domingo, 29 de agosto de 2010

Quando desperta o amor...

“Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que não acordeis, nem desperteis o amor antes que este o queira... porque o amor é forte como a morte... as muitas águas não poderiam apagar o amor” (Cântico dos Cânticos, 8.4,7).


Cântico dos Cânticos, para mim, significa que, quando Deus projetou a relação de amor entre duas pessoas, ele pensava em conexão intensa, que envolveria o nosso ser todo: mente, alma, corpo, e que esse amor não sobreviveria apenas de sentimento, mas também de ação, amizade, companheirismo, doação, paixão, química, sexo – é obvio, falando aqui um pouco mais do amor entre um casal. E tudo isso tem a ver com espiritualidade, com conexão com Deus e com o próximo, que não é “outra dimensão”, separada da vida, mas uma qualidade essencial à própria vida.

Trata-se de um amor que não combina com indiferença, mas que arrebata corações, que podem dizer, como a esposa do texto diz: “desfaleço de amor”, ou morro por amor.

Será por isso que tanta gente hoje inconsciente ou conscientemente tem preferido não despertar o amor? Não despertar, digo, não se entregar a ele de corpo e alma, não ousar tentar viver as implicações do que significa amar e ser amado. Será porque ele nos deixa vulneráveis, como diria C. S. Lewis? Porque ele é capaz de fragilizar o mais poderoso e forte dos seres humanos? Porque faz sofrer? Porque não é um “mar de rosas” sem espinhos? Porque o próprio Deus nos advertiu em Cristo que amar implica em dar a própria vida por seus amigos, e que, portanto, não tem só a ver com satisfação, gozo e felicidade? É, talvez seja por isso – eu disse “talvez”, não estou aqui preocupado com diagnósticos precisos.

O que parece ser verdade é que, quando ele desperta pra valer, é capaz de fazer gente de carne e osso de “gato e sapato”. Quem sabe por isso Salomão tenha aconselhado a que não o despertemos até que ele mesmo queira. Mas, alto lá, então o amor tem “vontade própria”? Em certo sentido, parece que sim. O amor é livre. Fora da liberdade, não há amor. Se houver coação, não haverá amor, mas doença. Se tentarmos “forçar a barra”, ele deixará de ser natural, espontâneo, e facilmente redundará em angústia, por vezes sem fim. Por isso ele não é veneração, nem adorno, nem “arde em ciúmes”, como diria Paulo, tampouco se acha em qualquer esquina. Não tem nada a ver com estar no controle, nem com ser controlado. Aliás, significa sair do controle...

O amor é algo muito humano. Mas antes de ser humano, ele foi e é Divino. Aquele amor, que Salomão afirma ser “forte como a morte”, só pode ter Deus como origem. Não se trata somente de necessidade ou conquista (“quero esse amor pra mim”), mas de doação. Tem a ver com doar a parte mais preciosa de si mesmo ao ser amado, assim como Deus fez conosco concedendo-nos o que Nele havia de melhor, seu filho Jesus.

Me sinto enriquecido quando, em oração com minha esposa, ela costuma dizer: “Senhor, obrigado pelo nosso amor”. Não é somente “bonitinho”, como diriam alguns. Para mim, é sinal de que Deus está no negócio, e de que a gente “tá ligado” que, se Ele não estiver, poucas perspectivas de algo duradouro e pleno restarão. Pois, se esse amor vem de Deus e é abençoado por Ele, não poderá ser levado pela correnteza, ser comprado ou vendido, como relembra o texto, tampouco poderá despertar através da “pílula do amor” inventada por certa ciência pós-moderna. E com a ajuda Dele, a gente pode regar, cultivar e fazer crescer o amor, amadurecer e gerar outros frutos, incontáveis, imperceptíveis, quem sabe, porque o amor não precisa fazer alarde, ele simplesmente é o que é e, quando é assim, não há palavras o suficiente pra contar.

Jonathan

2 comentários:

Jenifer disse...

Parabéns pelo post Jon, adorei o texto!
Beijos

Anônimo disse...

Massa kra, principalmente quando vc destaca que o sentimento não deve ser o único pilar de uma relação...

Abs, Flávio