Uma coisa que me intriga em “nosso” mundo de intelectuais e acadêmicos é a arrogância. Não que isto me seja estranho, de modo nenhum, é compreensível, uma vez que estamos lidando com o conhecimento – e o saber é companheiro do poder. Mas o que me encabula é como as pessoas tendem a se enganar com autoengrandecimento, às vezes por tão pouco: um título, uma posição, um cargo, um artigo ou um livro (sim, isto é muito pouco, embora nesse métier seja "o que conta" para muitos).
Neste universo sem sentido, conheço intelectuais e professores renomados e brilhantes, ou apenas brilhantes e competentes, mas não renomados, que procuram demonstrar pouca jactância em relação ao que conquistaram em suas trajetórias, que não pisam nos demais (colegas, discípulos ou aduladores/ admiradores) por causa disso. Pelo contrário, são generosos, humildes e íntegros a maior parte do tempo; alegram-se visivelmente com o sucesso dos outros, e não apenas com o seu, e até contribuem para isso. Conhecem-se o bastante para diferenciar o precioso do vil – afinal, quem é "é", e não precisa ficar alardeando sua persona em outdoor.
Por outro lado, também conheço outros que, por muito pouco (muito pouco mesmo - pouca competência, brilhantismo ou renome), ocupando posições de poder em maior ou menor grau, se transfiguram em seres tão arrogantes a ponto de se acharem superiores, donos da verdade, "último biscoito do pacote". Raramente assentem e se regozijam com o sucesso alheio – a não ser aquele que lhes interessa diretamente – e, para piorar, ainda fazem de tudo para desqualificar aqueles que representam (mesmo que em seu mundo imaginário) uma ameaça direta a sua "excelência" (até pela falta dela, talvez).
Considerando que isso é tão comum, a arrogância e o orgulho acabam sendo ferramentas de sobrevivência: ou se tem e se joga com as cartas que estão sobre a mesa, ou não se tem (ou se evita) e sofre uma espécie de bullying quase corporativo por ser "diferente". A grande questão, para mim, é: onde pensam esses intelectuais que chegarão com esta atitude? Que espécie de discípulos formarão? Que frutos permanecerão, mesmo a após a morte? Cada vez estou mais convencido, com o Pregador, que tudo isto é vaidade de vaidades e correr atrás do vento. Ou seja, nada disso faz sentido!
Então, para mim o caminho, embora árduo, é simples: melhor o anonimato que a fama barata; antes a integridade que a busca insana por reputação; melhor é ser estímulo, exemplo e voz dissonante (como diz a canção do Teatro Mágico) aos poucos que ainda têm ouvidos para ouvir, que gozar de adulações, aplausos e curtidas sem substância de uma grande plateia – a mesma que te derrubará quando preciso for. Estou consciente, porém, de que em toda preferência há um gesto de orgulho; e, em toda deferência, uma pitada de vaidade. Melhor, talvez, seja não se julgar superior em nada, nem em sua aparente inferioridade ou humildade. Porque o orgulho pode ser inimigo da humildade, mas um pouco de humildade autorreconhecida pode ser apenas mais um passo para a arrogância e o orgulho. No fim das contas, então, o espanto inicial de cada um deve ser diante daquele/a que encaramos diariamente em frente ao espelho, perguntando-se com honestidade: que diabo de intelectual (ou de pessoa) sou eu?
Jonathan
Um comentário:
Caro professor Jonathan, como vai?
Primeiro quero registrar que sinto falta de ler seus textos e sugestões de leitura no curso EaD da FTSA.
Bom, com relação ao assunto do post, sinto diariamente a questão da arrogância acadêmica e, de fato vejo o dia todo pessoas que se sentem superiores por acharem que suas linhas de pesquisa são mais importantes que as demais, ou que seu artigo foi citado por uma quantidade maior de pessoas, ou ainda porque tem uma produção técnico-científica considerável.
Por tão pouco, as pessoas desprezam as outras.
Sempre imaginei que na universidade o ambiente de trabalho seria tranquilo, sem rusgas e disputas, mas ao contrário, como você mesmo disse no texto, o conhecimento anda próximo ao poder, logo as pessoas se sente superpoderosas por julgarem ter mais conhecimento que outras.
Encontrei na universidade um ambiente de disputa contínua, disputa por ser o "professor que mais reprova", professor com mais orientações de mestrado ou doutorado, professor com cargo de direção mais importante, enfim, encontrei um ambiente, onde a profissão de professor perde sua essência e torna o homem um troglodita, mesmo tendo ele títulos e mais títulos.
Trabalho há sete anos como técnico de laboratório didático e sempre sonhei lecionar na universidade, mas ao conviver neste ambiente tão hostil, tem feito meu sonho morrer a cada dia.
Mas o que mata é pensar, como alguém que estudou tanto, conhece tanto, tem tantas informações ainda não percebeu que não é nada frente ao universo? Que é desprezível frente a Graça redentora do Pai?
Como alguém que se dedica aos estudos, aprende o quão complexa é a vida, a natureza, as relações humanas ainda pode ter uma imagem tão distorcida de si e se achar grande, quando se é menos que um grão de areia frente ao oceano?
Mas como você também disse em seu texto e, percebo aqui também, ainda bem que existem os que fogem dos holofotes, os que trabalham sem a necessidade de serem reconhecidos, trabalham pensando na promoção humana. Graças sejam dadas ao Senhor porque ainda existem pessoas que são capazes de reconhecer sua pequenez e ainda sabem o valor de olhar para o lado e ensinar os outros a caminhar.
Imagino que o meio acadêmico deva ter sempre sido assim, tão cheio de podridão, arrogância, etc...
Chega a ser paradoxal este cenário, pois pequenas pessoas que aprendem uma pequena ponta da imensidão do universo se acham mais infinito que Ele, se sentem PHDeuses...
Pena, conhecem a informação, mas desconhecem a formação humana. Aprendem tanto, mas embrutecem-se demais a cada dia...
Questiono-me se realmente essas pessoas tão cheias de si ao olhar o espelho pela manhã conseguem ver realmente quem são, ou se tem apenas um reflexo distorcido de um personagem que elas lutam diariamente para se auto convencerem de que aquele personagem é real.
Um abraço!
Glauber
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