quinta-feira, 1 de julho de 2010

A difícil tarefa de perdoar (III)

Em terceiro lugar, precisamos reconhecer quem é o outro nessa história

Nínive, que já não mais existia quando essa história foi escrita, é símbolo da cidade má e opressora... É lugar dos degredados, dos maliciosos, dos “sem-Deus”. Os ninivitas eram, aos olhos de Jonas, indignos do perdão divino, merecedores da condenação e morte ("nossa justiça"). Nosso sentimento em relação ao outro, que nos ofende (nossos ninivitas), pode demonstrar o que desejamos de Deus: que castigue, condene, faça justiça (histórias que ouvimos por aí).

Nessa história, a justiça divina identifica o pecado (Jonas 1.2), mas não condena Nínive. O Deus que perdoa condena o pecado, desejando libertar o pecador. Nossa postura é inversa: não conseguimos separar; a pessoa é igual ao seu pecado.

A tendência humana é reconhecer o outro pelo que ele faz; o que ele faz, é o que ele é. Aí entra o confronto com o olhar divino. Enquanto Jonas vê pecadores indignos e imperdoáveis, Deus vê 120 mil pessoas que não sabem distinguir o certo do errado (Jonas 4.11). Então, o que as pessoas fazem pode ser apenas um lado do que elas são. Quem sabe o lado que seu eu ferido, acuado, amedrontado, cego, infeliz, abusado, permite mostrar.

Posso, então, me despertar para o fato de que o outro também é amado e perdoado por Deus; de que sou pecador e indigno tanto quanto ele; que, se a justiça implacável tivesse de ser implantada, não seria somente ao outro, mas a mim. Não há um justo sequer na terra, que pratique o bem e não peque (Ec 7.20). Como eu, o outro também enfrenta a difícil tarefa de perdoar; todos têm dificuldades, alguns menos, outros mais... E que, o que mesmo Deus faz ao ofendido, também faz ao ofensor: perdoar e nos convidar a fazer o mesmo. Justiça e perdão em Deus não estão separados.

Algumas breves implicações:

1. Se perdoar é uma atividade complexa, não se cobre tanto, nem ao outro, uma resposta imediata. Dizer “eu te perdôo”, pode ser simples, o perdão nem sempre...

2. Quando você não tiver forças pra liberar perdão, apenas disponha-se, e deixe Deus cuidar do processo de cura e cicatrização das feridas que ficaram...

3. Não espere que o tempo volte, e nem que o outro mude para você mudar. Entrar no programa de perdão divino é uma decisão pessoal; o risco e o preço é todo seu.

4. Se não podemos apagar o que passou, podemos pedir auxílio a Deus para nos ajudar a tratar do que ficou daquilo que passou, e crer que o poder de consolo do Consolador vai gerar o poder de cura e perdão em nossas vidas. Que Deus nos abençoe e não permita que a gente desista de entrar no seu programa de perdão.

Jonathan

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