segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ano novo, Vida nova? (I)

É muito comum nas passagens de ano ver as pessoas fazendo votos, promessas e desejos para o ano que vem. E nesse não foi diferente. Feliz 2009? Nada de novo debaixo do céu. Sempre ouvimos os mesmos votos de felicidade, saúde, paz, alegria, prosperidade, sorte no amor, na vida, nos negócios... O “blá, blá, blá” de antigamente é o mesmo de hoje, com algumas nuances. Felicidade, antigamente, era uma palavra mais ligada a coisas singelas da vida, como casar, ter um filho, receber flores. Hoje tem se tornado objeto de comércio e marketing, por parte dos veículos de comunicação, empresas e até igrejas. “Mas que mal há nisso?”, talvez algum(a) leitor(a) pergunte intrigado(a).

Está certo, mal pode até não fazer – que mal pode haver em se desejar coisas boas, um recomeço, uma vida nova, um ano novo? Porém, em que medida realiza o bem? Esse “bem” não é apenas o fazer-se-sentir-bem dos psicologismos auto-estimulantes e das “piedades pervertidas” (Ricardo Quadros Gouvêa) de nosso tempo, mas um “bem” conforme os padrões Divinos, que nem sempre (ou quase nunca) coadunam com as expectativas irrealísticas reverberadas por cada um de nós, ano após ano. A esse respeito, a palavra de Deus ao profeta Jeremias me chama atenção: “Eu é que sei os pensamentos que tenho a vosso respeito; pensamentos de bem e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jr 29.11).

O “fim” aludido no texto é bem específico, e não genérico – pois diz respeito ao anseio mais premente do povo naquele instante: a libertação do cativeiro na Babilônia. Logo, não é um texto a ser aplicado deliberadamente (e há algum que pode ser?). A lógica da banalização, se pudesse prever, pode ser resumida no seguinte: ora, se os pensamentos de Deus são de bem, para dar o fim que eu desejo, então Deus (que é o “Deus dos impossíveis”), está disposto a mover céus e terra para me beneficiar – como fazer parar uma chuva, apenas para que eu possa ir de um lugar a outro sem me molhar, por exemplo. Essa lógica é furada. Primeiro, porque transgride o sentido bíblico. Segundo, porque promove uma transferência de vontades: de mim para Deus e de Deus para mim, como se entre ambas houvesse uma perfeita harmonia e como se o que pensássemos ser “muito bom”, em qualquer situação, de fato realizasse o bem de Deus em nós.

Desse modo, invertemos os paradigmas, subvertemos as “vontades” e simplesmente absorvemos as prioridades que estão na agenda da humanidade ano após ano, como se elas representassem a todos num todo, como se convergissem com as dinâmicas da realidade e ainda conseguissem manipular a Deus, que simplesmente assina embaixo e abençoa a todos, fazendo o papel do “bom velhinho”. Honestamente, chamem-me de cético, chato, pessimista ou do que quiserem, mas isso tudo não passa de ritual vazio e quimérico papagaiado por todo mundo todos os fins de ano sem a devida reflexão e percepção da realidade ao redor. Falta-nos sensibilidade e criticidade e muito mais.

Jonathan

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