[1] Mensagem proferida em missa ecumênica de formatura da turma 56 de Medicina da UEL , em 23.01.2009, na Igreja Nossa Senhora da Auxiliadora em Londrina.
[2] http://www.psicosite.com.br/tra/ans/ansiedade.htm.
O livro "A Cabana" está tendo uma repercussão incrível, maior do que eu imaginava. Muitas pessoas têm lido esse livro e falado muito bem dele. Em breve, tudo indica que sim, teremos um longa-metragem baseado em seu enredo. Hoje encontrei no blog de Thiago Mandanha, uma entrevista com William P. Young, autor da obra. Nessa entrevista, ele fala sobre como surgiu a idéia do livro e como essa idéia sempre esteve ligada com sua vida familiar e os dramas e dores pessoais que, por anos a fio, enfrentou e carregou dentro de si.
O que mais me chamou a atenção na entrevista, foi o fato de Young ter se colocado como uma pessoa que sempre foi muito religiosa, e que por muito tempo escolheu se esconder atrás da religião. Penso que essa é uma tentação de muita gente, inclusive a minha própria: a de utilizar "Deus" e a religião como um artifício e muleta que nos ajuda a nos manter longe, mas bem longe de nossas deficiências, dores, da vida real. Quando leio "A Cabana", estendendo um pouco aqui meu comentário, tenho exatamente essa sensação, de que o autor fala com conhecimento de causa, ou seja, como alguém que viveu e se criou nas entranhas da religião, e sabe bem quais podem ser suas armadilhas, ilusões.
Gosto quando ele fala que há muitas dores nesse mundo, muitas delas, eu diria, são feridas expostas, para todo mundo ver, ainda que muitos as ignorem, outras, são mais profundas, enraizadas, imperceptíveis, e, por isso, mais cortantes e nocivas, especialmente quando fazemos de tudo para não encará-las, saber que elas existem, que são reais, estão ali, talvez jamais nos deixem, mas que, de qualquer forma, precisariam ser tratadas, de modo que pudéssemos crescer, aprender com elas, tornando-nos pessoas mais humanas, mais completas, mais maduras e mais solidárias com a condição humana em geral, a condição de nosso próximo. Todos, embora sejamos tão diferentes, somos irmãos e irmãs na dor. Sonho, pelo menos para mim, e assim faço coro com tantos outros como William Young, Brennan Manning e Henri Nouwen, que possamos encontrar a felicidade na medida em que abraçamos a vida "como ela é".
Segue a entrevista de Young. Destaque para a boa tradução e pela legenda, disponibilizadas pelo autor do blog "Tomei a pílula vermelha" (veja nos "links que recomendo").
Jonathan
Como disse Caio Fábio, "As armas dos trigos não são como as dos joios. Os joios vão na força do estelionato, das mascaras, das aparências, das imagens, do poder de controlar, e, sobretudo, da mãe de todos esses males, que é a hipocrisia. O negócio do joio é parecer e aparecer. Mas não é... O trigo, porém,precisa combater dando muito fruto, e, para tanto, não tendo medo de morrer; pois, se não morrer, fica ele só, mas se morrer, aí sim, produz muito fruto. Se os seres trigo da terra decidissem viver sem covardia, mas com poder, amor, e moderação — nenhum poder no planeta seria mais forte do que esse".
"Amar é viver na direção do próximo pagando o preço correspondente pela identificação total e sem reticências com sua necessidade. Amar é submeter-se ao propósito criador de Deus manifesto nas diferentes ordens da vida humana – é servir ao próximo de maneira concreta na família, na ordem econômica, na ordem política. Amar é impregnar a totalidade das relações com a totalidade dos homens da disposição concreta ao serviço e entrega que Deus manifesta. Amar é ingressar nas relações e exigências éticas da cultura na qual nos encontramos com a livre determinação do novo homem em Cristo e repensar e reviver essas relações e exigências na forma nova que corresponde a esse novo homem".
(José Miguez Bonino. Ama e faze o que quiseres, p. 105)
Jonathan
“A religião usa a lei para ganhar força e controlar as pessoas de que precisa para sobreviver. Eu, ao contrário, dou a capacidade de reagir e sua reação é estar livre para amar e servir em todas as situações. Por isso, cada momento é diferente, único e maravilhoso. Como sou sua capacidade de reagir livremente, tenho de estar presente em vocês. Se eu simplesmente lhes desse uma responsabilidade, não teria de estar com vocês. A responsabilidade seria uma tarefa a realizar, uma obrigação a cumprir, algo para vencer ou fracassar”.
(William P. Young. A Cabana. Sextante: 2008, p. 191).
Doentes, leprosos e todas as pessoas cuja condição dava testemunho do estado de escravo. Eram todos escravos de algo. Jesus quis estar a serviço deles e dar-lhes o que estava a seu alcance para ajudá-los. Assim fazendo, entrou em conflito com as autoridades judaicas que não compartilhavam a sua compaixão. Ele vinha para salvar as ovelhas abandonadas. Jesus sabia que sua vida, os seus atos, os seus comportamentos, as críticas recebidas e as perseguições inevitáveis seriam normativas para os discípulos, seriam o caminho a ser seguido.(José Comblin, Vocação para a liberdade, p. 40).
O Deus de Aristóteles, conforme observa José Comblin, “era o fornecedor de energia ao mundo inteiro, era o ponto de partida de todos os movimentos. Por conseguinte, era membro e parte do universo”. Dessarte, “o Deus da Bíblia foi, pouco a pouco, recoberto pelo Deus da metafísica” (Comblin, Vocação para a liberdade, p. 61, 62).
A liberdade somente existe numa grande diversidade de “liberdades” e cada uma é objeto de longas, repetidas, cansativas operações de conquista: liberdade das forças de dominação da natureza física do inconsciente, liberdade das forças políticas e econômicas múltiplas que procedem de uma história complexa e de relações mútuas entre indivíduos e grupos (...) Nossa liberdade existe nas liberdades conquistadas entre essas múltiplas relações com os outros seres humanos e com o conjunto do mundo material.
(José Comblin. "Cristãos rumo ao século XXI", p. 70,71).
3."A promoção da segurança sempre requer o sacrifício da liberdade, enquanto esta só pode ser ampliada à custa da segurança. mas segurança sem liberdade equivale a escravidão...; e a liberdade sem segurança equivale a estar perdido e abandonado (...). Essa circunstância provoca nos filósofos uma dor de cabeça sem cura conhecida. Ela também torna a vida em comum um conflito sem fim, pois a segurança sacrificada em nome da liberdade tende a ser a segurança dos outros; e a liberdade sacrificada em nome da segurança dos outros; e a liberdade sacrificada em nome da segurança tende ser a liberdade dos outros".