Andam dizendo, e não é de hoje, que as redes sociais em geral, e especialmente o Facebook, são como “fogueiras de vaidades”. Não preciso discutir muito isso, pois é óbvio a qualquer observador/a um pouco mais atento/a. No entanto, na mesma medida em que precisamos ser recordados de certas obviedades, também precisamos aprender a desconfiar delas. A crítica é válida, mas deixa muitas perguntas honestas tais como: tem saída? É possível entrar nessa fogueira sem sair chamuscado? Quem é capaz de afirmar que sua auto-exposição nas redes, por mais contida que seja, não é fruto de vaidade? É menos vaidosa a pessoa que decide ficar de fora das redes apenas para dizer que não se rende “a esse tipo de modernidade” ou ao “universo virtual”, pois prefere as “relações reais”? Dizemos que “fulana é vaidosa”, “beltrano é narcisista”, “ciclana vive de ‘selfie’ em ‘selfie”, mas não percebemos nossa própria vaidade velada por trás até mesmo desse tipo de crítica.
Dias atrás fui “pego” (busted!) por um amigo enquanto criticava um religioso da cidade por aceitar o título de “cidadão honorário” da Câmara de Vereadores, dizendo a mim mesmo que profeta com honra não é uma coisa boa. Então esse amigo rebateu indagando: tudo bem, isso é um desses contrassensos cristãos que a gente vê todos os dias – esse camarada não é o primeiro, nem será o último –, mas será menos vaidoso/a aquele/a que porventura rejeita tal honraria, para depois contar às pessoas a respeito, que, por sua vez, dirão que ele é um autêntico crente e o aplaudirão por tal feito? Percebem a encruzilhada em que o “ser gente” e participar das coisas de gente nos coloca? De novo, há saída? Se há, certamente ela não é barata e nem fácil.
E mais, somos vaidosos até da manifestação da consciência de nossa própria vaidade e da de outras pessoas, pois, por temos a consciência ao nosso lado, fatalmente nos julgamos “mais nobres” que os outros, “espíritos livres”, como diria Nietzsche (também possuído por uma grande dose de vaidade). Como alguém, como ele, que julga ser um “espírito livre” pode ser livre? Livre de quê? Das obrigações sociais, talvez; da cobrança dos relacionamentos complicados, dos holofotes exigentes das corporações e instituições e das conhecidas opressões do “olho de Deus” expressas na religião, quem sabe. Mas de uma coisa, um simples fato da existência, esta pessoa não é livre: de si mesma. Ninguém é livre de si, e quanto mais arroga para si o fato de ser livre do devir e do dever de ser, mais escrava de si mesma ela se torna. Nunca houve expressão mais arguta e penetrante que do pregador de Eclesiastes: “Tudo é vaidade e correr atrás do vento”.
Sejamos honestos, todos gostamos e procuramos um público que nos adule, nos aplauda, reconheça e nos coloque para cima. Aturamos pouco as críticas duras, sinceras e verdadeiras. Não queremos conviver com quem é capaz de, num simples olhar, nos desmascarar. Precisamos de outra coisa, clamamos por apreciação, aceitação, controle. Nos derretemos facilmente com as curtidas, compartilhamentos e comentários que aqui e acolá pipocam em nossas “timelines”. Quem nunca escreveu nada pensando nisso? Quem nunca procurou algo polêmico, algo interessante, algo da moda, algo impactante e sensacional para compartilhar à espera de uma boa curtida? Será que somos tão bons, tão cândidos e tão originais para admitir que nada fazemos em prol de algo sem esperar nada em troca? E isso não é nenhuma demonização, é apenas uma “verdade sangrenta”.
No fim das contas, quem não se sabe ou não se vê assim, que atire a primeira pedra, pois minha vaidade está aqui, pronta pra “matar no peito” e sair jogando. Decidi cuidar de minha integridade, mesmo que isso me custe a tão valorizada reputação; não quero mais falar dos outros como se, na verdade, não estivesse olhando para o próprio espelho. Quanto mais reconheço que “nada do que é humano me é estranho”, que não há profanidade maior que a pachorra de a tudo declarar profano, mais próximo me vejo de Deus, da graça e de tudo o que é mais sagrado na vida.
Jonathan