sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Semanal de Amsterdam (II): Através dos olhos do outro

Leia João 4.1-30

Não há fronteiras que o Evangelho não possa cruzar (There's no boundaries that the gospel cannot cross). Esse é um de meus insights nessa bonita história do encontro entre Jesus e a mulher samaritana no poço de Jacó, e que se aplica bem aos encontros que tenho tido aqui em Amsterdam, através do programa “Bridging Gaps” – que tem a idéia de construir pontes entre hiatos, de preencher lacunas. Na história, havia um grande hiato entre Jesus e aquela mulher, que começa pelo fato de que ele era homem e ela mulher (não havia diálogo entre homens e mulheres, situação que ainda persiste em muitos países, como Mianmar); em segundo lugar, ele era judeu, ela samaritana, e todos sabemos sobre as diferenças históricas e religiosas entre judeus e samaritanos naquele tempo. Mas Jesus, não levando em conta qualquer tipo de fronteira que pudesse haver entre eles, inicia um diálogo com aquela mulher, e da forma mais inusitada possível: pedindo-lhe água, visto que estava sedento.

E fico imaginando: que forma bonita de se começar um relacionamento, mostrando sua vulnerabilidade. Em nosso mundo belicoso somos induzidos a sempre andar armados até os dentes. Armados de respostas prontas, de piadas jocosas prontas, de palavras pontiagudas, de gestos hostis, de olhares de desaprovação, etc. Essa história de que “a primeira impressão é a que fica” nem sempre funciona nos relacionamentos, pois se fosse a primeira impressão que temos dos outros e que os outros têm da gente a permanecer, aí sim, nem encontros, nem reencontros seriam possíveis, e nossos relacionamentos estariam fadados ao insucesso, mais do que agora estão. Isto, pois, a primeira impressão muitas vezes é péssima. Falo por mim. Quantas pessoas, depois de me conhecerem melhor, não disseram: “puxa, você é tão diferente do que eu imaginei ao te ver pela primeira vez”. Pois é, culpa delas (eu posso pensar). Mas que nada, a culpa também é minha, que não faço muito esforço pra que seja diferente.

Como disse no primeiro “semanal”, estou no período de impacto nessa nova cultura. E a grande tentação do momento é a de detestar tudo o que de costume holandês me vem pela frente. Ah, como tudo em casa é melhor que nessa terra estranha, com uma comida ruim e gente esquisita! Mas daí penso: eu também sou esquisito pra eles, estrangeiro em terra alheia. Que grande fronteira existe entre nós! E quem será capaz de cruzá-la? Jesus me convida nesse texto a deixar à mostra minha vulnerabilidade, para que ambos, o meu ‘próximo’ e eu, sejamos desarmados de nossos preconceitos e tendências e reaproximados pelo amor. Definitivamente, estou numa cultura muito individualista! E minha tendência é responder com mais individualismo. Se eles não se importam, porque devo me importar? Who cares? I don’t care. So let me move on with my life! Mas Jesus age de um modo totalmente diferente, inesperado, ele se importa e demonstra isso.

Há muito mais a compartilhar sobre esse texto e também sobre meus sentimentos aqui. Já falei muita besteira sobre os holandeses nesse dias (e acho que ainda vou falar algumas). Todavia, preciso parar um pouco e olhar para meus próprios preconceitos, e as fronteiras que eu mesmo preciso cruzar, pelo poder do Evangelho. Enquanto isso, vou preenchendo as lacunas com as histórias daqui... As histórias que vou re-aprendendo através de Jesus, e através dos olhos do outro (through the eyes of another)!

Que a paz esteja com todos!
Jonathan

2 comentários:

Robinson J. De Souza (Roberas) disse...

meu querido brother peregrino em terras holandesas-[estranhas]...que esses 'gringos' ai, ou seria vc o gringo(?), possam mutualmente serem preenchedores dessas lacunas estranhas que todos nós temos.

até o próximo semanal...

abraço fraterno

Roberas

Robinson J. De Souza (Roberas) disse...

Brother...ficou muito boa essa nova "roupagem" do blog...está mais com cara de site!

abraço mano!