terça-feira, 18 de agosto de 2009

Teologia no limear entre Seminário e Igreja (II)

1.
Falamos em reforma de nossas percepções, programas e estratégias. Contudo, volto à questão de Edgar Morin e pergunto: como reformar nossa maneira de fazer e pensar teologia sem reivindicar para a igreja semelhante reforma? E como reivindicar isso sem confrontação direta e indireta de sua história e práticas?
2.
“Bater em igreja”, como se fez e de certo modo ainda se tem feito está longe de ser uma solução coerente e plausível. Na verdade, se tornou um recurso desmantelado e muito infeliz, quando foge em muito da perspectiva de edificação. Desta feita, haveria uma postura mediana, que conjugue confrontação com cooperação? Eu creio que sim. Podemos continuar confrontando a igreja, quando ela sai dos trilhos, mas não porque a detestamos e sim porque a amamos. Podemos continuar confrontando na perspectiva de sermos não demolidores (pois essa é a posição mais fácil) e sim cooperadores construtivos, pois, parafraseando Jürgen Moltmann, aprende-se teologia no diálogo, na confrontação e na cooperação.
3.
Por fim, diminuir as distâncias – tarefa que se constitui num desafio e, porque não, numa arte – implica em mudar nossa visão conceitual e prática da teologia para que a igreja, aos poucos, possa também mudar a sua. Teologia não é assunto e nem matéria apenas para profissionais. Teologia é uma tarefa de todo o povo de Deus, ao passo que, com diria Gustavo Gutiérrez, em todo crente há um esboço de teologia, quando cada um dá significado à sua fé e vida pessoal e comunitária com Deus.
4.
Assim, nosso esforço como instituição teológica deve estar em mostrar à igreja que teologia é uma tarefa também dela. Trata-se da recuperação da visão de uma teologia laica, que se dirige aos leigos e também parte deles, quando esses são motivados a verem a si mesmo como teólogos, pois só assim, por meio de um renovado valor ao fazer teológico disciplinado, eles poderão ser mais fiéis a Deus por meio de sua Palavra. Como reitera Moltmann, “todos os cristãos, quer jovens ou velhos, quer mulheres ou homens, que crêem e fazem alguma reflexão sobre isso, são teólogos” ("Experiências de reflexão teológica", p. 23).
Jonathan

Um comentário:

Robinson J. De Souza (Roberas) disse...

Belo texto Jon, mas um dos fatores, que a meu ver, constituem para esse distanciamento é a própria falta de objetivos educacionais nas instituições teológicas. Ensina-se, ou tentam, uma teologia conteudista que não faz a ponte entre a realidade sócio-cultural das igrejas e até mesmo do mundo. Assim, é inevitável que a Igreja, objetivo também do fazer teológico, incluindo acima dela o Reino, finalidade última desse fazer, não consiga compreender que esse ferramental na verdade é parte integrante de toda a nossa reflexão e ação cristã.

Se continuarmos, e aqui falo como instituição teológica, defendendo uma ‘pedagogia’ monástica, ou seja, de enclausuramento em torres de marfins com todas as nossas elucubrações acerca do sexo dos anjos, ou de onde Deus estava antes de criar o mundo, a teologia continuará em seu status pela ótica do nosso ‘cliente’, a igreja, como você mesmo disse no primeiro post, e agora eu utilizo de uma paráfrase, como: ‘anti-todas-as-coisas-da-vida-diária-da-igreja-e-de-seu-contexto’.

É um labor muito difícil este, mas quem disse que iria ser fácil...

Abraço fraterno

Robinson (Roberas)
www.servodecristo.org.br