quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sexo é bom demais (I)

Fui convidado pelo grupo de jovens de minha comunidade para ser um dos interlocutores de uma discussão sobre esse tema: "Sexo é bom". Gostei do convite, da participação, e especialmente da premissa de afirmação que está explícita no tema escolhido: "é bom". Isso, pois durante muito tempo o demiurgo (deus menor) de Platão continuou a ser afirmado por nós, cristãos, todas as vezes que relegamos o corpo, a matéria, a um plano de inferioridade em relação à alma, ao mundo ideal, perfeito, à santidade, e assim por diante.

Nossa idéia de perfeição cristã esteve e, em muitos casos, ainda está associada com uma vida "fora" ou de negação do corpo e do mundo. Daí, começar uma discussão sobre sexo afirmando sua qualidade de bondade e benção, não somente é um empreendimento ousado como mais do que necessário à igreja, que em pleno século XXI ainda se vê às voltas com casos como o da proibição de camisinhas pelo Papa, excomunhão, repressão e outros processos de de-formação ainda vigentes, isso, paradoxalmente, em meio a um mundo cada vez mais "cabeça aberta" para uma série de questões e pluralístico. Eis algumas de minhas contribuições ao debate:

Deus nos fez seres corpóreos. O corpo é parte da criação que Deus disse ser “boa”. Dizer que o corpo é ruim, inferior à alma, mau, é coisa platônica. “O cristianismo é um platonismo para o povo” (F. Nietzsche). Deus nos criou igualmente corpos sexuados. A sexualidade não é um fruto da queda, é parte do plano original de Deus (Gn 2.24-25). Se o corpo e o sexo são bons, isso significa que o prazer também é bom. Gozar é de Deus! Mas com a queda, as coisas que originalmente eram boas foram corrompidas pelo pecado. Não a coisa em si, mas o uso que dela se faz. A lei de Deus, por sua vez, veio para coibir o “mau uso” da coisa em si. Mas o pecado também fez com que fizéssemos um “mau uso” da lei, que deveria servir à vida, mas acabou militando contra ela.

Logo, o que era para coibir o mau uso, acabou coibindo a coisa em si, pelo fato de não conseguirmos, por nós mesmos, vencer o mau uso (Rm 7). O pecado (outro ser que em nós habita), desse modo, provou-se mais forte que a própria lei. Assim, Deus se fez lei em nosso lugar (Cristo) e carregou nosso fardo. Passamos, assim, a viver pela graça. A graça não é a negação e nem o fim do pecado, é a redenção do pecador – “A minha graça te basta”! Assim, a graça é essa dádiva de Deus, única capaz de conduzir-nos de novo ao bom uso daquilo que ele declarou bom – o sexo.

(continua no outro post).

Jonathan

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