sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Morte e vida, gêmeas siamesas


É necessário muito tempo para a gente aprender a viver. Porque somos lentos, frágeis e teimosos demais.

Ou simplesmente porque, repetindo o jargão, viver não é fácil – especialmente para gente tão complicada quanto eu.
Mas nem sempre temos esse tempo todo para aprender. 
Pois é necessário apenas um instante para que a vida seja ceifada, e com ela, os anseios de um hoje não vivido e de um amanhã melhor. 
É, o amanhã não existe mesmo. Tecnicamente, talvez, mas na prática nunca se sabe. Por isso eu nunca aposto no amanhã; aposto no hoje.
Pois, mesmo com o desejo de ter vivido mais, e mesmo sendo cedo demais para alguns, é possível partir com a certeza de que a vida que vivemos valeu à pena.
E, assim, a saudade pela partida, para quem fica, se torna menos carregada e a dor pode andar de mãos dadas com a gratidão – ao menos eu acho...
Você pode querer sublimar, fazer de conta, buscar consolos fáceis ou ilusões úteis que te façam esquecer da realidade e te projetar para outra, menos “real”, menos cruel...
Mas a realidade é uma só: a morte é um fato inescapável, e ela não tem preferidos.
Cedo ou tarde, ela virá. E “tudo o que era sólido se desmancha no ar” (Marx), ou melhor, na terra ou debaixo dela.
Só que Bauman nos disse que hoje, já, agora, o sólido tem virado líquido. Bem, mas não apenas de hoje...
Há milhares de anos, Eclesiastes já tinha dito que tudo é fumaça, que nada faz sentido. E eu acrescento: nada permanece!
Nada mesmo?
A única certeza que tenho é a do instante, e preciso fazer dele o melhor possível enquanto tenho oportunidades. Mas só o agora oferece oportunidades.
Posso morrer sem ter mudado muitas coisas na minha vida e no mundo a meu redor; mas quero morrer bem ciente de que tentei ao máximo. De que fiz o que pude. De que que arrisquei. De que me tornei disponível aos outros.
E, mais importante, de que amei. Do começo ao fim – permitam-me contradição – só o amor permanece.

Jonathan

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa reflexão, como disse um dos maiores literatos do Brasil:
"Toda hora é apropriada ao óbito; morre-se muito bem às seis ou sete horas da tarde."
ASSIS, Machado de. Dom casmurro. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 78.

Tadeu Antunes