quarta-feira, 4 de março de 2009

Um convite à liberdade (parte II)


A escravidão do dinheiro, que abrange tanto àqueles que derramam suor pra conseguir tão pouco durante o mês, enquanto outros vendem a alma ao Diabo se for preciso para manter-se no topo societário, cultivando com apreço – mais que à própria vida – sua “plantação” de milhões de “verdinhas” (moneycentrismo). Aliada a essa está a escravidão do poder, em que homens e mulheres se deleitam no puro prazer de dominar, entrar e sair “por cima” e sujeitar outros – vítimas de sua ganância – e ao mesmo tempo se aprisionam por beber de um cálice que embriaga, entorpece, mas gera um vazio enorme e uma ressaca esgotante.

Além dessas e outras formas, há ainda, por que não dizer, a escravidão da religião. Reporto-me à religião cristã, que originalmente foi a religião dos escravos-libertos-remidos-comprados pelo sangue de Jesus Cristo, mas que, posteriormente, em grande parte, não foi capaz de se proteger do fermento espúrio dos fariseus – praga que sempre existiu e existirá na religião; lobos disfarçados de cordeiros, que colocam fardos pesados sobre os ombros dos mais fracos, sem poder, eles mesmos, movê-los. É um tipo de gente amarga, que não pratica o que prega e ainda faz tudo para preservar o mérito e alcançar reconhecimento humano. São hipócritas, pois se concentram em manter uma exterioridade polida, deixando o interior ser invadido pela mais suja e fétida podridão que destrói a alma.


Ai deles (ou ai de nós, quem sabe), guias de cegos, pois aprenderam a jurar pelo céu e guardar os preceitos da Lei, mas não defendem o direito do pobre, do oprimido e do escravizado. São capazes de coar a mais microscópica partícula do mosquito e de engolir um, dois e até três camelos daqueles bem gordos! Sepulcros caiados (“por fora bela viola, por dentro pão bolorento”). Celebram os atos dos que mercadejam a palavra de Deus e que fazem tudo em seu nome (até guerra), porém rejeitam e assassinam seus profetas, junto com aqueles que não se acomodam com suas indulgências legalistas e nem vendem a mensagem de seu mestre por míseras 30 moedas de prata, como fez o “discípulo” Judas Iscariotes.


Esse é o tipo de canto que Jesus entoava. Sim, o canto da liberdade, conforme o Evangelho, não é apenas um canto de paz interior (“pois paz sem voz não é paz, é medo” – O Rappa), de harmonia e alívio pela quebra das algemas, mas é também um canto de protesto e de repulsa ao sistema e à ordem vigente, se esses se fazem opressores. O canto da liberdade é o canto da subversão, do inconformismo e da ira santa. Só pode cantá-lo quem não desistiu da utopia possível do Reino, mesmo que isso custe o renunciar à própria existência.

(Continua...)
Jonathan

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