segunda-feira, 22 de março de 2010

No jardim da filosofia (II): Martelo e sua crítica

Martelo, por sua vez, lança seus espinhos na direção da verdade, especialmente atacando o centro propulsor da subsistência da aura de legitimidade do jardim, a chamada Física do andar Superior (metafísica). Essa física levara no bico todas as plantas do jardim, fazendo-as crer na necessidade constante da durabilidade (se é durável, é verdadeiro), e na busca por aquilo que tem raízes, o que é permanente. Conhecendo as raízes, diriam os caules da Física do andar superior, poderia se conhecer a árvore. Assim, todo o solo (história) desse jardim foi marcado pela busca daquilo que é (enraizado) em detrimento daquilo que muda (a própria vida).

Eis um dos espinhos lançados por martelo contra a planta do esclarecimento: o espinho da mudança. Toda a argumentação da planta do esclarecimento girava em torno de um ideal de flor (de sujeito), que seria a flor do esclarecimento. Essa flor, pelo uso correto de sua seiva, e pelo bom manuseamento da devida organização, poderia chegar até a árvore do conhecimento, que lhe entrega nas mãos as chaves do jardim e, por sua vez, o conhecimento da verdade.

Martelo, em resposta, desbanca todo esse papo de flor ideal e verdade como sendo uma grande terrível mentira. A diferença, para essa rosa, entre a beleza e a organização era de que a primeira mente, sem esconder que mente; já a segunda, também mente, mas chama a sua mentira de verdade.

Dessa maneira, Martelo irá atacar a noção de verdade como sendo o mais mentiroso artifício criado pela Física do andar superior, que, num primeiro momento, havia sido aniquilada pela denúncia ao desejo de levar as plantas até o Deus Girassol, mas que, num segundo momento, declarara sua independência deste, por meio do domínio da seiva poderosa, que por sua vez fora transformada também num deus. A grande martelada nessa física, bem como nas pretensões da planta do esclarecimento, foi o lançamento do mais afiado espinho: a declaração de morte ao Deus Girassol, que na verdade era uma declaração de morte aos fundamentos do solo, como sendo enganosos.

Assim, a verdade pretendida, nada mais era do que um monte de folhas e galhos que caem da árvore do conhecimento, cada uma fragmentária e contendo apenas uma parte da realidade expressa por essa árvore. E a noção de flor – essa independente e verdadeira – seria apenas uma ficção criada pela planta do esclarecimento para reforçar sua pretensão ao absoluto.

O solo do jardim entra em erosão... Nada foi igual após o brotar da rosa martelo e seus muitos espinhos. A própria idéia de jardim seria transformada com as posteriores mudanças no solo. Nada é cíclico, nada se repete, tudo se transforma - já vi essa idéia em algum lugar! O solo é mudança, e o jardim, metamorfose ambulante.

Jonathan

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