terça-feira, 9 de março de 2010

Aprendendo a lidar com as incertezas (II)

Escrevo esse post em deferência e resposta às indagações de Priscila Monteiro ao meu texto anterior. É mais fácil escrever livre e levemente do que explicar a si mesmo. Mas não custa tentar, afinal, o objetivo, ainda que não pareça, é comunicar alguma coisa.
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O “erro” a que me referi no post anterior – embora tenha usado exemplos mais concretos e relacionados com a fé no início do texto – em geral, diz respeito ao conhecimento e à maneira como lidamos tradicionalmente com ele, como se a condição de sobrevivência de uma ciência fosse apenas as certezas e acertos que ela defende e outorga. Tentando dialogar mais detidamente aqui com Edgar Morin, mas tendo também outros pressupostos de leituras anteriores em mente, percebo que essa foi umas das armadilhas do conhecimento entre os modernos – a não admissão das suas lacunas, da imprecisão de suas “verdades”, e da plausibilidade do erro.
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Gostaria de aqui reproduzir o que falei numa série anterior de posts sobre pós-modernidade: uma das posturas da vida acadêmica que deveríamos transpor é a de continuarmos sendo modernos no sentido de buscar a suficiência e evitar o erro a todo custo, como se ele fosse o câncer da ciência. Pelo contrário, o câncer da ciência se chama sufi-ciência! É quando o cientista ou intelectual pensa que a ciência (ou o campo da racionalidade) tem todas as respostas e é capaz de tudo e mais um pouco. Essa falsa assunção é (foi) sua ruína. Pois o erro não é defeito, mas é a condição de continuidade e processualidade da ciência, pois “ciência sem erro é dogma”, afirma Pedro Demo, e mais: “A renovação do conhecimento é diretamente proporcional a presença do erro”.
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Isso pode parecer um pouco “low profile”, resignação ou como uma celebração do erro; e em parte é mesmo. Parte do reconhecimento do que Morin chama de um princípio de incerteza racional. Segundo ele, é preciso desbancar os mitos da razão todo-poderosa e do progresso garantido. Nesse sentido, Morin diferencia “racionalidade” de “racionalização”. A segunda é fechada por natureza e a primeira é aberta, fruto do debate e não da detenção de idéias; é autocrítica, reconhece seus limites, e “sabe que a mente humana não poderia ser onisciente, que a realidade comporta mistério”.
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Dessa forma, o oxigênio de qualquer proposta de conhecimento é dar vazão às dúvidas sobre nossa possibilidade de conhecer, mesmo quando queremos defender certos pontos de vista, expor certas teses e fazer afirmações de forma segura e objetiva. Uma das facetas do conhecimento objetivo reside precisamente na subjetividade que o comporta, elabora e o transmite. E como não podemos eliminar a subjetividade inerente a toda proposta de conhecimento objetivo, não podemos eliminar o erro, tampouco a incerteza.
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A assunção de tal realidade, pelo menos a mim tem conduzido a um exercício mais modesto da “arte” de conhecer, e nem por isso menos cheio de santa inquietude: eu ainda não terminei, ainda não estou acabado, não cheguei à reta final. É a celebração de uma vida que aprende (mesmo a duras penas) a lidar com as incertezas e a ser aberta às possibilidades do presente e do porvir...

Jonathan

5 comentários:

Anônimo disse...

Meu erro foi captar a essência da palavra erro como sinônimo a palavra pecado, foi o que entendi quando li o primeiro texto. E você colocou entre parêntesis um sentido de perfeição que não é bem o que tenho embutido no meu pcerebral, para mim perfeição é sinônimo de imutável, não bem completude, todas esses conceitos que temos já formulados atrapalham a compreensão.

Anônimo disse...

