quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sobre transgredir a si mesmo (I)

Transgredir é o ato de quebrar as regras, as normas estabelecidas, de transpassar o ato contínuo, obediente, impensado, de rebanho; é a força motriz que nos impele a sair do conforto, a não se acomodar com o status quo, a contestar certos valores, a aprender a receber jubilosamente tanto os presentes e dádivas como os golpes e até marretadas da vida.
Escrever é transgredir! A escrita, para mim, é um espécie de divã, um lugar da permissão para transgredir a mim mesmo. E, como disse certo professor, o que é a transgressão senão a transgressão de si? Ora, transgredir o outro é uma prática comum, corriqueira e, de certo modo, confortável. O desconforto gerado pela transgressão deve ir além daquele que o outro pode sentir, mas o que eu me permito sofrer ao transgredir a mim mesmo. Sem desconforto e dor, não há crescimento.
Transgredir a si mesmo implica em escancarar as portas de nosso eu, retirar todas as máscaras, desfazer-se de toda e qualquer postura cênica e ser, assim, franco consigo mesmo, dando respostas honestas a perguntas honestas, como diria Francis Schaeffer. É colocar-se sob suspeita constante, suprimindo o medo paralisante frente aos possíveis resultados da suspeita. Esses últimos dias têm sido dias em que tenho me colocado sob suspeita, e questionado muitas de minhas motivações, escolhas, sentimentos, pensamentos, posturas. Até que ponto posso afirmar que sou aquilo que tenho tentado demonstrar/provar ser, a mim mesmo e aos outros? O quanto de dissimulação há em minhas palavras? Quais são as motivações escondidas por trás daquele modo de pensar?
Começo a perceber que esse transgredir vai muito além de ser honesto ao ponto de admitir sem reservas quem somos. É preciso também encarar-se de frente. É uma luta em frente ao espelho, todos os dias. E uma luta pra não terminar como Narciso: sozinho e emocionalmente entorpecido perante a própria imagem.
Jonathan

2 comentários:

Robinson J. De Souza (Roberas) disse...

"sem desconforto e dor não há crescimento".
Jon, tal frase me fez lembrar daquela outra frase usada no filme do Nietzsche, lembra?

abração

ótimo texto

Tânia Marques disse...

Excelente o teu texto. Se me permitires, quero levá-lo para um dos meus oito blogs, obviamente com todos os créditos para ti.
http://pelodesejoeprazerdeescrever.blogspot.com

Beijossssss