terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sobre verdade em um sentido (cristão) pós-moderno

Afirmar que nosso conhecimento não é capaz de “dar conta”, de deter a verdade ou alcançar a verdade objetiva, não significa dizer que “não existe mais uma verdade absoluta”, e sim que não pode haver uma visão (humana) absoluta da verdade. Alguns dirão que sim, ela existe, outros dirão que não, porém, não está na boca do pós-moderno (se está, ele não pode ser assim considerado) o determinar se há ou não há uma verdade “lá fora”.

Alguém que se autodenomina pós-moderno pode, por exemplo, não crer na existência de Deus, porém não poderá dizer (porque é incapaz de provar, e nem estaria preocupado em “provar” coisa alguma) que Deus não existe (isso é coisa dos modernos ateus). Se há uma virtude nos pós-modernos, pelo menos assim vejo, é o não julgar ou achincalhar a experiência e crenças alheias em detrimento das suas. Acho que isso é algo que podemos aprender com eles (ou alguns deles), sem deixar de crer e viver o Cristo-verdade, nem tentar impor isto aos outros como alguns de nossos irmãos ainda o fazem, consciente ou inconscientemente.

Vivemos, penso eu, em uma tensão: a de afirmar com a vida e com o discurso que “Cristo é a verdade” e, ao mesmo tempo, não sermos capazes de conter essa verdade em nossas declarações. Isto significa que, uma coisa é a Verdade (Cristo), outra é o que falamos sobre ela e como a entendemos. Tentar igualar as duas é render-se a uma das mais comuns tentações do saber, que Friedrich Nietzsche chamou de “igualação do não igual” ou identificação do não idêntico. Significa assassinar a própria verdade – e aí sou obrigado a concordar com Nietzsche: muitas vezes, “nós matamos Deus”.

Assumir, por outro lado, as limitações de nossa “fala sobre a verdade” não significa abrir mão dela ou dizer que ela não existe, mas implica em assumir, como Paulo o fez, que “em parte conhecemos e em parte profetizamos”. E é uma benção que sejamos, pensemos e saibamos assim, parcialmente. Precisamos, sem medo, mas com “temor e tremor”, assumir a coragem de ser como somos e de ser “como uma parte”, sobre a qual falou Paul Tillich em seu livro “A coragem de ser”. Para tanto, porém, é necessário abrir mão de algumas coisas, a começar pelo “orgulho de ser”, de saber, de possuir a verdade. Não contenho (e nem poderia possuir) a verdade. Quero, pela graça de Deus, estar contido nela...

Jonathan

9 comentários:

Robinson J. De Souza (Roberas) disse...

Jon,

em sua introdução você começa falando sobre a verdade em seu sentido que é tratado-pesquisado no que chamamos de pós-moderno (semântica – “verdade objetiva”, “verdade absoluta”, “visão (humana) absoluta da verdade”, “uma verdade ‘lá fora’”).

Na seqüência fala sobre a não preocupação do pós-moderno em crer, ou não (afirmar o contrário), acerca da existência de Deus (subjetivismo – “a verdade é individual, cada sujeito tem a sua verdade”).

Até aqui é tranqüilo até porque a verdade só é objetiva quando é tratada em âmbito que podemos considerar como “de consenso” – ex. um relógio é um relógio aqui e na China... ponto! Isso é uma verdade absoluta e existe um acordo geral sobre isso... agora qual o fim que daremos ao relógio, ai sim é individual-verdade pra cada um.

Mas ai vem uma questão que nos leva para a discussão: se não existe um consenso quanto ao que é verdade, pois cada um tem a sua, e mesmo considerando o que você nos diz que: (paráfrase) “se há uma virtude nos pós-modernos, que é o que você enxerga, é o de não julgar as crenças do outro para favorecimento e estabelecimento da nossa verdade”. Verdade essa que você intitulou-migrou no final da estrofe como “Cristo-Verdade” que alguns ‘irmãos’ devem aprender a não impor (cruz e espada) aos outros.

Mas se nesse âmbito de fé não existe absoluto, pois Deus-Cristo-E.S. não é consenso para muçulmano, Judeu, ateu (moderno) etc., não seria a própria citação de Nietzsche – “igualação do não igual” – uma anulação para sua ‘tentativa’ (aqui estou senso bem respeitoso) de convergir os conceitos de verdade que são antagônicos?

Baseado nisso, quando você diz que não podemos, pela tensão, conter a verdade do discurso >Cristo é a verdade< não estaria misturando as verdades antagônicas? (Verdade em seu sentido filosófico com a verdade em seu sentido teológico – “Tentar igualar as duas é render-se a uma das mais comuns tentações do saber, que Friedrich Nietzsche chamou de “igualação do não igual” ou identificação do não idêntico”).

