quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

As pessoas não mudam (III)

3. A fé como batalha

Como a tese em questão pode coexistir de modo relativamente coerente com certa (não-convencional) visão cristã?

“Os dias às vezes parecem iguais, a guerra é minha rotina”, diz uma parte da canção “Continuar” (2008) da banda Oficina G3, idéia que me parece bem aplicável à vida cristã, uma vez que a guerra é um de seus indissociáveis elementos. Luta-se não apenas para sobreviver, mas porque se vive em uma nova ordem de vida, como já foi pontuado. Essa luta tem uma dimensão tanto interior como exterior – e aqui continuarei dando maior atenção à primeira.

A carta de Romanos (7.19) contém uma das mais nuas descrições da luta humana nesta primeira dimensão e que se resume bem na frase “não faço o bem que prefiro, mas o mal que eu não quero, esse faço”. Uma frase que pode bem ser combinada com a que afirma não haver “um só justo na terra, ninguém que pratique o bem e nunca peque” (Ec 7.20). Assim, a vida do justo é marcada por um litígio permanente contra a sua própria e inerente in-justiça. Luta sobre a qual jamais se teria sombra de vitória não fosse a graça divina, que nos basta, como afirma Paulo, mas no meio (e não fora) da batalha.

A paz – e não me refiro ao “estado de paz interior” que se oferecem como produto fácil nas diversas prateleiras religiosas, mas a verdadeira paz de Cristo, que ultrapassa todo entendimento, que é fruto da justiça – só pode ser conhecida por quem não abandona o front de batalha. Citando outra vez Frederick Buechner, “a paz não se encontra na fuga da batalha, mas em seu intenso calor”.

Dessa forma, enquanto gente e seguidor do Cristo que tento ser, luto todos os dias para viver meu chamado em meio às muitas (provisórias) contradições que em mim habitam, e contra tudo o que detesto ser, mas que ainda permanece encravado como espinho em minha carne. Sim, p-e-r-m-a-n-e-c-e... Às vezes por razões que não compreendo – “não entendo o que faço”, disse Paulo – outras tantas, por razões que tento renegar. Mas, se por um lado me sinto enfraquecido, por outro saio fortalecido; se estou sendo derrotado sob certa perspectiva (triunfalista e pragmática de fé), sob outra, baseada na graça e no poder que se aperfeiçoa na fraqueza, alcanço relances de vitória.

Então, decidi que, paradoxalmente e pela força do Espírito, buscarei ser uma pessoa que jamais desiste de perseguir a mudança a despeito de não ser capaz de mudar certas coisas – acolho e rejeito a tese em questão ao mesmo tempo. Para tanto, tenho me esforçado para aceitar quem eu sou, sem, contudo, me resignar à condição de vítima de mim mesmo; desejo não fugir e nem ignorar minha rotina humana e cristã de luta; recuso as vias do “ópio do povo” ou da cauterização da consciência, que fazem discípulos para a morte todos os dias. Entendo que reconhecer minha miséria não é sinal de desistência da luta, mas um caminho para a liberdade.

Jonathan

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