segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Natal: a confraternização dos fracos

Felizes são os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5.3).

É difícil falar de fraqueza para um universo que supervaloriza a performance e a realização pessoal acima de todas as coisas, e que consagra uma velha casta, a qual sempre reaparece com novas facetas: os auto-suficientes. Sem questionar para onde e até onde vamos com este estilo de vida, aceitamos as regras e compulsões ditadas pela sociedade, que tende a eliminar de seu vocabulário palavras como vulnerabilidade, choro, dor, lamento e pobreza, e a destacar a supremacia dos mais fortes. Assim, nos tornamos seres que não abrem mão do controle de nossas vidas medíocres e alimentamos a simulação de uma fachada indelével.

Interessei-me de bom grado pela idéia de Henri Nouwen de “confraternização dos fracos”, pois ela preconiza uma possibilidade honesta e tremendamente humana, a saber, a participação fraterna nas dificuldades uns dos outros, complementando e ajudando uns aos outros, visto que todos possuímos fraquezas de diferentes espécies. Isso é com-paixão. Penso que esta idéia se aplica perfeitamente à celebração do natal, por duas razões. A primeira já foi delineada e aponta para a voz do mal na sociedade e na igreja, que nos condiciona a jamais demonstrarmos nossas fragilidades. A segunda diz respeito ao que o natal festeja: o nascimento na história do Deus que se fez gente, Jesus, e que encarnou a fragilidade, a dor, e a “desprezível” miséria da condição humana, desde a inglória manjedoura até a insuportável cruz, expondo sua total vulnerabilidade para que, através de sua morte, encontrássemos vida. Inconcebível loucura, Maravilhosa Graça!

Portanto, natal é a confraternização de homens e mulheres que não têm vergonha de celebrar a vida, admitindo todas as suas incoerências e limitações, reconhecendo sua pobreza, bebendo de seu próprio cálice, recebendo de Cristo o cálice da salvação e a revelação da face humana de um Deus que não se esconde atrás de um nome, de um título ou de um ofício, mas que se apresenta na completa vulnerabilidade de seu amor, para a redenção da criação, a qual perdeu a noção do que é o amor. Que neste natal, eu e você possamos despertar do sono e do cativeiro, num movimento de retorno a este Deus e a nossos irmãos e irmãs Nele.

Jonathan

5 comentários:

André Decotelli disse...

Cara, li esse texto e me lembrei de ti...

http://oglobo.globo.com/blogs/amsterda/

Abraço!

Anônimo disse...

Paraben Jon. Essas profundas palavras suas tocou em algo dentro de mim. Igual vc, eu tambem creio que Deus convida as nossas limitacoes e fraquezas a se manifestarem como uma expressao cristologica. Mas eu tenho uma pergunta: Como isso funcionar na pratica, no dia a dia? Eu pegunto com sinceredade, pois busco respostas e "dicas" pro meu caminho espiritual.
Um abraco enorme a vc, meu irmao.
Stuart

Anônimo disse...

um pouco mais....

Se eu deixasse uma janela aberta - um convite para as pessoas enxergarem a verdadeiro "eu", que seria o resultado? Exclusao, rejeicao... a lista vai longe!! Tenho medo (como todos) em perder promocao no emprego, perder credibilidade na rua etc... Sera que isso e o caminho que temos que seguir?
Desculpe por "waffle on"... uns pensamentos que o seu texto gerou..
Stu

Jonathan Menezes disse...

É, Stu, não é fácil. Não sou bom com coisas práticas. Mas o que posso dizer é que quem escolhe expor suas vulnerabilidades encontrará rejeição, estranhamento e desprezo por parte de outras pessoas. Ninguém quer um líder fraco, especialmente nesse mundo tão competitivo como o nosso. Por outro lado, as palavras divinas através de Paulo ainda continuam ressoando: "A minha graça te basta. Porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza... Porque quando sou fraco então é que sou forte". Declarar neste mundo que a graça nos basta implica em sofrer, ao mesmo tempo em que encontrar recompensa em Deus. E não me esqueço da máxima de Nouwen, de que por meio de nossas limitações, fraquezas, e de nosso "eu ferido", podemos nos tornar instrumentos de cura para outras pessoas. Pouca gente entende isso, e não sei se eu mesmo entendo realmente; mas Nouwen foi um exemplo escancarado de como Deus deseja usar as coisas loucas, desprezadas e pequenas desse mundo, e as que nada são, para envergonhar e reduzir a nada as que "são". Com todas as iminentes dificuldades desse modelo, internas (a mim) e externas (aos outros), creio nisso e me espelho nele. E que o Senhor nos ajude a viver de modo digno de Cristo e de seu Evangelho.
Beijão,
Jon.

Anônimo disse...

Valeu Jon pelos conselhos preciosos.
Continue com os textos... A sua teologia me ajude a fixar a minha teologia na pessoa de Jesus Cristo: um ser humano que veio para humilhar os orgulhosos com nada mais que amor e compaixao.
Abraco, amigao.

Stu