quarta-feira, 7 de maio de 2008

A espiritualidade da honestidade

É muito difícil unir piedade e razão, especialmente quando estamos muito envoltos por esse ambiente racional da academia. Para mim é sempre um desafio de vida: amar tanto a Deus, quanto eu acho que sei a respeito Dele, porque sei que ele está interessado no meu amor, não tanto no meu conhecimento. Ambos precisam vir juntos, embora seja pelo amor que Ele me alcançou e me alcança sempre, seja através de um gesto, uma oração, um cântico, a palavra de alguém, as coisas simples da vida, a leitura de um livro...
Enfim, Henri Nouwen tem me ajudado muito a ler a bíblia, meus relacionamentos e a vida com outros óculos. Sabe o que mais me impressiona nele? A honestidade com que trata de seus relacionamentos e as feridas e alegrias mais escondidas... Uma das leituras que me marcou foi o Diário do último ano sabático dele. Ele terminou esse diário um mês antes de morrer. Ali, ele faz confissões das mais sinceras; fala sobre diversos temas como Deus, oração, amizade, teologia, sofrimento, etc.
Duas passagens me tocaram demais, especialmente por pensar que são palavras vindas de um homem de Deus, que abençoou e continua abençoando tantas vidas, que já havia atingido um estágio de maturidade grande em sua vida (em plena velhice, 64 anos) e que, ainda assim, era capaz de reconhecer traços de imperfeição, fraqueza, dor e precocidade em seu ser; e mais, em tudo isso, conseguir enxergar um caminho para a sua redenção pessoal! É simplesmente impactante, pelo menos pra mim, que ainda sou relativamente jovem... Deixo você com as palavras do Nouwen, em 3 momentos diferentes:
Primeiro ele define oração: “A oração é a ponte entre minha vida inconsciente e consciente. Ela conecta meu pensamento com meu coração, minha vontade com minhas paixões, meu cérebro com meu estômago. A oração é a única via para deixar o Espírito vivificante de Deus penetrar todos os recantos de meu ser. É o instrumento divino de minha completude, unidade e paz interior”.
Depois ele fala sobre sua própria vida de oração: “Gosto de orar? É meu desejo orar? Reservo tempo para orar? Francamente, a resposta é ‘não’ para todas as três questões. Depois de 63 anos de vida e 38 de sacerdócio, minha oração parece tão morta quanto uma pedra. (...) A verdade é que não sinto nada de singular quando oro, se é que sinto alguma coisa. Não há emoções intensas, sensações físicas, ou visões mentais. Nenhum de meus cinco sentidos é tocado – nenhum cheiro especial, nenhum som especial, nenhuma imagem especial, tampouco algum movimento especial. Se por um bom tempo o Espírito agiu tão claramente em minha carne, agora não sinto nada. Vivi na expectativa de que a oração se tornaria mais fácil à medida que eu envelhecesse e me aproximasse da morte. Mas parece estar acontecendo o contrário. As palavras escuridão e aridez parecem ser as melhores para descrever minha oração hoje”.
Por fim, uma confissão marcante: “O que fazer com essa ferida interior que é tão sensível e começa a sangrar de novo? É uma ferida tão familiar. Está comigo há tantos anos. Não acho que esta ferida – essa enorme necessidade de afeição e esse enorme medo de rejeição – vá sumir um dia. Ela está aqui para ficar, mas talvez por uma boa razão. Talvez seja uma passagem para minha salvação, uma porta para a glória, e uma transição para a liberdade!”.
Que essas palavras ajudem você, leitor(a), a se encontrar honestamente na fé, como têm me ajudado.
Jonathan
*Imagem: Rembrant - Auto-Retrato

2 comentários:

Robinson J. De Souza (Roberas) disse...

Brother Jon...essas palavras do Diário são tão bonitas que estão no limite da santidade e humanidade...caraca meu irmão, muito bom mesmo!

abraço

Jonathan Menezes disse...

É mano, quem dera a igreja fosse contagiada por essa mesma santidade-humanidade, que escancara e humilha o ser, a fim de lá na frente encontrar a própria redenção... sonho com uma igreja mais viva, porque mais humana... mas sinto que estamos um tanto longe disso.
Valeu,
Jon.