quinta-feira, 2 de abril de 2009

As tradições, o Evangelho (I)

Ler: Marcos 7.1-13
1.
A fama de Jesus já havia percorrido toda a região da Galiléia, palco de seu ministério nesse momento. As pessoas o reconheciam por onde quer que ele andasse. Prova disso está em sua passagem por Genesaré (Mc 6.53-56). Mal descera do barco com os discípulos e as pessoas já o reconheciam, o cercavam, tocavam nele, traziam os doentes e enfermos, pediam para que os deixasse tocar nele, mesmo que fosse apenas a franja de sua veste, para que ficassem curados.
2.
Por conseguinte, a vinda dos fariseus e escribas a seu encontro, num momento posterior, como relata o texto acima indicado, não me parece gratuita ou desproposital. Eles já sabiam muito bem quem era Jesus e o que ele representava. De cara, Marcos aponta certa predisposição desses em identificar possíveis falhas que pudessem desabonar a reputação de Jesus e de seu bando. Marcos descreve algumas características que permeavam a vida desses mestres da Lei e determinavam seus “absolutos” (v. 3-5). A religiosidade desses homens era marcada pelo rito, pela cerimônia e pela obediência às tradições dos antigos. Essas tradições eram transmitidas de geração em geração. Eram absolutos, “verdades” dogmáticas defendidas a pulso de aço.
3.
Todavia, embora esses “absolutos” fossem tomados como leis divinas, poucos correspondiam, de fato, ao que a Lei preceituava, e muitos, aliás, anulavam a própria palavra de Deus. Esses homens eram mestres da palavra, mas seus absolutos não eram os absolutos de Deus. Essa foi a denúncia de Jesus. De modo análogo, penso que isso ocorre com muitos de nossos “irmãos” hoje. Algumas idéias que percorrem o meio cristão com “cara” de verdade absoluta de Deus, são, na realidade, “absolutas perversões” em relação ao que a Palavra diz. São verdades-mentira; só servem como manutenção de uma ordem que há muito tempo deixou de ser divina (se é que um dia o foi), não passando de convenções, “signos de rebanho” (como diria Nietzsche), com a finalidade de controle das pessoas e subsistência das instituições e seus “cargos”, que mais parecem “encargos”.
4.
Longe estão de ser absolutos de Deus, mas artimanhas, tanto daqueles que pensam poder receber mais fazendo muito mais para Deus (enquanto só fazem para si e satisfazem apenas a si mesmos), quanto daqueles (os líderes do rebanho) os quais, por torpe ganância, abusam do poder conferido por seu posto e fazem perecer mental e espiritualmente os pequeninos a quem o Senhor quis dar o reino, enquanto eles 'triunfam" em suas abomináveis formas de espiritualidade e santidade. Transformaram o ministério do sacrifício de Cristo num antro de banalidades. Como diria o profeta Jeremias, "até os profetas não passam de vento, porque a palavra não está com eles, as suas ameaças se cumprirão contra eles mesmos" (Jr 5.13).
5.
O único caminho para esses é o de converterem-se de seus maus caminhos e passar a viver íntegra, honesta e livremente em Jesus Cristo, sendo sinceros consigo mesmos, com as outras pessoas e com Deus, sobre qualquer matéria, e em especial, as da fé. Costumamos dizer: “Deus tenha misericórdia dessas pessoas” (mais?), como se Ele agisse pautado por “pena”. Não! A misericórdia (o não recebimento do castigo que merecíamos) não se existe sem a justiça (a retidão que nos cabe). Não servimos a um Deus indulgente à moda humana, que sente “dó” da gente, mas, sim, a um Deus justo, que faz justiça, e o faz pautado no amor e na graça (o favor que não merecemos), derramando sua misericórdia a quem quer enquanto aplica a justiça. Não suportaríamos caso sobre nós pesasse apenas a justiça, pois longe estamos de ser “justos” por nossos próprios esforços.

(Continua...)
Jonathan

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