segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um canto de vitória e esperança (I)

Como entoar um cântico de vitória e esperança em meio às adversidades?

É fácil cantar cânticos de vitória quando se é vitorioso; de alegria, quando se está alegre, e de esperança, quando as coisas que esperávamos acontecer, aconteceram. Só que o mais louco e contraditório da vida cristã, vida na fé, é que por tantas vezes, e pelas mais variadas razões, somos incentivados a cantar, apesar das circunstâncias. Mas, como podemos ser honestos com a vida, com as pessoas, com Deus e com nossos próprios sentimentos diante das perdas, e ainda assim, cantar?

Temos conhecido algumas formas de se fazer isso no cristianismo atual:

(1) Uma delas, diz respeito a “cantar vitória”, porque assim fazendo, “chamamos” a vitória para o nosso lado. Esse é o canto triunfalista. Talvez um dos mais populares hoje em dia...

(2) Outra, é o que podemos chamar de canto de negação. É o canto que nega a realidade, pois nos afasta dela. É o canto que nos dá doses de ilusão, de que tudo está sob controle e vai ficar bem, mesmo que nada esteja bem e, por certo tempo, nem vá ficar bem...

(3) O terceiro canto é o canto de afirmação e aceitação jubilosa. Aqui, reconhece-se a realidade, lamenta-se por ela, contudo, a realidade, por mais dura que possa ser, não pode paralisar o canto. Porque o canto, não nega nem está apartado da realidade...

A terceira forma de ser e cantar é a que mais me parece condizer com os muitos exemplos das Escrituras. E aqui quero ilustrar com dois poetas. Ninguém melhor do que eles para nos falar nessas horas... Eugene Peterson disse que os poetas são “pastores de palavras”, pois eles lidam com respeito e reverência tanto as palavras, quanto a realidade que elas representam.

1º exemplo: o rei-poeta Davi. É um daqueles que nos lembra a integridade que devemos ter. Nossos cânticos devem ser expressão do que vivemos. Davi cantava o que vivia.

Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus? Minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, pois me perguntam o tempo todo: "Onde está o seu Deus?". Quando me lembro destas coisas choro angustiado. Pois eu costumava ir com a multidão, conduzindo a procissão à casa de Deus, com cantos de alegria e de ação de graças entre a multidão que festejava. Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus (Salmo 42.1-6).

2º exemplo: o profeta-poeta Habacuque. A situação do profeta e do povo era de escuridão. Mas seu canto é uma das mais bonitas expressões de afirmação e aceitação jubilosa.

Mesmo não florescendo a figueira, e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no SENHOR e me alegrarei no Deus da minha salvação. O SENHOR, o Soberano, é a minha força; ele faz os meus pés como os do cervo; faz-me andar em lugares altos (Habacuque 3.17-19).

Sinto que nós precisamos de um canto de afirmação: da vida, apesar da morte; da esperança, apesar do desmoronamento de expectativas; de alegria, em meio a tristezas; de vitória, não obstante as perdas.

(Continua...)

Jonathan