domingo, 4 de abril de 2010

Falar de Deus

Esse assunto, que invariavelmente surge nas aulas que ministro aqui e acolá, fez-me lembrar de Paul Tillich, que em sua “Teologia Sistemática” se indagava sobre o que faz do teólogo um Teólogo, na acepção cristã da palavra. Parece uma questão tão banal e de óbvia implicação, mas não é. Pois se a tarefa do teólogo é “falar de Deus”, Tillich chega a conclusão de que qualquer um pode, até mesmo com alto nível de habilidade e competência, exercer essa função.
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Contudo, quem é o ser humano para “falar de Deus”? O que poderia o ser humano falar sobre Deus, sem que Deus antes o tivesse “permitido”? Aí saímos de Tillich, e vamos a Karl Barth (sei que alguns mais conservadores agora podem querer me condenar por conciliar dois “opositores” do mundo da teologia), que afirmou que “só Deus pode falar de Deus”. Por derivação, podemos dizer então que o que falamos de Deus é a partir daquilo que Ele mesmo já “falou” sobre Ele, isto é, através da revelação.
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Mas a revelação não é pura e simplesmente “palavra”, apreendida apenas pelo intelecto e traduzida na linguagem, aceita como conhecimento, e sem nenhuma relação com as outras dimensões do ser humano. Aí entra a espiritualidade, que é integral, na qualidade de relacionamento, mais do que a elaboração de conceitos; não se pode “falar de Deus” simplesmente, é preciso se relacionar com Ele.
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Assim, a teologia só pode ser frutífera – se mantivermos a perspectiva de uma relação com a espiritualidade cristã – se, e somente se, estiver acompanhada de e for alimentada por uma relação viva e intensa com o Senhor, com sua Palavra, e através da oração (que pode ser o próprio viver, mais que um mero rito). E, como consequência ou simultaneamente, me fazendo abrir janelas, a partir de meu próprio ser, para o outro, para me relacionar com ele(a) em amor.
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Daí sim, vamos e devemos “falar de Deus”, não mais ou apenas como fruto de mera especulação filosófica, mas como resultado de um desejo genuíno de contar para as pessoas e cantar para o mundo as maravilhas, beleza e graça do Senhor, e que se evidenciam (não como evidência factuais, mas relacionais) na vida do servo, como mensagem de esperança para os perdidos, e oportunidade de reencontro para os pródigos...

Jonathan

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