A sua última estrofe é perfeitamente construída, não que as outras não tenham sido, mas esta última arrematou e aplicou teologicamente as conseqüências do que deve ser perseguido para a verdade bíblica. Assim, para se falar acerca da “verdade em um sentido (cristão) pós-moderno” – conforme sua chamada - ela não deveria ser somente bíblico-teológico em sua vivência e prática?, pois o cristão - não o ‘meia boca’, mas o Radical (Stott) - inserido na contemporaneidade pós-moderna deve sim ser dialogal (e não esculhambador do outro) para ser social, mas não pode abrir mão da verdade que o move, ou deveria mover, pois conforme o “velho Hodge” disse; “a verdade é aquilo em que a realidade corresponde exatamente ao que é manifesto. Deus é veraz, porque realmente é o que ele realmente declara ser; porque ele é o que nos ordena crer que é; (...) a verdade de Deus, portanto, é o fundamento de todo o conhecimento”

Portanto, será que o ‘ensino de alguns’ pós-modernos acerca da prática da verdade, que aparentemente é um conceito “bacana” (As Escrituras já falam de respeito ao próximo), não deseja sutilmente manipular e se sobrepor à verdade que não faz parte de sua semântica?

Num sentido pós-moderno: “ACHO” que é isso, Jon!

Abraço mano.

Anônimo disse...

Pensar a Igreja de nosso tempo nos remete a uma tarefa realmente humilde, de respeito ao outro e sua relação com a verdade.

Ao passo que também ocorre uma necessidade de "ruptura" e "transgressão" com a mentalidade moderna clássica. E eu diria, não tendo muita certeza de acerto, mas dizendo daquilo que vejo e sinto, que um dos vicios da mentalidade moderna que precisa ser rompida e transgredida é o amor ao tradicionalismo.

Sim, havia um amor ao tradicional na era medieval, porém no século XIX e XX já podemos observar um amor desmedido ao "nobre pensar moderno" e suas escolas do saber.

A coisa fica ainda mais feia ao meu ver e sentir, com relação as tradições teológicas tomadas por sentimentos tradicionalistas que beiram ao partidário, e fazem delas dogmáticas e axiomáticas. Amando o pensamento original de suas comunidades históricas querem reviver o pensamento teológico em suas práticas passadas no presente, acreditando piedosamente que o "tradicional" supera o "novo".

Temos de concordar que o tradicional em certos aspectos conservam algo de nobre e virtuoso, todavia é o apego a ele, que torna o tradicional em tradicionalismo, que produzindo um certo tipo de pensamento, e através dele uma atitude, faz de sua mensagem algo irrelevante, beirando a loucura de querer fazer importante para nossos dias algo que deixou de ser importante a muito tempo.

Imagine algo como o telégrafo que foi tão importante para a comunição no passado, ser reivindicado a ser tornar o melhor e único meio de comunição a partir do presente mundo nosso de cada dia. Todavia, ainda se apegam a teologias clássicas como base para a vida eclesiástica do presente não considerando o movimento progressivo da história.

A Igreja do futuro precisará de uma nova mentalidade, pois o que esta posto não é mais uma batalha dualista de fé x razão ou natureza e graça, mas sim o "encontro ao outro em amor".

A dogmatica do futuro é o relacional. Pois é em pessoas humanas, o único lugar que se pode verificar o manifestar do Reino de Deus.

ERICK MORAES

Anônimo disse...

O mano, coloca meu blog ai como parceiro... http://espiritualidade alternativa.blogspot.com
valeu.
O seu já esta no meu...

Erick Moraes

Jonathan Menezes disse...

Boas intervenções, amigos! Tentarei respondê-las em um próximo post. E Erick, seu blog já está lá!
Abraços!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...
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Ana disse...

Oi Jonathan!
gostei muito desse post! Eu compartilho da admiração por essa característica pós-moderna: “não julgar ou achincalhar a experiência e crenças alheias em detrimento das suas. [...] algo que podemos aprender com eles (ou alguns deles), sem deixar de crer e viver o Cristo-verdade, nem tentar impor isto aos outros como alguns de nossos irmãos ainda o fazem, consciente ou inconscientemente”.
A minha incógnita é: então como vou evangelizar? Ultimamente tenho tentado de um modo mais fluído, interessando-me pelas pessoas, contando sobre minha experiência com Deus... Bem, fica minha pergunta (e talvez sugestão para outro(s) post(s)) “evangelização pós-moderna, ou na pós-modernidade”.

Ana disse...

ah! tb gostei bastante qd vc disse: "as limitações de nossa “fala sobre a verdade” não significa abrir mão dela ou dizer que ela não existe, mas implica em assumir, Paulo o fez, que “em parte conhecemos e em parte profetizamos”".
É o que tem sustentado a minha fé mts vezes, nas peregrinações por aulas e livros pós-modernos na universidade: a ideia dita por Anselmo de Cantuária: "fides quaerens intellectum" - "fé em busca de entendimento" :)

Jonathan Menezes disse...

Ana,
grato por seus comentários! Estou escrevendo mais 2 posts em resposta às perguntas de Robinson. Vou ver se consigo escrever mais um, sobre este tema tão relevante que você coloca.
Valeu!
Jonathan