“como se a condição de sobrevivência de uma ciência fosse apenas as certezas e acertos que ela defende e outorga.” Pode até não ser realmente, mas se virassem para mim hoje e dissessem que dois mais dois dá seis, realmente ficaria muito deprimida, a ciência, não está pautada pela sobrevivência das certezas, as nanoparticulas estão ai justamente para comprovar isso, no entanto é necessário que a ciência, possa mesmo que de uma maneira ditatorial impor verdades temporárias, prefiro essa palavra ao sentido de relativas, então de alguma maneira o homem precisa de certezas para seguir em frente e talvez agora tenha compreendido a questão do erro.
Os erros não são evitados, os erros são relativizados, não erro porque sou incapaz de definir qual é o padrão, então se não sei qual é o padrão porque estaria errado? É uma resposta infantil ao erro, crianças fazem isso, quando respondem provas, sou um exemplo vivo do fato, quando não sabemos a resposta colocamos qualquer resposta para que não fique em branco, “e se der sorte ainda tiro nota”, nisso não apenas erramos como concordamos com o relativismo, que me diz que se não sei qual é o certo o que sei deve ser certo, e cada qual adota seu próprio padrão de certo e errado, com isso os erros não precisam mais ser evitados, eles simplesmente desaparecem porque não estamos mais num sistema comum.
Acho que erro nesse segundo texto, também foge um pouco ao sentido de erro, e cai no sentido de lacuna, como citado. A ciência pode não errar, mas simultaneamente, não acertar, porque simplesmente é incapaz de responder a tudo, e isso não porque erre, mas porque desconhece, e porque vê a questão apenas de um ângulo; é perigoso um cientista que se ache cheio de certezas, mas seria mais perigoso ainda se ele não tivesse nenhuma de suas certezas, porque então não teria ponto de partida. E talvez a ciência se transformasse em filosofia, a filosofia é livre para errar, ela pode errar, é função dela errar porque nisso ela se funda para o próximo passo, as dúvidas só surgem pelos erros, mas a ciência, a ciência tem que acertar, vez por outra a ciência é obrigada a ser ditatorial, porque a ciência, é a busca pelas respostas exatas, a ciência, pretende o estudo dos fatos através das provas, a partir do que se pode conhecer concretamente. Suponho que você esteja tentando dizer que é também papel da ciência divagar um pouco mais sobre o que produz, mas mesmo assim ela ainda continuaria a ser inexata, é impossível acredito que a um único campo dominar tudo com que coexiste, então a ciência é eternamente falha, porque não é onipresente, seu maior erro é ser incapaz de abranger todos os campos simultaneamente. (estes são conceitos meus, podem estar absolutamente equivocados) é prática, a ciência visa produzir. “é autocrítica, reconhece seus limites, e “sabe que a mente humana não poderia ser onisciente, que a realidade comporta mistério”.” BINGO a ciência não precisa assumir o erro, apenas reconhecer que é limitada.
Lidar com as incertezas é realmente preciso, porque até ai é necessário admitir alguma certeza, do contrário, seriam apenas incertezas e não haveria com o que lidar, pois seria tudo o mesmo.

Anônimo disse...

Você estava tentando debater exclusivamente sobre a ciência do conhecimento? Nunca consigo focar. Estou trabalhando nisso uma hora vai dar certo. Não conheço esse autor no qual você se pautou Edgar Morin, dei uma pesquisada parece ser muito interessante, vou ver o que consigo ler dele, e depois volto munida ao debate, rs. De qualquer maneira o caminho que ele parece adotar é o do erro em fragmentar, que a meu ver é onde está o erro não da ciência mas de tudo, o homem tenta o tempo inteiro especializar-se no mais especifico, deixando cada vez mais de lado o contexto, e não percebe que fora do contexto ele é facilmente manipulado, dominado, e vai aos poucos perdendo seu valor. O erro ser incorporado ao ensino, nunca tinha pensado que fosse preciso isso, naturalmente as pessoas erram equanto aprendem e naturalmente esses erros estão presentes mas se quem educa, faz com que o erro seja evitado, por medo das próprias dúvidas, o que precisamos não é criticar as ciências, mas as consciências. Tudo no mundo ao meu ver, parece equivoco de consciência.

Anônimo disse...

Sobre seu comentário quanto a querer escrever narrações, não sei se vale de dica, conselho ou seja o que for rs, mas meu jeito de escrever é mais ou menos assim:
Sempre que quero explicar alguma coisa, que aparentemente para mim parece complicada, ou que não consigo encontrar uma forma simples de dizer, me pergunto como faria se um amigo que não entende nada do assunto estivesse comigo numa conversa informal e me perguntasse a respeito do que quero explicar, normalmente, encontro soluções fantásticas pra dizer o que antes me parecia obvio, mas que talvez não soasse tão claro.
Escrevo primeiro em linguagem popular, como num dialogo externo mesmo rs e depois dou os retoques coloquiais, nem sempre essa parte é fácil, é onde perco mais tempo, de qualquer forma é como tento simplificar as minhas dúvidas. Tentando ser simples para outra pessoa, fora de mim, uma outra eu, as vezes uso amigos imaginários reais, com quem talvez travasse a discussão do tema que estou tentando colocar.
Quase sempre funciona assim, mas vez por outra, pego uma frase que ouço e acho interessante, ou que por algum motivo gravo e começo a discutir com ela... enfim acho que cada um encontra seu jeito, mas quando a gente está começando é sempre legal copiar algum estilo, e depois ir encontrando o nosso, é assim pra tudo na vida, até pra andar a gente imita quem está ao nosso redor. As vezes “copiando” escrevemos umas coisas, que pensamos não ser capaz. Sugiro que você pegue uns livros dos seus autores preferidos que escrevem narrativas e tente copiá-los, o tema? O dia de hoje, não é tão fácil quando você vai acompanhar as regras de outra pessoa escrever um diário, mas pode ser muito divertido! Se ele escreve em frases curtas, se são longas sem verbos, e muitas virgulas, se ele tenta rimar, enfim, estudar mesmo a forma da narrativa, porque conteúdo todos nós temos o jeito de jogar pra fora, é que torna o que se diz proveitoso ou não rs, mas são só pitacos! Sinta-se muito a vontade para não seguir nenhum e me contar depois como você solucionou a vontade de narrativa. Rs

Anônimo disse...

tentarei ser mais sucinta nos meus comentários, estou dizendo mais para mim do que a você, rs