segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Fé ou fundamentalismo religioso II

No post de hoje, quero voltar ao tema da fé ou fundamentalismo religioso. Na verdade, trata-se de uma correspondência minha com uma leitora do blog, minha amiga Rosa, aluna de teologia no ISBL - Faculdade de Teologia, em Londrina, em resposta ao primeiro post sobre o tema.
Obrigado Rosa, pela participação.

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From: rosafalmeida@gmail.com
Date: Wed, 13 Feb 2008 22:18:25 -0200
To: joncalvin7@hotmail.com Subject: Agradecimento.

Oi Jonathan

Obrigada por ter enviado os teus escritos, fiquei muito feliz pois sou tua fã; gosto da maneira simples e sincera com que escreve.

Gostei muito do texto: Fé ou fundamentalismo religioso, também gostei dos outros mas esse tocou mais fundo minha alma, como já tivemos oportunidade de conversar, tenho um questionamento enorme sobre fanatismo religioso, surto psicopatológico e todos outros tipos de crueldade praticados em nome de seitas...

As vezes me surpreendo pensando que a religião faz mais mal do que bem a humanidade. Domingo passado fui ao cinema assistir o filme O caçador de pipas, e saí do cinema em prantos revoltada com o sistema religioso que aparece no filme.

Peço que quando fizer tuas orações, peça por mim, para que Deus me de sabedoria para separar o trigo do joio, pois normalmente eles estão entrelaçados em minha cabeça. E quando mais preciso ter fé, tenho somente duvidas duvidas e duvidas.

Um grande abraço.

Tua aluna.
Rosa
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Resposta:
Querida Rosa,
fico feliz que esteja gostando do blog, isso aumenta ainda mais minha pulsão em escrever e publicar coisas que têm povoado meus pensamentos ali. Concordo com você sobre o mal que a religião produz à humanidade. Também penso que se trata de um sistema escravizante, alienante e que mais serve à ideologia dominante do que libera as pessoas para Ser (usando aqui um pouco de Marx). Assim, não temos condições, especialmente quando lembramos das atrocidades já cometidas em nome de uma suposta "fé", inclusive dentro do próprio sistema cristão ou cristandade, para desautorizar os chamados "mestres da suspeita" (Nietzsche, Marx e Freud), em suas críticas ferrenhas à religião, nem tampouco às pessoas que, machucadas e feridas no caminho, se desencantam com o sistema e com todas as artimanhas perversas que ele produz em nome de Deus. Só que o "Deus" deles, já está sepultado, há muito tempo, como vaticinou Nietzsche, há mais de um século.
O que nos resta? Muito pouco ou nada, se nossas esperanças estão firmadas no sistema, na instituição, na humanidade caída. Mas se nossos olhares estão fitos no Cristo da graça, da misericórdia, solidariedade e encarnação na condição humana, existirá, assim, real esperança e redenção, não só para nossa vida no além-pós-morte, na glória, como em nossa vida presente. Apenas não será vã nossa fé, à medida que entendermos que ela não provém de um re-ligare artificial, mas é dom de Deus, algo que o Espírito promove em nossos corações, muitas vezes encharcados de dúvidas e incertezas.
O Espírito é livre e não se prende a esse sistema iníquo em que muitos infortunadamente colocam suas "fés". E se ele habita em mim e em você, como Jesus nos garantiu que seria, então temos a centelha pra revolucionar a igreja e o mundo, apesar do que somos, apesar das dúvidas. Oro para que o mesmo Espírito de Cristo, que nos consola nos momentos de tristeza e amargura, te dê sabedoria e discernimento para saber separar as verdades-mentira e as mentiras-verdade, que inadvertidamente grassam seja na igreja ou no mundo, do bom trigo de Deus, que é fruto da graça e de seu infinito amor.
Grande abraço,
Jonathan.


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