segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Antes... (Parte I)


A música "epitáfio", dos Titãs (2001) é apropriada pra uma reflexão sobre o sentido da vida. "Epitáfio" nada mais é que aquela inscrição da lapide do túmulo no cemitério. Geralmente ali se escreve aquilo que a pessoa foi, uma qualidade dela. Ex: 'Ana, esposa fiel, mãe dedicada, mulher irrepreensível'.
A música, porém, inverte isso e apresenta uma lista de coisas que a pessoa queria ter feito, mas não fez. Em suma, é como se ela dissesse: "eu queria ter vivido melhor, curtido intensamente os momentos singulares da vida... mas não fiz". É uma linda canção, que fala de ideais de vida possíveis, mas de um lugar de impossibilidade: o instante da morte. Embora tratemos a morte com extrema recusa, estranhamento e medo muitas vezes, ela tem uma função pedagógica: lembrar-nos sobre como temos vivido e que valor damos à vida, às pessoas que amamos. Podemos dizer que ela é uma espécie de companheira onipresente, que a gente tem certeza que mais hora, menos hora, vai dar as caras. Que ela vem é algo certo, quando ela vem é que não sabemos.
A poesia dos Titãs, porém, chama atenção a dois problemas pelo menos. Primeiro, mostra que, nos últimos instantes de vida, quando não há mais nada a ser feito, alguém lamenta o que poderia ter sido feito, mas não foi ou não fez. Segundo, afirma que "o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído". O acaso – que diz respeito a coisas que acontecem sem causa, sem razão aparente – não escolhe a quem vai atingir, nem tampouco tem protegidos. Se tudo depender do acaso, então minha vida está nas mãos daquilo que há de mais incerto e implacável. É isso que a gente quer: deixar para que, no Epitáfio, lamentemos a decisão que podemos tomar hoje – de viver e tentar fazer a coisa certa? Entregaremos nosso destino ao acaso e deixaremos “a vida nos levar”?
Agora vamos a Eclesiastes (12:1-7) para ver o que mais pode ser dito sobre isso. Gostaria de destacar algumas máximas que sobressaem neste texto:
1. Lembrar
Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e se aproximem os anos em que você dirá: ‘Não tenho satisfação neles” (12.1).
Em outra tradução se diz "honre e aproveite" seu criador enquanto se é jovem... Por que a juventude? Talvez porque seja uma fase em que mais avulta a pretensão a auto-suficiência do ser humano. Pense em um jovem adolescente, descobrindo um universo de coisas novas sobre si, sobre o mundo... Mas pense também em um jovem adulto, entre seus 25-35 anos, sentindo-se dono de sua vida, vivendo como se aquele vigor fosse durar para sempre, gozando de sua própria produção, como quem faz tudo acontecer por si mesmo. O que ele poderia querer com o Criador?
Mas, a dura realidade (ou a boa notícia, exceto para a geração “Peter Pan” da vida) é que ninguém será jovem para sempre. A juventude e a primavera da vida são vaidade (passageiras/ transitórias/ passam como um vento), diz o questionador de Eclesiastes. Então o conselho é: “Aproveite o máximo dessa vida, viva intensamente, siga os impulsos do teu coração. Mas saiba que não vai passar batido, e você vai prestar contas ao Criador sobre cada pedacinho do que viveu” (ver Ec 11.9-10). Vejam que o autor não é contra o prazer e a felicidade. Não é contra aproveitar a vida – afinal, Deus é o inventor e mantenedor disso tudo, não é? A questão me parece ser a de como aproveitamos a vida? E sem uma relação de amor ao Criador e tudo o que Ele fez, resta perguntar: o que fica disso tudo que temos vivido?

(Continua...)

Jonathan

Um comentário:

Quênia Damata disse...

Gostei muito! Estou ansiosa pela continuação. Parabéns pelo blog.