segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Conversas sobre a Graça (I)

Minha amiga Patrícia e eu temos trocado emails sobre o livro "O Evangelho Maltrapilho", que li há um tempo atrás e ela está lendo agora. Vou publicar aqui algumas das questões que ela tem me feito e as replicas por mim dirigidas.

1. Ele não concorda com frases de efeito do tipo: quer dinheiro, vá trabalhar! Nessa vida nada é de graça. (...) Me incomoda um pouco a idéia de que mesmo se eu for bem ao contrário do que Deus quer, ainda assim ele vai me tratar do mesmo jeito. Eu vejo ele desapontado. Eu nunca vou ser como Deus quer que eu seja. Eu sempre vou ser um desapontamento, mas não posso viver sendo assim, só porque Deus já sabe que eu não consigo ser outra coisa mesmo.

R: Eu também não concordo. Aliás, detesto essa tendência que ele vincula à espiritualidade norte-americana do “self-made man”. Não somos “self-made” e não podemos agir como se fôssemos. Tudo o que temos e o que somos devemos a Deus. Concordo que no fundo temos de correr atrás do prejuízo senão estamos fritos, do ponto de vista de quem está no mundo. Porém, nós vivemos sob a tensão de estar no mundo sem a ele pertencer. O que isso significa? Significa que, por mais difícil que isso seja para quem está envolvido com tantas coisas (como em seu trabalho, por ex), devemos nos orientar pelo conselho de Deus e não do mundo. E o conselho dele, nesse caso, é para que descansemos nele (Mt 6.25-34) e trabalhemos nessa direção. Precisamos aprender a largar o controle remoto de vez em quando e deixar que Deus nos conduza pelos seus canais.

Isso é dificílimo, não nego. E é por isso que a graça é complicada, porque ela nos tira do controle da situação. Seria tão mais fácil viver debaixo da lei. Teríamos tão mais possibilidade de saber em que grau do termômetro da benção de Deus estamos, e o que precisamos fazer pra “chegar lá”. Mas a graça é a voz de Jesus dizendo: “está consumado”. Tudo o que poderia ser feito eu já fiz. Seu papel e o meu papel, desta feita, é viver debaixo dessa graça. Nem trabalhar tão pouco de tal modo que barateie essa graça, nem trabalhar tanto, se esforçar tanto para agradar e estar no topo da “cadeia espiritual”, que acabe por anular essa graça (Gl 5.1-12). Concordo que Deus se desaponta com nosso pecado. Mas nem por se desapontar ele deixa de nos amar. O que não significa que, por nos amar, ele aprove tudo o que fazemos. Mas o único remédio para que voltemos a nos levantar quantas vezes for preciso é a dependência da graça, e não uma ajudinha que possamos dar a Deus. Precisamos parar de querer fazer o trabalho dele.

Jonathan

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