terça-feira, 23 de junho de 2009

E se tudo terminasse com o "fim" (II)

Agora pense um pouco mais...

Porque toda essa orla terrorista e determinista de olhar para Deus, o Universo, e o “fim” de tudo, me fazem pensar: Por que devo crer num Deus que fez tudo isso e agora supostamente deseja destruir tudo? Não seria contraditório pensar que esse mesmo Deus, que no princípio disse que o que foi por ele feito “era muito bom”, e mais, que o ser humano, a quem ele entregou aquilo, as demais coisas da criação, que era boa, e a quem ele disse ser sua “imagem e semelhança”, agora é parte integrante de seu plano de, por vontade própria, aniquilar tudo, porque “tudo” saiu fora de seu propósito? Ora, mas qual é o sentido de pôr fim em algo “criado com sentido”?

Eu, particularmente, me vejo às voltas com essas questões e, olhando para minha própria vida, olhando para os efeitos da ação de Jesus Cristo nela e na vida de meus irmãos (na fé e os semelhantes) e de tantos outros antes de nós, conforme testemunha a história, não consigo pensar que haja um sentido real para isso tudo, e até mesmo para crer que existe um Deus, o amoroso arquiteto, se tudo, afinal, foi feito para “acabar”.

Que todo o amor e a beleza, que toda a alegria e celebração, que toda a dor e a tristeza, as lágrimas vertidas, os sorrisos e abraços verdadeiros, as horas de inquietação, a solidariedade no infortúnio, o custoso processo de crescimento e amadurecimento nessa grande fornalha de transformação que é a existência, as lutas, as perdas e as vitórias, tudo isso não tenha nenhum sentido de construção e razão, pelos quais aqui estamos e pelos quais num mundo melhor viveremos.

Por isso tudo, para mim, ainda crer nesse Deus, significa crer numa verdade mais profunda contida na Revelação. Verdade não toda ela acessível, pois se assim fosse não seria “Verdade”, mas verdade como convicção de uma vida vivida pela graça e na presença daquele que é a Verdade, Jesus Cristo; uma vida que só tem sentido porque ela tem “um sentido”, isto é, porque, ainda que ela, permeada por nossas obras, não seja uma “preparação linear e cumulativa da Jerusalém celeste”, parafraseando Jacques Ellul, a Jerusalém celestial não é negação, nem representa a destruição, mas a plena restauração dessa vida.

E essa plena restauração é o alvorecer da novidade, pela voz daquele que a carrega: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21.5). De modo que, para mim, pensar no “fim”, não é pensar na destruição completa, mas na consumação, na vinda plena do que é perfeito. Não é o desaparecimento de tudo o que é num “céu”, mas é a reconciliação de todas as coisas pela imersão de uma nova cidade, a Jerusalém espiritual, que desce dos céus, na antiga ordem e antiga cidade, negação da vida, mas ainda lugar que abriga, paradoxalmente, não a plena, mas um relance da expressão do Reino de Deus.

Essa vida tem um sentido!

Jonathan

(Texto escrito “ao sabor da pena”, para a aula de Novo testamento 7 – Apocalipse, ministrada aos alunos do 4ª ano de Teologia do ISBL – Centro Educacional Evangélico).

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