deus é capaz de me tirar do controle total de minha vida, e dele, todavia, eu não posso escapar. Deus pode ser uma escolha pessoal e relativa no que diz respeito à fé de cada um (o que é perfeitamente questionável, já que a fé é também um dom, conforme a Palavra), mas não o é de maneira alguma em relação à vida, visto ser ele mesmo o Senhor da vida, quem oferece e também a toma de volta. Como posso estar alheio à presença e ação de um Deus tão surpreendente? Sim, como “vasos de barro” nas mãos do Oleiro, que facilmente se desmancha quando imperfeito e se refaz com uma beleza estonteante, assumindo contornos renovados e firmes, assim se com-forma a minha vida nas mãos de Deus.

Esta talvez seja uma das metáforas mais felizes e inteligentes da Bíblia, porque relembra o fator proveniente da criação, qual seja o de que viemos do “pó”. E se Deus pôde, como em um sopro, transformar pó em vida, tal como o oleiro criativamente dá forma a seus belos vasos, quanto mais capaz seria de fazer a vida retornar ao pó. Afinal, destruir é sempre mais simples que criar, que recriar ou reformar. Desse modo, podemos ser “tudo” ou “nada” nas mãos de Deus. Ao reconhecer minha miséria e inoperância diante da glória Divina, porém, como vaso de barro nas mãos do oleiro, a realidade da minha vida, de pó se transforma em riqueza e esplendor, para honra e glória do Oleiro. A vulnerabilidade é um instrumento poderoso nas mãos de Deus. Nossa vulnerabilidade, em Deus, é nossa força.

Jonathan

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