2. Antes
Essa é uma palavra-chave para o autor de Eclesiastes. É preciso viver intensamente, lembrando do Criador, "antes"... Antes do quê? Antes que chegue o inevitável momento da vida em que (o que segue é uma paráfrase dos versos 2-7):
... Não tenhamos mais prazer
... A luz da vida perca seu brilho e seja tomada por uma escuridão sem fim, e nossos olhos já não vejam mais
... Na velhice, nossos corpos já não nos sirvam como antes
... Não tenhamos mais força, e até mesmo aquilo que é relativamente fraco (como um gafanhoto) seja peso para nós
... Que toda aquela potência de antes se transforme em impotência e fragilidade
... E nossos amigos e família comecem a fazer planos para nosso funeral, e os "zés" e "marias" velório da vida comecem a chorar pela nossa partida "desta para melhor" (ou pior, quem sabe?).
É bom ressaltar que a velhice aqui é uma metáfora da decadência, do fim. Alguns têm essa experiência bem antes da velhice. Um acidente ou uma doença podem provocar isso. E como teremos vivido? Então, o que há para viver, o que é possível viver – ou o que o Criador espera que a gente viva – que se decida viver hoje, de preferência já, porque o amanhã não existe ainda e nem sabemos se existirá (para cada um dos viventes). Como já disse o poeta Renato Russo, "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há". O que há depois de hoje? Ora, o amanhã. A pergunta é: para quem?
3. Vaidade
Por isso, assim ele resume a nossa vida debaixo do sol: "Tudo é vaidade!". Ou seja, tudo é transitório, passageiro, superficial, futilidade pura! Há outras duas definições da vida, que se encaixam bem com essa: (a) somos um “punhado de pó” – do pós viemos, ao pó voltaremos; (b) somos como neblina, que vem e logo se dissipa (Tiago). Na mesma música antes citada, Renato Russo diz: "sou uma gota d'água, sou um grão de areia". Ou seja, somos bem menores que nossa pretensiosidade nos leva a acreditar (ou a nos auto-iludir) que somos.
Isto implica que a vida, não importa quanto tempo a gente viva, diante da eternidade, é incrivelmente curta e, como se costuma dizer, passa muito rápido. E aquilo que foi e o que passou não têm volta. Como diz outro poeta (Lulu Santos): "nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará. A vida vem em ondas como o mar, num indo e vindo infinito". Nesse sentido, cabe aqui a frase de Ed René Kivitz, em seu O livro mais mal-humorado da Bíblia (2009): "Sábio não é aquele que busca a novidade para se saciar: sábio é aquele que consegue entrar na rotina da vida e fazer as coisas repetidas como se as fizesse pela primeira vez".
Como eu leio isso tudo? A partir da perspectiva de que “sei que nada será como antes amanhã” (Milton Nascimento). Não haverá uma segunda vez para amar como eu posso fazer hoje (pelo menos não igual a esta): para perdoar, para me reconciliar, para dar atenção ao meu filho, para beijar minha esposa, para dizer e demonstrar a minha família, ao meu irmão, ao meu amigo, que eu o amo... Então, eu preciso me lembrar de fazer, na oportunidade que tiver, todas essas coisas (e outras) como se fosse a primeira vez, considerando ainda que não sei (e ninguém sabe, exceto o Criador) se, na verdade, não será a última...
Não sei quantas oportunidades Deus ainda vai me dar para eu viver me lembrando Dele, quantas “segundas chances” terei na vida. Assim, tudo o que tenho é o hoje, é o agora; o presente é o tempo da oportunidade. Portanto, há sim algo do presentismo e imediatismo de nosso tempo que precisa ser celebrado (ou reorientado). Pois, no que concerne ao futuro, não sei se será um tempo para mim, porque o futuro não pertence a mim, mas a Deus e somente a Ele. E o futuro além-do-tempo que temos em Deus (vida eterna), só tem sentido se experimentado, mesmo que em parte, já-no-tempo. E aí, o que temos para hoje?
Jonathan