segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sobre proverbiar, educar e viver

"Se procurar a sabedoria como se procura a prata e buscá-la como quem busca um tesouro escondido, então você entenderá o que é temer o SENHOR e achará o conhecimento de Deus”. (Provérbios 2.4-5)
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Na Bíblia toda há uma boa parte de textos sendo devotada à questão do ensino e da sabedoria. A trajetória do próprio Jesus e dos discípulos tem tudo a ver com isso. Em Jesus vejo Deus como o grande professor, que nos convida a caminhar com Ele como aprendizes e, assim, poder ensinar outras pessoas. Como já diria Paulo Freire, “não há docência sem discência”, e isso vale tanto para mestres “de carteirinha”, como para os nossos muitos mestres do cotidiano, que se vêm nessa posição por força da simples necessidade ou demanda.
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Mas o que posso eu ensinar? Muita coisa, de seu universo particular de aprendizado e vivência. Ninguém é sábio o suficiente que não tenha nada a aprender, nem ignorante o bastante que não tenha nada a ensinar. E por mais conhecimentos que alguém possua, isso não lhe garante a sabedoria. Por quê? Bem, vamos em frente...
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Provérbios é um livro que nos ensina que o Temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Pv 1.7). Isso já diz muita coisa. Primeiro, diz que o temor (reverência, devoção, relacionamento, e não medo) a Deus é um modo de ser a partir do qual começa a vida do sábio. Segundo, que sabedoria não é conhecimento, é a maneira como tratamos o que conhecemos. E não só isso, terceiro, a sabedoria é a maneira como tratamos tudo o mais na vida. Em outras palavras, sabedoria é, como diz a canção do Roberto Carlos, simplesmente “saber viver”.
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Assim, somente o ensino-aprendizado baseado no temor do Senhor pode ser tanto o que nos aproxima da sabedoria – do bem lidar com o viver, segundo os padrões divinos de vida – quanto é o que pode nos livrar do orgulho de sermos “sábios aos nossos próprios olhos” (Pv 3.7).
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Para isso é preciso estar atentos, pois, quando nossos ouvidos permanecem atentos e nossos olhos abertos, veremos que a sabedoria não cessa de nos querer instruir sobre como viver e bem trilhar o divino caminho nas estradas retas ou tortas desse mundão. E há tantas maneiras. Não são apenas livros que ensinam, mas experiências, vividas e contadas, também. Não apenas professores bem formados e competentes, mas gente simples, que pode até não saber nada sobre ciências cultas e doutas, e ainda assim nos ensinar tantas preciosidades sobre as ciências informais do viver, que às vezes passa ao largo dos acadêmicos e dos doutores. Enfim, o Senhor nos oferece tantas situações de aprendizado de sua sabedoria. Mas sem temor, não há sabedoria; e sem amor, de nada valeria, como disse Paulo: “Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei” (1Co 13.2).
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Provérbios também nos ensina que a educação divina é integral. Quem se inclina ao entendimento é o “coração” (da palavra hebraica “leb”), que representa o centro da vontade, razão e determinação do ser, e não somente das emoções, embora as envolva. Aqui se prioriza todo o ser, que não prescinde, mas é cercado pelo espiritual, o qual não é apenas outra dimensão da vida, mas aquela que tudo cerca, não apenas o espírito, mas o corpo. Por isso Salomão diz pra gente não se apoiar apenas no próprio entendimento, mas pra confiar em Deus de todo o “coração” (com todo o nosso ser), pois isso “dará saúde ao corpo e vigor aos ossos” (3.8).
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Essa é a preciosidade de Provérbios: a sabedoria e o ensino educam para a vida, pois são para preservar e gerar fome de vida! Desprezar o ensino é não apenas ignorar a Deus, mas atentar contra a própria vida. Assim, na educação cristã não somos chamados a formar mentes brilhantes apenas, mas corações dedicados; nem tampouco a “salvar a alma”, sem também redimir o corpo, templo do Espírito Santo. Em suma, somos chamados a preparar vidas, que irão servir a Deus no mundo e influenciar outras num processo que se quer gerador de mais vida: integral, abençoadora, abundante...
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Que o Senhor nos encha de sua sabedoria e discernimento nesses dias!
Jonathan

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