quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Uma rápida sobre a experiência da escrita

Escrever Lispector

Um historiador é tanto mais útil quanto mais livre -- Peter Gay

A escrita, associada a esse campo de possibilidades, que é a pesquisa, é uma aventura fascinante cujo fim é indeterminado e imprevisível. Tentar eliminar um certo grau de indeterminação intrínseco à natureza da escrita, é uma forma de empobrecê-la, de retirar-lhe a liberdade. É isto que a academia faz, muitas vezes, ao impor o lado metódico (“científico”) sobre a criatividade. A metodologia deve estar à serviço da criatividade do escritor/pesquisador, e não o contrário.

No "academicismo", o problema não é a falta de critérios de interpretação, é o transbordamento e a canonização dos critérios (ou seja, a presença excessiva ou obsessiva deles). A solução não está, a meu ver, na abolição de todo e qualquer critério no empreendimento da escrita ou nos empreendimentos científicos. Todos adotam algum critério para representar a realidade pretendida (mesmo que inconscientemente). Uma solução, talvez, seja a des-mecanização da metodologia da pesquisa  e da escrita - o que implica não em ser menos criterioso (cuidadoso com o que e como fala), mas menos bitolado na aplicação exagerada de certos critérios. Isso mata a liberdade de pensar e, como tal, de escrever, ao mesmo tempo em que aniquila a fome pela leitura.

A escrita que se resume à terceirização – notas de rodapé técnicas sobre o que outros já fizeram e como aplicaram as regras consagradas que sua ciência celebra – é, no mínimo, entediante e desinteressante. Textos que "arrastam" leitores, em geral, são aqueles permeados pela personalidade e pensamento próprios de seu escritor, e de uma experiência com a qual o leitor possa se identificar. A objetividade é uma pretensão cansativa.

Jonathan

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