quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pós-modernidade (3): O erro da suficiência e a suficiência do erro

Um dos erros da vida acadêmica hoje é o de continuarmos sendo modernos no sentido de buscar a suficiência e evitar o erro a todo custo, como se ele fosse o câncer da ciência. Pelo contrário, o câncer da ciência se chama sufi-ciência! É quando o cientista ou intelectual pensa que a ciência tem todas as respostas e é capaz de tudo e mais um pouco. Essa falsa assunção é (foi) sua ruína. Pois o erro não é defeito, mas é a condição de continuidade e processualidade da ciência, pois “ciência sem erro é dogma”, afirma Pedro Demo, e mais: “A renovação do conhecimento é diretamente proporcional a presença do erro”.[1]

Por isso é que eu digo que esse negócio de não querer ter mais razão, juízo, certeza ou religião não é tudo o que se pode dizer sobre a pós-modernidade. A diferença não está exatamente no conteúdo, mas na forma. O pós-moderno faz uso da razão, constrói juízos e até admite algumas certezas, porém, reconhecendo os limites de sua razão, a provisoriedade de seus juízos e as dúvidas presentes mesmo em suas certezas.

Além disso, é também uma caricatura dizer que o pós-moderno “de carteirinha”, como diz McLaren, não crê na verdade absoluta. Ele não duvida da existência de uma verdade absoluta lá fora, mas de nossa capacidade de apreendê-la, codificar numa linguagem e transmitir a outras pessoas e fazê-las compreender de uma maneira “absolutamente exata”. O problema deles não é a verdade absoluta, mas o conhecimento absoluto[2].

Para finalizar, duas contribuições de Paulo me chamam a atenção. A primeira está em 1Co 13.12:

“Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido”. Em outra tradução (The Message) se diz: “Apenas conhecemos uma porção da verdade, e o que dizemos sobre Deus é sempre incompleto. Mas quando o Completo chegar, nossas incompletudes serão canceladas”. Faz sentido isso para você? Pois para mim faz muito sentido...

A outra contribuição paulina está em Fp 3.12: “Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado”. Essa é uma afirmação tremendamente Cristã, de humildade, honestidade e inquietação: Eu ainda não terminei, ainda não estou acabado, não cheguei à reta final. E porque eu não me considero um expert nesse negócio, olho para frente e sigo adiante, procurando aquilo que ainda me aguarda.

Esses exemplos me ajudam a entender um pouco mais a pós-modernidade (ou pelo menos uma faceta dela), que me recorda de uma grande lição: que a incompletude não é a minha tragédia (ainda que possa parecer), mas o caminho para a liberdade e dependência de Deus, atributo indispensável da vida, mais ainda da vida cristã.
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Jonathan

Notas
[1] DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1995, p. 53.
[2] MCLAREN, Brian. A igreja do outro lado. Brasília: Palavra, 2008, p. 234.

Um comentário:

Thiago disse...

"A incompletude não é uma tragédia".


Muito boa essa série sobre pós-modernidade. Já recomendada a outros decadentes.

abraços