terça-feira, 10 de novembro de 2009

A vontade de Deus

Paulo disse que é santa, perfeita e é agradável... Bem, não necessariamente aos nossos olhos, e este é um ponto controverso dessa vontade. Queremos que ela seja de fato agradável, mas isso em nossa vã compreensão significa, na maioria das vezes, ser agradável conforme nosso ego e sua pluriversidade perversa de desejos. Ela é agradável, sim, mas no sentido do Bem conforme Deus, que realmente vê e quer o melhor para nós. E nós, queremos o melhor de Deus, ou o nosso melhor “de Deus”? Difícil aporia. Muitas vezes, na prática, eu fico com a segunda sentença.
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Conhecer a vontade de Deus implica em ser íntimo Dele, para ser íntimo dela. E ser íntimo (amigo) Dele, é preciso conhecê-lo em Sua Palavra. E mais do que isso: é preciso fazer o que nela Ele manda, como disse Jesus: “Vocês serão meus amigos, se fizerem o que eu lhes ordeno” (Jo 15.14). Enquanto isso, por outro lado, fazemos da vontade de Deus o centro de nossas neuroses religiosas, na ânsia de querer viver “no centro da sua vontade”, quando esse tal centro (que não sabemos bem qual é), na verdade, passa ao largo, visto que ao largo passamos de sua Palavra.
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O grande “mistério” é que nem tudo sobre a vontade divina é mistério. Boa parte dela foi revelada. Assim, embebidos de sua Palavra, estaremos embebidos de sua vontade, ainda que sempre de modo incompleto, até que vejamos como somos visto, e a incompletude seja anulada.
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Mas a questão também vai além do saber, o que me remete de novo a Jesus, em sua oração no Getsêmani: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”. Ele só pôde pensar em rejeitar o cálice de Deus por conhecer o que beber dele implica. Assim, o enigma de Jesus, para além do conhecimento que se possui da vontade do Pai, pode se resumir na pergunta: o que nos capacita a cumprir essa vontade? De onde virá a afirmação: todavia, não como eu quero, mas como tu queres?
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Não penso que seja de um lugar de coragem, pensamento positivo, força de vontade ou heroísmo, do tipo “Chuck Norris Gospel”. Mas de um lugar de vulnerabilidade, dependência e intimidade com o “Abba”, que nos consola e nos dá força e graça para não sermos guiados apenas pelos sentimentos (“o seguirei até a morte” ou “afasta-o de mim”), mas pela convicção espiritual do caminho certo. Assim, que possamos entrar numa comunhão tão profunda na qual não exista outro caminho senão o da honestidade, e que possamos, como Jesus, num misto de coragem e vulnerabilidade, orar ao Pai: contudo, não a minha, mas a sua vontade seja feita!

Jonathan

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