sexta-feira, 6 de março de 2009

Um convite à liberdade (parte final)

Trata-se de um convite à liberdade aqueles que celebram a vida e resistem às forças dominadoras da morte. É o grito de coragem e desespero (como o que foi dado por Cristo na cruz), de quem tem pouca ou nenhuma chance de vencer historicamente falando, mas que não tem mais nada a perder, porque, em Cristo, tudo já lucrou e tudo já perdeu. Como as vozes dos trezentos, quatrocentos, quinhentos que caminharam lado a lado com um dos grandes mártires cristãos contemporâneos, Martin Luther King Jr., convidando e incitando uns aos outros a lutar pela justiça e pela liberdade, e cantando: “Não vou deixar ninguém me deter, me deter, me deter. Não vou deixar ninguém me deter, vou continuar andando, continuar andando, marchando até a terra de liberdade”.

Continua sendo esse o convite de Cristo, nosso libertador, para que conheçamos e preguemos libertação, lutando pela verdade que liberta. Nas palavras de Paulo, nos convoca dizendo: “Permanecei, pois, firmes e não vos deixeis sujeitar de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5:1), entendida aqui no sentido holístico. Desse modo, como escreveu Júlio Zabatiero,

"Confrontados com a alternativa de nos libertarmos e vivermos perigosamente ou renunciarmos à própria vida e nos tornarmos cativos, não pode haver dúvida sobre a decisão que nos é sugerida pelos testemunhos bíblicos da experiência de Deus. Quem ama a vida ama a liberdade, e aquele que ama a liberdade afirma a própria vida, apesar de todas as intimidações e angústia interiores. A verdadeira segurança só pode existir sobre o chão da liberdade, e não em sua renúncia". [1]
A liberdade é uma vocação a ser cumprida intensamente na vida cristã. Mas eu só a cumpro mesmo, somente posso viver a liberdade através das formas mais sublimes de influenciação e dependência: de Deus e dos seres criados em pé de igualdade comigo. Não é uma liberdade que nos arranca do mundo, não é irrestrita, não prega o abandono dos compromissos e do engajamento na sociedade, não está confinada aos dogmas da religião e a seus acordos intelectuais (graças a Deus!). A liberdade cristã não é ilimitada por causa do amor. Todavia, no amor ela não possui limites, como diz Agostinho: “Ame e faze o que quiseres”. Alguns desafios e tarefas urgentes para a vida da igreja no cumprimento dessa vocação são:
  1. Romper com as estruturas e os laços de farisaísmo e legalismo que ainda assombram nossas consciências, mantendo uma pregação que se fundamenta somente em Cristo e na graça;
  2. Quebrar os tabus que nos impedem de promover discussões abertas sobre assuntos relevantes à comunidade, principalmente com os jovens (como política e sexualidade), sem ter que jogar pedras na cruz nem tampouco rasgar a Bíblia, nossa confissão maior de fé
  3. Promover os reflexos da liberdade cristã na missão integral: proclamando e vivendo o Evangelho e o Reino em termos de liberdade, oferecendo o espaço e abertura necessária para que as pessoas possam se aproximar de Cristo e a aceitá-lo como Senhor em suas vidas.

Que Ele nos dê coragem, força e discernimento nessa jornada rumo à liberdade plena em Jesus Cristo.

Jonathan

Notas
[1] ZABATIERO, Júlio. Fundamentos da Teologia Prática. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 74.

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