segunda-feira, 24 de março de 2008

A religião dos 'puros' e 'sem mácula'

A religião se torna um instrumento vão nas mãos daqueles que facilmente se conformam aos ditames de sua cultura (como o que tem acontecido com uma parcela de cristãos, submersa na atual “cultura da bobalização”, que diz: “acumule!”, enquanto a Palavra nos ensina a repartir). E o resultado é que os tais deixam de amparar ao necessitado, de exercer misericórdia e justiça ao oprimido, de acolher ao órfão, à viúva e o estrangeiro.

Não é a manutenção de uma exterioridade piedosa que sustenta a religião, nem tampouco o juízo aceptivo; primeiro porque, de todas as coisas, Deus deseja que guardemos incontaminado o nosso coração; segundo, pois Deus não nos constituiu juízes uns sobre os outros, mas nos convocou para uma vida marcada por liberdade e misericórdia, tendo em vista que “a misericórdia triunfa sobre o juízo”, conforme Tiago, e a liberdade prevalece frente ao refreamento mortífero daqueles que no exterior dizem: “creio!”, tanto quanto inescrupulosamente os demônios também crêem e tremem!

Deus, todavia, se agrada do homem e da mulher que de coração fala a verdade, pois Ele perscruta os corações, especialmente aqueles já blindados pela hipocrisia e por uma imagem “imaculada” e “pura”, forjada após anos e mais anos dentro de um sistema religioso abusivo e opressor. Até quando ficaremos excessivamente presos aos obstáculos irrelevantes que historicamente construímos enquanto a vida passa, o mundo fica cada vez mais vil e cruel, e, por conseguinte, o mandato de Jesus: “Ide, e fazei discípulos por todas as nações”, ainda se faz imprescindível? Quantas vezes mais coaremos até a mais imperceptível das partículas do mosquito, enquanto o camelo “desce redondo” por nossas gargantas amortecidas?
Às vezes penso que a parcela a qual mencionei, a dos religiosos “puros” e “sem mácula”, pode ser comparada aquele inquilino chato de um condomínio qualquer, que vive dando “dores de cabeça” ao síndico, que por sua vez não agüenta mais tanta reclamação de supostos “direitos”, tantos defeitos apontados, tantos pedidos de melhoria no prédio, recebendo, porém, como respaldo, apenas a inadimplência deste condômino na quitação de suas “dívidas”. No caso da igreja, oro para que o Síndico, quer dizer Deus, tenha misericórdia (mais?) frente a tanta mediocridade, do contrário, salvo fatalismo, talvez a igreja (nós) é que tenha de amargar o “despejo” e “fazer as malas” mais cedo. E o cedo já será tarde...
Jonathan

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