segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

IV. A aceitação jubilosa de si mesmo

O remédio para a doença – ainda que amargo e nem sempre tão eficaz e instantâneo como um tranqüilizante narcísico – pode ser expresso pelo que Rosset chama de “aceitação jubilosa de si”, ou o que Tillich chama de “coragem de ser a despeito de não ser”, e que o apóstolo Paulo denominou “limitar seu orgulho à esfera que Deus lhe confiou” (2Co 10.13) e “viver de acordo com o que já se alcançou” (Fp 3.15-16).

Tomando de empréstimo todos esses termos, eu diria que a aceitação jubilosa de si mesmo passa por uma profunda assimilação – tão profunda que penetre não somente o intelecto, mas o âmago, as “entranhas”, como no conceito hebraico de “coração” (leb) – das tenras palavras de aceitação do Pai: “A minha graça te basta” (2Co 12.9). Parafraseando Tillich, trata-se da coragem de “aceitar a aceitação”, isto é, aceitar a nós mesmos como somos, porque assim fomos previamente aceitos pelo Pai, sem nenhum requisito mínimo.

Em outras palavras, é correr na contramão de Narciso, que reside em cada um de nós por força da natureza, e aceitar quem somos, a despeito daquilo que desejávamos ser, desencadeando-se das falsas representações e dos falsos “eus”, que nos afastam de uma relação sadia conosco mesmos e, por conseguinte, com Deus e com o próximo.

Não poderemos andar de acordo com Deus se não andarmos “de acordo com o que alcançamos”, como defendeu Paulo. Termino com uma frase de Rob Bell: “Você não poderá estar conectado com Deus enquanto não estiver em paz com quem você é, da maneira como foi feito e a vida que lhe foi dada”.

Jonathan

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