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E a igreja, que deve ser instrumento de fomentação de uma espiritualidade cristã saudável – ainda que muitos entendam esse “saudável” como algo relativo – também acaba militando contra a vida todas as vezes que instiga, pela via do discipulado, da pregação e outros meios, tipos ou modelos ideais de santidade e espiritualidade baseados em exemplos não somente antiquados (para a época), mas, o que é pior, anti-humanos, que por sua vez nada têm a ver com o evangelho, cuja pregação e vivência implicam em transformação do ser, sim, só que pela via da aceitação – “vinde como estás” – e não do jugo ou da culpa.
Maior prova de aceitação divina de tudo o que somos não há senão aquela expressa pelo “está consumado” de Jesus na cruz. A santidade e espiritualidade que não provenham da assunção da cruz como vocação e aceitação da graça do “está consumado” como princípio de existência, pode estar mais perto do inferno que do céu, ao contrário do que muitas vezes se pretende.
Não estou defendendo o encobrimento de pecados, como se toda culpa fosse negativa. Porque, como adverte Paul Tillich, “ser aceito não significa que a culpa está negada”. Há, como se sabe, um nível de culpa sadio, que deve produzir arrependimento na pessoa diante de Deus. Mas há também uma falsa culpa, doentia, produzida por um senso equivocado do lugar do ser humano na economia da graça e do amor de Deus. Assim, nosso papel como igreja não passa pela condenação, muito menos pelo encobrimento; é o de ajudar uns aos outros a avançar em estatura na fé, transformando “os sentimentos de culpa deslocados, neuróticos, em genuínos, que são, por assim dizer, colocados em seu lugar certo” (Tillich, "A coragem de ser", p. 129).
Jonathan
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