sexta-feira, 1 de abril de 2011

#Nouwen: Casamento entre teologia e espiritualidade


Muitos textos que escrevi no blog até hoje foram sobre ou baseados em Henri Nouwen. Intencionalmente, porém, usarei o marcador #Nouwen daqui para frente para textos nos quais estiver em franco diálogo com ele, até como forma de compartilhar com vocês as reflexões e discussões que temos realizado em nosso grupo de leitura da obra desse fascinante escritor.

################

Todos fazem teologia (consciente ou inconscientemente) quando refletem sobre e dão significado ao exercício de sua fé (dádiva) em seus múltiplos contextos. E minha defesa particular, nesse sentido, é a de que devemos continuar fazendo isto, só de que de modo consciente, maduro e bem orientado.

Em uma de suas mais celebradas obras, intitulada originalmente “In the name of Jesus”, mas traduzida ao português como “O perfil do líder cristão no século XXI” (Atos, 2002), Henri Nouwen defende que somente uma “intensa reflexão teológica” poderá nos fazer “discernir, com senso crítico, para onde estamos sendo guiados. O preço de se viver sem uma sólida reflexão teológica é o de que os futuros líderes “serão pouco mais do que pseudo-psicólogos, pseudo-sociólogos e pseudo-assistentes sociais” .

Eis um trecho do pensamento do autor sobre tal processo:

Os líderes cristãos do futuro precisam ser teólogos, pessoas que conhecem o coração de Deus e são treinadas – através da oração, do estudo e da análise detalhada – a manifestar o supremo evento da obra redentora de Deus no meio dos inúmeros eventos aparentemente casuais de sua época. Reflexão teológica é refletir sobre as dolorosas realidades de todo dia e sobre as positivas também, com a mente de Jesus, para assim despertar a consciência humana para a percepção da suave orientação de Deus em nosso interior (p. 57).

A conclusão óbvia deste raciocínio de Nouwen, em consonância com o pensamento de Kierkegaard - de que "não há verdadeiro autoconhecimento sem o conhecimento de Deus ou [sem estar diante] de Deus" - me parece ser a de que, se não é possível desenvolver um conhecimento razoável de quem somos (a disciplina do autoconhecimento) sem estar diante de Deus disposto a conhecê-lo, então, de igual modo, estar diante de Deus disposto a conhecê-lo e perceber a “suave orientação” de seu Espírito em nós mesmos também não é possível sem uma séria e dedicada reflexão teológica.

Para tanto, ainda segundo ele, os discípulos, discipuladores e líderes do futuro precisam atravessar o mar vermelho das desconfianças e preconceitos relacionados à reflexão (sobretudo a teológica) e se engajar critica e abertamente nesta tarefa a partir de seu próprio lugar social e ministerial. Paralelo a isto, “muita coisa precisa acontecer nos seminários de teologia”, como afirma Nouwen. Em sua percepção, eles “precisam tornar-se centros onde as pessoas são treinadas no verdadeiro discernimento dos sinais de sua época”. E, igualmente importante, esta formação não pode envolver apenas intelecto, mas ser também segundo o autor uma “profunda formação espiritual, envolvendo a pessoa no seu todo, ou seja, o seu corpo, mente e coração”.

Em tempo: vale lembrar, por fim, o que disse Gustavo Gutiérrez, um dos mentores de Nouwen nesta percepção, em seu livro "Beber em seu próprio poço" (2000): “Uma reflexão que não ajude a viver segundo o Espírito não é uma teologia cristã. Toda autêntica teologia é uma teologia espiritual” (p. 52). Esta percepção deve recuperar, ainda que em um plano ideal, o lugar da teologia na espiritualidade cristã do dia a dia, que é o de ser orientadora crítica da vida e do discernimento da igreja em missão.

Jonathan

Nenhum comentário: