segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Teologia no limear entre Seminário e Igreja (I)

Fui convidado a me juntar a um processo coletivo de reflexão sobre como diminuir uma suposta distância existente entre Seminário (ou Faculdades de Teologia) e Igreja. Minha preocupação sobre a referida distância se dá a partir da teologia, isto é, em pensar a teologia como um elemento (não ocasional) que se faz, bem ou mal, presente entre essas duas instâncias e sobre cujo papel e relevância precisamos repensar. A breve reflexão que segue é a parte final do texto que apresentei na Reunião Pedagógica da Faculdade Teológica Sul Americana.

A mesma relação de aproximação-distanciamento que pensamos aqui entre seminário e igreja, Edgar Morin pensa em termos de escola e sociedade. Para ele, essa relação remonta a uma recorrência: “a sociedade produz a escola, que produz a sociedade”. E assim ele conclui: “Qualquer intervenção que modifique um de seus termos tende a provocar uma modificação na outra”. Poderíamos, ao modo desse autor, também afirmar que, até certo ponto, a igreja produz o seminário, que, por sua vez, produz a igreja? ("A cabeça bem feita", p. 101).

Se sim, podemos pensar essa tórrida relação de amizade e às vezes de estranhamento entre o seminário e a Igreja como um processo de troca. No meio está a teologia, como um produto inerente dessa troca. Ela não é fruto nem do isolamento, nem da fusão, mas da permanente tensão entre aquilo que se faz na igreja e o que se faz no seminário. Não haveria assunto para professores, teólogos e estudantes nos diferentes fóruns da academia, não fosse a presença viva e, bem ou mal, atuante da igreja em suas múltiplas facetas.

A insipidez das reflexões teológicas por um lado, e a aparente aversão da igreja pelas modalidades do pensar teológico, por outro, têm feito a igreja aos poucos passar do status de entidade filo-teológica (amiga da teologia) para anti-teológica (inimiga da teologia). Diminuir essa distância que paulatinamente se foi criando, implica em enxergar essa “crise” quem sabe como uma via de mão dupla, com ambos, seminário e igreja, assumindo o devido ônus e responsabilidades específicas por se chegar a esse ponto.

Mas como requerer isso da igreja (nossa desejável parceira e “cliente”) sem pensar seriamente na questão que ela tem nos feito: por que e em que nós precisamos de vocês? Nesse momento pelo menos, as modificações na mentalidade e prática da igreja são quem têm nos levado a modificar a nossa, e bem pouco o contrário. Mas talvez seja esse um movimento necessário para que o contrário também volte a acontecer, ou não?

A questão é que, por mais adaptados que estejamos a ela e suas demandas, os estudantes que ingressam num ambiente acadêmico sério como pretendemos que seja o nosso, ingressam para, inevitavelmente ou como fruto natural do processo, sofrer modificações que sob ou fora de nosso controle podem ser para o bem ou para o mal dessa tentativa sublime de reaproximação. Nesse sentido, ainda que não queiramos conflito com a igreja, acabamos arranjando problemas à medida que modificamos algumas cosmovisões dos estudantes; queremos que eles sejam “homens e mulheres” da igreja, mas sendo antes de tudo do e para o reino. E quem garante que as igrejas hoje querem servir ao reino? Queremos que elas sirvam, e por isso muitas vezes as confrontamos.

(Continua...)

Jonathan

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