terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Cremos na liberdade?

Quanto mais o tempo passa, menos nos damos conta da quantidade de sonhos, projetos, ideais, visões, pensamentos e oportunidades que deixamos para trás, como quem joga um sapato velho fora, quem sabe por puro medo de assumir riscos, responsabilidades, por medo de errar, de frustra-se, de perder. Nem sempre adquirimos determinados hábitos por livre e consciente escolha, mas por receio de criar ou mero comodismo. O hábito de reprimir tudo aquilo que pode gerar desconforto, dor, sofrimento; o hábito da não reflexão, do não pensar ou medir conseqüências; o hábito de se conformar com o remediável diante da preguiça e a supressão da criatividade; o hábito de buscar a felicidade a qualquer preço, sem o custo do envolvimento, mas por puro individualismo.

Liberdade, nesse ínterim, deixou de ser vocação, processo, conquista, ousadia, utopia e inventividade, passando a se resumir à tirania dos desejos, propiciação autocentrada, curtição efêmera, falta de compromisso, de engajamento, de ideais ou de santa inquietação com o hoje com as vicissitudes do amanhã. A vida cristã perde sua centelha revolucionária quando deixamos de acreditar e lutar pela liberdade, uma liberdade que não tenha nada a ver com a mera satisfação imediatista de vontades, porém com a esperança de ser livre na relação com outros seres livres ou em busca dessa liberdade.

Ser livre é ser grato, é viver intensamente as possibilidades do presente, é arriscar ser diferente, é dar um salto além do lugar em que se está, é não ter receio de amar apenas por repúdio ao sofrimento, é assumir-se como se é, aceitando todas as implicações da vida que se tem, bebendo de seu próprio cálice, compartilhando com o outro tanto das benesses com das mazelas da existência. Ser livre é poder ter alegria sem a necessidade de abolir tristeza, a beleza de um sorriso que se mistura com lágrimas, de uma vida que está sujeita não somente à claridade como também à tempestade, não apenas à festa como ao pranto.

Na liberdade da fé corremos riscos o tempo todo, é inevitável. A fé, na visão de José Comblin, consiste em que a pessoa se entregue à sua vocação para a liberdade. "A fé é risco porque ninguém tem a experiência daquilo que vem depois. A liberdade é o risco total. A fé é jogar-se no risco. Pascal dizia que era uma aposta. Porém trata-se de uma aposta radical, aposta pela vida contra a morte, aposta pelo caminho da vida, sem tê-la previamente experimentado". (Vocação para a liberdade, p. 47).

Jonathan

2 comentários:

Anônimo disse...

Jon

Achei muito 10 a coluna dos "transgressores". Sugiro que vc coloque uma frase de cada autor, abaixo da foto, ficaria legal.
Abraço
PC

Jonathan Menezes disse...

Boa sugestão, PC. Farei isso assim que sobrar um tempinho...
Obrigado.