sexta-feira, 18 de abril de 2008

Um compromisso radical

Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com teu Deus”. (Miquéias 6.8).

O que caracteriza um compromisso radical com Deus e seu Reino? Caso fosse tentar responder nossa pergunta, o profeta Miquéias certamente ironizaria: “Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano?” (Mq 6.7). Não seriam a realização de sacrifícios espirituais, meditação, oração, jejum, doação de cestas básicas, etc, que tanto se enfatiza na igreja como sendo “a marca”, por excelência, de nosso compromisso e amor a Deus? Não me parece, porém, que nestas coisas esteja o cerne do compromisso radical, pelo menos não a sua evidência principal.

É muito mais do que isso, porque tem muito mais a ver com o ser de Deus e sua natureza operando em nós pelo Espírito, do que com nosso desejo, às vezes sincero, às vezes abominável, de barganhar com ele e de tentar agradá-lo. Mas se for assim, lembrando das palavras de Jesus, nossa justiça em nada excede à justiça dos escribas e fariseus. Deus não precisa de sacrifícios! Ele disse: “Misericórdia quero, não sacrifício, o conhecimento de Deus mais do que os holocaustos” (Os 6.6). Qual é a marca do compromisso radical que Deus quer da gente? Ora isso já foi declarado. Deveríamos ser experts nisso. Conforme a Palavra de Deus, por meio do profeta Miquéias no versículo acima citado, assumir esse compromisso pressupõe pelo menos três mudanças:

1. Uma mudança radical de agenda (“pratiques a justiça”). Ele nos convoca a deixarmos nossas preferências individuais para assumir as preferências de Deus, pela justiça, pelas vítimas das injustiças nesse mundo-cão, pela luta na organização da sociedade em torno dos valores da solidariedade, igualdade e liberdade. Evidências de que o Reino já está entre nós, ainda que não plenamente.

2. Uma mudança radical de mentalidade (“ames a misericórdia”). Somos chamados a trocar o amor ao rito, pelo amor às pessoas; de uma mentalidade sacrificial e auto-indulgente, para uma mentalidade libertadora do ser humano em sua integralidade. Enquanto a justiça cria uma sociedade mais equilibrada, a misericórdia gera os laços comunitários!

3. Uma mudança radical de postura (“andes humildemente com teu Deus”). Em outras palavras, Deus requer de seus filhos que eles sejam simplesmente humanos, não pretendendo ser divinos. Porque “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”. O verdadeiro poder e a verdadeira graça se destinam aos humildes e não aos auto-suficientes, pois se aperfeiçoam na fraqueza.
Deus já nos mostrou. Já deu a dica. Ele não entra no jogo sórdido das barganhas humanas. Ele quer menos ortodoxia (doutrina certa) e mais ortopraxia (prática certa); menos consciência de um compromisso, e mais encarnação desse compromisso, um compromisso real. Cantar o amor de Deus é bom. Melhor é viver. Que ele nos inspire ao equilíbrio na vida cristã e nos encha de graça!

Jonathan

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