quarta-feira, 3 de julho de 2013

As palavras e o silêncio

Emudecer-se, calar-se... deixar que as vozes de dentro não se misturem e não se confundam às demais vozes e aos muitos ruídos do cotidiano. Até porque, quando elas se misturam demais (e esse é o risco o tempo todo), podem não passar de meros... ruídos!

Zacarias, marido de Isabel e pai de João Batista, ficou forçosamente mudo por certo tempo. Seu ceticismo o incapacitou de enxergar a boa nova saltitante ao seu redor como gazela no cio; as vozes de sua descrença e de seu materialismo, por um momento, falaram mais alto que as da esperança, e precisaram ser caladas para que, quem sabe, esta última pudesse, de novo, ter alguma voz e no ser fazer morada.

Eis a magia de seu período de silêncio: quando enfim ele voltou a falar, com o nascimento de seu filho João, seus lábios proferiram beleza, exultação no espírito, louvor, sabedoria... Palavras cheias da graça e do poder de Deus. Palavras que acertaram o alvo, o mote, a base de tudo: a vida!

Tenho a impressão de que quanto mais nossas palavras nascem da agitação, mais elas tendem a falhar na pontaria, a se perder no meio de outras, e não produzir nada além de ruídos, barulho que ensurdece os ouvidos e não toca o coração, a não ser para machucar. Quando, porém, se fazem filhas do silêncio, da escuta atenta, da revisão, da reflexão e da oração (mesmo sem discurso), as palavras não são simplesmente jogadas ao vento, mas são simbióticas, misturam-se com a vida, produzem vida.

Honestamente, amigos e amigas, sinto que preciso também, como Zacarias, me calar por um tempo, ou antes que o tempo não me silencie de vez e nada mais possa ser dito, para o bem ou para o mal. Sim, pois a palavra humana é encharcada da ambiguidade e do paradoxo próprios de ser humano, que todos reconhecemos de pronto quando olhamos direta e crucialmente para dentro. Por essa razão, seu encontro com a Palavra de Deus é um milagre, quando há lastro a ser preenchido pelo Espírito, razão pela qual precisamos do silêncio como lugar de visitação perene, pois, no silêncio nossa palavras podem engravidar do Espírito e, pelo Espírito, ser gerada com, e para gerar, vida.

Espero, assim, no silêncio reencontrar sentido e razão próprios ao meu falar, já gasto e enfraquecido, em parte pela agitação e em arte pela descrença, para não residir permanentemente na casa do descrédito. Pois tenho aprendido que o falar, por si só, é um ato vazio; que quem muito fala, como diria minha avó, corre o risco de “falar pelos cotovelos”, ou seja, de falar e não dizer coisa alguma. A palavra certa no tempo certo, contudo, “é como a jóia feita por encomenda” (Pv 25.11): pode ser recebida como dádiva, e repartida com gratidão.

(Imagem: "The sounds of silence", by Skierscott)

Jonathan

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